O incêndio que deflagrou há um ano em Pedrógão Grande e alastrou a concelhos vizinhos provocou 66 mortos e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.

Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na EN (estrada nacional) 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos ou em acessos a esta via. Extintas passada uma semana (24 de junho), as chamas vieram, em 20 de junho, a juntar-se às do fogo que, cerca de dez minutos depois do início do incêndio no concelho de Pedrógão Grande (em Escalos Fundeiros), no interior norte do distrito de Leiria, eclodiu no município de Góis (distrito de Coimbra), em Fonte Limpa.

Cerca de 53 mil hectares de território, 20 mil hectares dos quais de floresta, sobretudo dos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, de Góis, Penela e Pampilhosa da Serra (Coimbra) e da Sertã (Castelo Branco), mas também de Alvaiázere e Ansião (Leiria), de Arganil (Coimbra) e de Oleiros (Castelo Branco), foram atingidos por estes fogos.

As chamas destruíram total ou parcialmente cerca de meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes, cerca de 200 de segunda habitação e mais de uma centena devolutas, de acordo com dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), que, por outro lado, em 3 de julho de 2017, calculava os prejuízos diretos dos fogos em 193,5 milhões de euros, prevendo mais de 303 milhões de euros para medidas de prevenção e relançamento da economia na região.

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Um ano depois, estavam concluídas ou em obra as 261 habitações. Bem diferente é a situação das segundas habitações afetadas pelas chamas, cuja recuperação continuava sem apoios, lamentavam, em declarações à agência Lusa, na terça-feira, os presidentes dos municípios de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, respetivamente, Valdemar Alves, Jorge Abreu e Alda Carvalho.

Nesse mesmo dia, contudo, o ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, disse que a linha de crédito de dez milhões de euros para os municípios usarem para apoiar a reconstrução de segundas habitações estava apenas dependente do decreto-lei de execução orçamental, para poder ser regulamentado o Orçamento do Estado.

Por outro lado, a maioria das intervenções em infraestruturas municipais estava por concluir no início deste ano e ainda só foi pago 10,8% do apoio aprovado às autarquias. Quase meia centena de empresas foram também atingidas pelas chamas, afetando os empregos de 372 pessoas. O Governo anunciou, já este mês, que vai alocar mais cinco milhões de euros para apoiar mais zonas de localização empresarial na região afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande.

As estimativas feitas pouco tempo depois dos incêndios apontavam para que os prejuízos provocados na floresta ultrapassassem os 83 milhões de euros, enquanto os danos em habitações apontavam para mais de 27,6 milhões de euros, na indústria e turismo perto de 31,2 milhões de euros e noutras atividades económicas mais de 27,5 milhões de euros.

A agricultura sofreu, de acordo com os mesmos cálculos, prejuízos na ordem dos 20 milhões de euros, valor idêntico ao estimado para os danos provocados em infraestruturas municipais, tendo a rede viária nacional ficado danificada em perto de 2,6 milhões de euros.

O fogo de Pedrógão Grande foi “muito provavelmente aquele que, em Portugal, libertou mais energia e o fez mais rapidamente (com um máximo de 4.459 hectares ardidos numa só hora), exibindo fenómenos extremos de vorticidade e de projeção de material incandescente a curta e a longa distância”, afirma o relatório da Comissão Técnica Independente (CTI), criada pela Assembleia da República, em 10 de julho, para fazer “uma avaliação independente” dos incêndios ocorridos entre 17 e 24 de junho, naqueles 11 concelhos dos distritos de Leiria, de Coimbra e de Castelo Branco.

O relatório de desempenho do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), publicado dez dias depois, no portal do Governo, indica que o número de chamadas processadas nas 16 estações-base, entre as 19h00 de 17 de junho e as 09h00 do dia seguinte, foi de 115.255, representando uma média de 8.233 chamadas por hora.

Cerca de 08% (mais de 10 mil) das 115.255 chamadas feitas nos incêndios de Pedrógão Grande, entre as 19h00 de 17 de junho e as 09h00 do dia seguinte, não foram feitas à primeira tentativa devido à saturação da rede, revelou o SIRESP.

O Conselho para a atribuição de indemnizações às vítimas dos incêndios de 15 de junho e de 17 de outubro de 2017 fixou, em final de novembro, em 70 mil euros o valor mínimo para privação de vida, valor que, no entanto, caberá à provedora de Justiça estabelecer em relação a cada um dos casos.

O processo de indemnização relativo às vítimas mortais dos incêndios de Pedrógão Grande, cujo prazo de entrega terminou a 15 de fevereiro, recebeu 65 pedidos, de acordo com a Provedora de Justiça, que recebeu, por outro lado, 57 pedidos de indemnização de feridos graves, cujo prazo de candidatura terminou em 30 de maio de 2018. As seguradoras anunciaram, em 13 de julho de 2017, que iriam pagar indemnizações no valor de 18,8 milhões de euros, depois de um “primeiro apuramento de danos”.

O Parlamento Europeu aprovou, em 30 de maio deste ano, a mobilização de 50,6 milhões de euros do Fundo de Solidariedade da União Europeia para o restabelecimento das infraestruturas danificadas pelos incêndios não só de Pedrógão Grande e Góis, mas de todos os que ocorreram em Portugal em 2017.

Em 11 de junho de 2018 eram dez os arguidos, “todas pessoas singulares”, no inquérito relacionado com os incêndios de Pedrógão Grande, de acordo com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra.