Father John Misty, que tocou esta quinta-feira no palco secundário do NOS Primavera Sound, no Porto, devia ter sido um dos cabeças de cartaz do primeiro dia do festival tal é a popularidade do norte-americano por cá e por todo o lado. Mas não foi isso que aconteceu, e Misty acabou por ser renegado para o palco Seat. Não que isso o tivesse impedido de dar mais um concerto sem mácula em Portugal, ainda que sem grandes conversas com o público.

Joshua Tillman (o verdadeiro nome deste padre místico) surgiu em palco já às 20h41, um quarto de hora depois do esperado. Veio acompanhado por uma vasta banda (incluindo três instrumento de sopro) e com a farpela que lhe é característica: camisa, blazer escuro e óculos de sol. Não se importou que o sol raramente se tivesse visto durante o dia. Ouviu uns gritos de adoração, atirou um “thanks very much”, pegou na guitarra acústica e começou a tocar.

O arranque fez-se ao som de “Nancy From Now On”, tema de Fear Fun, o primeiro álbum editado com o nome Father John Misty (antes tinha usado o de J. Tillman). Esta foi a primeira de duas músicas tiradas desse disco, a que só voltaria já perto do fim do concerto. Durante a atuação, optou sobretudo pelos álbuns seguintes — I Love You, Honeybear (“Chateau Lobby #4”, “Holy Shit”, “I Love You, Honeybear” e “The Ideal Husband”), Pure Comedy (“Total Entertainment Forever” e “Pure Comedy”) e o novo God’s Favourite Customer (“Disappointing Diamonds Are The Rarest of Them All”, “Mr. Tillman”, “Please Don’t Die” e “Hangout at the Gallows”).

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Menos comunicativo do que o habitual, talvez por estar de mau humor ou por não querer perder tempo depois do atraso, o cantor fez-se acompanhar por uma banda competente, que estava ali apenas para o servir. A voz de Misty erguia-se mais alto do que qualquer instrumento e os versos das músicas ouviam-se quase sílaba a sílaba, cantados sem oscilações. Joshua Tillman precia mesmo um profeta a pregar bem alto, de microfone na mão, com as luzes a iluminarem-no apenas a ele, a dança que só ele fazia (e que parecia excêntrica ou, pelo menos, deslocada), e a deixarem todos os outros no escuro.

É tudo justo, porque Misty já garantiu o seu lugar na história da boa canção americana ao saber olhar para o que o rodeia de forma crítica e satírica, criando canções de recorte clássico. No NOS Primavera Sound, ouvimo-lo desconstruir as convenções do amor, da América, da religião, do capitalismo e da cultura de entretenimento com a certeza de que tem algo de importante para dizer. É claro que do alinhamento relativamente curto (em comparação, por exemplo, com o do concerto que deu em novembro no Coliseu dos Recreios) deixou um sabor agridoce. Muitas canções de grande nível ficaram de fora. Mas os cerca de 60 minutos que passou em cima do palco chegaram para tirar algum protagonismo a Lorde.

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