O mundo não se pode dar ao luxo de ter mais uma recessão ou um abrandamento do crescimento económico nos próximos anos, porque isso criaria as condições para o crescimento do populismo, para o protecionismo e para o regresso do nacionalismo económico, disse esta segunda-feira em Sintra o antigo secretário do Tesouro dos Estados Unidos na era Clinton, Larry Summers.

Começou esta segunda-feira mais uma edição do Fórum organizado pelo Banco Central Europeu, que junta os principais banqueiros centrais e alguns dos mais influentes economistas do mundo, com um discurso de uma das mais influentes – e provocadores – vozes do mundo económico.

Larry Summers, presidente emérito da Universidade de Harvard, foi secretário do Tesouro nos últimos anos da administração de Bill Clinton e o Diretor da equipa de conselheiros económicos de Barack Obama, fez jus à sua fama de provocador e, numa altura em que o Banco Central Europeu anunciou que vai acabar com o programa excecional de compra de dívida em dezembro (e reduzi-lo para metade logo em setembro), o economista norte-americano pediu o contrário, em primeiro lugar devido ao contexto político e económico que a economia mundial vive.

“Este não é o fórum apropriado para discutir as forças que elegeram o atual presidente dos Estados Unidos, mas é suficiente dizer que é bem mais problemático que isto tenha acontecido numa altura em que o desemprego estava nos 4% do que seria se o desemprego estivesse à volta dos 8%. Uma viragem do ciclo económico não teria outro resultado que sem ser amplificar as pressões pelo populismo, pelo protecionismo e o regresso ao nacionalismo económico”, afirmou.

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Na opinião do economista, “é extremamente urgente evitar no futuro previsível, pelo tempo que for possível, uma viragem do ciclo económico”, porque “as suas consequências excedem massivamente quaisquer consequências associadas à inflação ficar um pouco acima de 2%”.

Larry Summers defendeu a sua posição dizendo, em primeiro lugar, que o leque de ferramentas dos bancos centrais para combater uma nova recessão é ainda extremamente limitado, o que tornaria mais difícil a resposta a esta viragem do ciclo económico.

Mas o economista defendeu também que é necessário pensar de forma diferente na política monetária, nos seus objetivos e no impacto que têm. Larry Summers citou análises económicas mais recentes para demonstrar que a política monetária tem impacto em variáveis reais na economia, para além da inflação, e no mais longo prazo, apesar daquela que tem sido a doutrina mais recente.

Além disso, diz, a política monetária deve ser pensada com um objetivo mais abrangente do que aquela que era nos anos 70, por exemplo. “A realidade é que a política monetária tem impacto não apenas nas variáveis, mas também no nível de crescimento. A realidade é que uma política monetária responsável tem de reconhecer esses efeitos, e o objetivo da política monetária deve por isso ter o objetivo que todos os nossos cidadãos têm para a política monetária: estabilidade de preços sim, mas também o pleno emprego mantido o máximo possível, e esse será um desafio acrescido para nós nos próximos anos”.

O Fórum do Banco Central Europeu, que se realiza em Sintra pelo quinto ano consecutivo, começará oficialmente os trabalhos esta terça-feira, com dois dias dedicados a discutir a definição de salários e preços nas economias avançadas. O encontro tem como objetivo fugir da agenda da atualidade económica, o que significa que fora dos discursos e das discussões oficiais deverá ficar não apenas a decisão do BCE de começar a retirar estímulos às economias europeias, mas também as mais recentes tensões comerciais entre os Estados Unidos, o Canadá, a União Europeia e a China.