Enquanto meio mundo guarda lugar para ver os cabeças de cartaz do primeiro dia de Rock in Rio, outros contornam o vale da Bela Vista e exploram as mil e uma formas de entretenimento que caracterizam o festival. Roda gigante, brindes à distância de jogos e provas físicas e a já habitual EDP Rock Street, erguida como se de um cenário de baixo orçamento se tratasse. Os mais informados já sabiam como é que a ronda ia acabar mas os que partiram na ignorância em direção ao pequeno palco tropeçaram em ritmos bem mais dançantes do que os do Palco Mundo (num dia como este primeiro sábado de Rock in Rio, também não era difícil).

Este ano, ofestival dedica o palco da EDP Rock Street à música africana e inaugurar o baile com chave de ouro. Bonga, o rei da anca solta e da língua afiada, captou a atenção de centenas, cortou o trânsito e fez o seu natural e instintivo apelo à dança, aquela que coisa que muito boa gente pondera fazer depois de recolhidos os lenços e os sofás insufláveis, tiradas todas as fotografias e garantidas todas as stories até à hora de ir dormir. Aos 75 anos, o mestre continua magnético (nem o imaginamos de outra forma). “É muito complicado satisfazer os desejos de toda a gente, porque é muita fruta”, disse após as duas primeiras músicas.

(JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Das primeiras filas (se é que lhe podemos chamar isso, já que o aglomerado de gente em frente ao palco era bem mais descontraído), iam chegando pedidos. Gente a tentar pôr o carro à frente dos bois. Bonga manteve-se generoso em matéria de dicas de engate, algumas a passarem de raspão na misoginia. Ninguém pareceu incomodado — a única coisa que o público queria era que as interações do cantor angolano terminassem com mais um êxito dançante. E ele nunca desiludia, várias vezes desviando as atenções do palco para as pequenas rodas de gingões. Entre eles, havia estrangeiros, esses sim ainda num estado inicial de contágio. Em palco, as dançarinas iam entrando e saindo depois de mudarem de roupa. Bonga quis tirar o blazer e fez disso um momento. A boa forma ninguém lha tira, tendo em conta a idade.

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A hora da semba veio com aviso prévio. O problema é que a cenografia do palco não estava em linha com a sonoridade de Bonga e dos restantes artistas que por lá vão passar nos próximos dias. É que o set está muito mais alinhado com as Mil e Uma Noites do que propriamente com os ritmos quentes de África. Ainda assim, Bonga foi um sultão à altura e, enquanto o espetáculo correu, roubou as atenções às norte-americanas HAIM (bem mais aborrecidas, por sinal), que tocaram no Palco Mundo. Os grandes êxitos ficaram para o fim e quem lá estava respondeu à letra — em delírio. “Lágrima no Canto do Olho” e “Mariquinha” alegraram muita gente, mas “Comeram a fruta” alegrou muito mais, talvez por ter sido a última.

(JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

No dia em que Bonga encerrou o palco da EDP Rock Street, outros dois nomes atuaram durante a tarde. Kimi Djabaté foi o primeiro. O cantor e compositor da Guiné-Bissau dedica as letras dos seus temas às questões políticas e sociais do seu país, mas também ao quotidiano de quem lá vive. Os Tabanka Djaz vieram a seguir. O trio, também da Guiné-Bissau, atuou em representação do gumbé, género musical que nasceu na capital guineense e que, naturalmente, desafiou a coordenação motora de quem tentou, na plateia, acompanhar os acordes.

Até ao fim do Rock in Rio — que termina no próximo sábado, 30 de junho — vão passar mais nove nomes por este palco, três por dia. Neste domingo, os caboverdianos Ferro Gaita são os últimos a atuar. Antes deles, o rapper belga Baloji e o hip-hop crioulo do português Karlon vão subir ao palco. No próximo fim de semana, Moh! Kouyaté e o mestre do semba Paulo Flores são os cabeças de cartaz do EDP Rock Street, nome que, felizmente, não é para levar à letra.