Olhando para o cartaz deste sábado do Rock in Rio, as expectativas nunca poderiam ser muito altas. Os britânicos Muse, que foram desde logo apresentados como os grandes nomes deste primeiro dia, o mais fraco de todos, eram sem sombra de dúvidas o que mais interessante havia para ver num arranque onde faltavam outros pontos fortes. Não foi por isso de admirar que os concertos de Diogo Piçarra, HAIM e Bastille, que tocaram antes dos Muse no palco principal, acabassem por servir de pouco consolo. Foram uma abertura morna para o que realmente interessava (e que só chegou às 23h), que nem o fogo-de-artifício salvou.
Foi ao único nome português do cartaz deste dia que coube inaugurar o Palco Mundo, Diogo Piçarra. O espetáculo — que teve um alinhamento composto sobretudo por temas do último álbum, do=s, e do recente EP Abrigo, lançado no final de maio — teve alguns momentos e convidados especiais. Para abrir o concerto, Piçarra escolheu uma balada, “Era uma vez” (do tal Abrigo) — uma decisão estranha para um espetáculo que começou às 18h, quando ainda havia muito sol e energia de sobra.
Acompanhado por um grupo de bailarinos saltitantes, que foram aparecendo e desaparecendo ao longo da atuação com vestimentas variadas, Piçarra foi percorrendo o alinhamento. Depois da já mais animada “Já Não Falamos”, veio “Até ao Fim”, música que interpretou originalmente com Agir e que, no Rock in Rio, foi dedicada a “todos” os que o acompanham “desde o início”. “Obrigado por tudo”, agradeceu o músico antes do início do tema que integra o álbum No Fame, que Agir editou no início de maio e que apresentará neste domingo no Parque da Bela Vista.
Depois de “Paraíso”, tema que levou o cantor a pegar na guitarra pela primeira vez, o duo brasileiro Anavitória (que tocou no Music Valley, às 17h) subiu ao palco para acompanhar o cantor português em “Trevo”. Marco Rodrigues também passou por lá para interpretar “O Tempo”, canção composta por Piçarra para o fadista. O momento alto foi sem dúvida a homenagem a Zé Pedro, com uma interpretação despida de “Homem do Leme”, apenas com Diogo Piçarra no piano e uma fotografia do guitarrista dos Xutos & Pontapés, a preto e branco, como pano de fundo. “Dialeto”, o último tema, trouxe de volta os bailarinos saltitantes. Piçarra despediu-se do público com desdobrados agradecimentos e uma chuva de papelinhos que, ironicamente, fez lembrar a Eurovisão.
O “girl power” (e as caretas) das irmãs HAIM e o mau português dos Bastille
As HAIM vieram a seguir. Habituadas a festivais de grande dimensão, como o Coachella, as três irmãs mostraram-se muito à vontade no grande palco do Rock in Rio. Faladoras (à exceção da guitarrista Danielle, mais envergonhada, que pouco ou nada disse), as norte-americanas foram conversando com o público enquanto percorriam a ainda curta discografia, composta pelos álbuns Days Are Gone (2013) e Something To Tell You (2017), que as levou à estrada e a Lisboa, numa digressão que agora termina. “Falling”, “Don’t Save Me”, “My Song 5” e “The Wire” foram algumas das músicas interpretadas, mas foi “Ready For You” que arrancou o discurso mais emotivo à guitarrista e teclista Alana: “Esta é a última vez que vamos tocar esta música nos próximos tempos”, disse, admitindo estar “triste”. “Mas é especial porque a vamos partilhar com vocês!”
Foi a mesma Alana que confessou que ela e as irmãs tinham de trazer o “girl power” ao Rock in Rio. O problema é que a música das HAIM não tem grande poder. Prova disso foi o facto de não terem sido muitos aqueles que se deixaram contagiar pelo rock leve das três irmãs, à exceção de um pequeno grupo de fãs que parecia saber as músicas de cor. De maneira geral, o concerto das HAIM foi apenas um momento mais ou menos agradável que passou como tudo o resto. Mas não se pode dizer que as irmãs tenham ido para casa de mãos a abanar. O prémio de maior expressividade (as caretas e o cabelo despenteado da baixista Este tiveram grande destaque no ecrã gigante) e de simpatia é delas. E Alana soube descer aquela rampa que vai dar ao meio do público como ninguém.
As HAIM podiam não ter muitos fãs na plateia, mas não foi isso que aconteceu com os Bastille. Ainda não tinham soado os primeiros acordes no Parque da Bela Vista, e já o público gritava pelo grupo inglês, formado em 2010 pelo músico e compositor Dan Smith. Em tom de agradecimento, foi oferecido “Good Grief”, tema do álbum de 2016 Wild World.
“Obrigado!”, começou por tentar dizer, em português, Dan Smith, depois dos primeiros dois temas. “Desculpa o meu português, é uma merda”, acabou por admitir, acrescentando que, “por isso”, ia “continuar a falar em inglês”. Saltando de álbum para álbum, os Bastille deram ao público um pouco de tudo. Houve “Flaws” do Bad Blood de 2013, “Fake It” do mais recente Wild World e “World Gone Mad”, música composta no ano passado para o filme “Bright” (realizado por David Ayer) e um bocadinho mais triste do que é habitual na banda. Razão pela qual Smith a apresentou como sendo “muito, muito depressiva”. “Mas é para isso que vocês aqui estão, não é verdade?”, brincou.
Felizmente foi o único momento depressivo do concerto, que preparou o terreno para os Muse, que subiram ao palco logo a seguir. Por aquela hora (os Bastille começaram a tocar às 21h15), já o Parque da Bela Vista estava cheio, acabando com as dúvidas que o cartaz relativamente fraco tinha criado. Os portugueses gostam mesmo do Rock in Rio.