A tecnologia de impressão 3D representa uma revolução, com implicações nos mais diversos setores da sociedade, desde a educação à saúde, dos objetos úteis à diversão e lazer. “Ao nível tecnológico estamos na fase inicial, mas o conceito em si é extremamente poderoso. Com a impressão 3D posso desenhar uma peça e transformá-la num ficheiro virtual que envio amanhã para o Japão para o objeto ser criado no outro lado do mundo. É uma forma de democratizar o mundo real”, afirma Dário Silva, 31 anos, investigador do Instituto Superior Técnico (IST), da Universidade Técnica de Lisboa, e engenheiro aeronáutico que participa na equipa que irá lançar o primeiro satélite português.

Empresas como a Arevo, localizada em Silicon Valley, mostram as potencialidades da impressão 3D aplicada aos mais variados objetos como capacetes, carrinhos para bebés e bicicletas que podem ser impressas por 300 dólares, cerca de 255 euros. Este é um exemplo de uma startup que está a desenvolver o negócio com base nesta tecnologia e que poderá inspirar os jovens empreendedores que têm encontro marcado, entre os dias 15 de julho e 3 de agosto, no Estoril, na European Innovation Academy (EIA), que tem o apoio do Santander Universidades.

Uma das novidades da academia 2018 é a possibilidade de criar protótipos em três dimensões. A iniciativa surge em parceria com o Técnico, que vai mobilizar uma equipa e colocar à disposição dos estudantes impressoras 3D. “O objetivo é conseguir validar, do modo mais económico possível, a utilidade de um produto. Por exemplo, se o empreendedor estiver a desenvolver um novo dispositivo para administrar vacinas, com o protótipo 3D pode obter um feedback mais fiável dos enfermeiros. Este é um grande passo”, explica Luís Caldas Oliveira, doutorado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores por aquela universidade.

Para o professor o programa de três semanas da EIA é um bom exemplo de como podem ser aplicadas metodologias identificadas com o Minimum Viable Product (MVP). “O produto pode não ter as caraterísticas todas, não estar perfeito ou não ter sido feito no material final, não ter a cor certa, mas já está mais próximo da realidade e permite que o potencial cliente possa transmitir uma informação mais valiosa do que se tiver acesso apenas a uma ideia ou desenho”, acrescenta este especialista que é também membro do Conselho de Gestão do IST para o Empreendedorismo e Relações Empresariais.

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Laboratório vocacionado para a inovação e impressão 3D

A colaboração do Técnico com a EIA surge motivada pelo iStartLab, um espaço universitário vocacionado para a inovação que tem representado uma experiência de sucesso. “Criámos um laboratório especificamente só para alunos onde ensinamos a usar impressoras 3D. Eles fazem um curso de utilização, obtêm uma espécie de carta de condução de livre acesso e estão autorizados a usar o equipamento e a trazer colegas”, explica o professor Luís Caldas Oliveira.

Na mesa de trabalho do iStartLab está um pequeno mocho, feito de plástico embebido em madeira, construído com detalhe por uma das impressoras 3D. São leves, limpas e bastante silenciosas. A dimensão permitiria transportá-las facilmente para casa. Oferecem ampla liberdade de criação de objetos que podem ser personalizados à medida da imaginação de cada um. As figuras são definidas num software de modelagem 3D, que gera um ficheiro que será enviado para a impressora, que trabalha com base num filamento, que é derretido e sobreposto em camadas de modo a criar o objeto. Para concretizar os seus projetos os alunos devem ter conhecimentos de desenho em computador ou podem usar moldes pré-definidos disponibilizados na Internet.

Carros, motas, barcos, edifícios ou brinquedos nascem em 3D

A finalização do trabalho de impressão 3D pode demorar várias horas, às vezes uma noite inteira, consoante a complexidade da figura. A maioria dos alunos que utiliza o laboratório do IST são futuros engenheiros mecânicos, que gostam de construir protótipos de carros, motas ou barcos, mas o local está aberto a todos os estudantes. “É uma oportunidade para os alunos construírem objetos, não só os de mecânica, mas também por exemplo de eletrotécnica e inclusivamente de informática”, refere o professor Caldas. Por exemplo, uma caixa pode ter dentro eletrónica que incorpora software. “Muitas vezes os projetos são colaborativos entre várias áreas da engenharia. O laboratório é um ponto de reunião e atração de alunos com competências diferentes para construírem projetos muitas vezes extracurriculares”, acrescenta.

As impressoras 3D já são bastante acessíveis para quem gostava de ter uma em casa. As mais económicas custam cerca de 500 euros e valem ouro para os inventores que, no passado, demoravam horas a construir objetos manualmente em oficinas. Com esta nova tecnologia já não se ouvem os sons de serrar ou soldar.  Este equipamento é também útil por exemplo para os estudantes de arquitetura que podem imprimir maquetes de edifícios em 3D ou para pessoas que queiram construir os seus próprios objetos, como um candeeiro ou uma capa para o telemóvel. Para as crianças existem igualmente múltiplas potencialidades. “Elas podem criar os seus próprios brinquedos. Muitas vezes as crianças e jovens dos dias de hoje estão muito presos no mundo digital. E a impressora 3D consegue fazer rapidamente a ponte entre o mundo digital e o real”, explica o professor. É todo um mundo novo que nasce com esta tecnologia capaz de estimular a criatividade em todas as idades.