Por volta das seis da manhã, Bruno de Carvalho comentou as principais incidências da Assembleia Geral que levou à primeira destituição de sempre de um presidente do Sporting. E fez pela primeira, única e última vez: entre as constantes acusações de que foi uma “golpada” e que a reunião magna estaria cheia de ilegalidades, fechou a porta (sendo que pode sempre abrir-se uma janela com ele…) ao clube não só como dirigente mas também como associado e adepto. Os sócios decidiram, está decidido. Uma era que se pensava ir durar anos a fio foi-se desmoronando e caiu de forma retumbante nos últimos quatro meses.

Agora, o antigo líder que ocupou o cargo durante 63 meses está fora de um jogo que não pode parar. Há questões para resolver para ontem, planificações para dar ordem ao amanhã, matérias que fazem diferença no agora. Também é verdade que algumas se resolvem por si, como aconteceu com o Grupovarius, que anunciou o regresso como parceiro do clube e principal patrocinador do judo verde e branco. Mas há pelo menos cinco dossiers prementes para agarrar a curto prazo. E não foi por acaso que a Comissão de Gestão decidiu marcar uma conferência de imprensa para as 18 horas em Alvalade.

Poderão os jogadores que rescindiram voltar atrás neste cenário?

À exceção de Rui Patrício, que se comprometeu com o Wolverhampton ainda antes de qualquer sufrágio ou decisão em relação ao futuro institucional do Sporting, os restantes oito jogadores que revogaram o vínculo com os leões continuam sem clube (pelo menos que seja conhecido em termos públicos). E ao longo deste sábado, vários sportinguistas que iam falando quer no exterior do Altice Arena, quer nos vários canais televisivos, focavam de forma transversal essa necessidade de falar com William Carvalho, Gelson Martins, Bruno Fernandes, Rodrigo Battaglia, Rúben Ribeiro, Daniel Podence, Rafael Leão e Bas Dost para tentar inverter essa decisão ou, no mínimo, assegurar uma transferência que pudesse beneficiar (ou não lesar) todas as partes. Mas a dúvida, no atual cenário, é a figura para fazer isso: Augusto Inácio é o diretor geral do futebol leonino mas não se sabe ao certo se ficará ou não no futuro; Artur Torres Pereira, bem como os restantes líderes da Comissão de Gestão, não tiveram qualquer ligação com a esfera do futebol à exceção de Sousa Cintra, quando era presidente. Assim, é provável que possa surgir uma figura de “fora”, indicada pelo único elemento não executivo da SAD (da Holdimo) ou pela Comissão de Gestão.

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Quem vai ficar com a planificação da época do futebol? E Mihajlovic?

Numa das últimas intervenções públicas, Artur Torres Pereira, líder da Comissão de Gestão que ficará no comando do clube (em relação à SAD são mais as dúvidas do que as certezas), fez questão de sublinhar que Sinisa Mihajlovic não seria a sua opção e que é treinador… para já. Mas há mais questões de relevo para resolver, quando estamos a poucos dias do arranque da temporada a sério do plantel principal depois dos habituais exames médicos: como ficarão os dossiers que estavam a ser negociados, casos de Joel Obi, Fábio Coentrão ou Slimani? Quem recebe e negoceia eventuais propostas que possa aparecer para alguns dos atletas habitualmente titulares que não rescindiram, casos de Piccini, Coates ou Acuña? Quem fecha o calendário da pré-temporada e os adversários nos jogos de apresentação? Muitas vezes pouco falado mas muito relevante, quem agarra na pasta dos jogadores sem espaço em Alvalade mas que mantêm vínculo com os leões? Muitas perguntas, poucas respostas.

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Quem vai tratar dos 15 milhões que são necessários até ao final do mês?

Devido ao adiamento do novo empréstimo obrigacionista de 15 milhões de euros (o outro, com o dobro do valor, será apenas uma preocupação maior lá para o final do ano), a SAD verde e branca precisa encontrar esse valor e de uma forma que já estaria mais ou menos prevista antes de tudo isto acontecer: a venda de um ou dois jogadores do plantel principal. Seja entre os que não rescindiram, seja entre aqueles que revogaram o vínculo — um dos nove elementos que entregou a carta apresentou, pouco depois, uma proposta para sair a bem com um encaixe por valores que Bruno de Carvalho acabou por não aceitar. Aquilo que estaria previsto era apresentar publicamente o prospeto do empréstimo obrigacionista caso não tivesse havido a destituição, como houve e de forma estrondosa. E quem fica, o que fará?

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Quem fecha as últimas contratações para as modalidades?

Como é normal nesta fase do ano, os plantéis das modalidades para a próxima temporada estão 90% compostos mas existem sempre aquelas situações pendentes, seja a nível de contratações, seja no âmbito de questões logísticas nos estágios de pré-época, por exemplo. É isso que se passa no Sporting, no futsal, no voleibol ou no hóquei em patins, por exemplo. Quem irá assumir essas decisões? E como serão construídas essas pontes? No plano teórico, a Comissão de Gestão teria essa responsabilidade, mas não foi, pelo menos em termos públicos, apresentada qualquer “divisão de tarefas” entre os 11 elementos encabeçados por Artur Torres Pereira. Depois, outros dois pontos a ter em conta: 1) imaginemos que existe a possibilidade real, como se falou, de Hélder Nunes deixar o FC Porto e assinar pelo Sporting — quem assume o pagamento da cláusula de rescisão? 2) provavelmente existem jogadores já contratados e fotografados ao lado de Bruno de Carvalho — como serão feitos os anúncios?

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Quem vai fazer um novo orçamento para o clube (além de apresentar e votar)?

De acordo com os estatutos do Sporting, o orçamento para o exercício da temporada seguinte, neste caso de 2018/19, terá de ser apresentado e votado em Assembleia Geral até dia 30 de junho de cada ano. E era isso que Bruno de Carvalho estava a tentar fazer quando convocou, de uma forma ilegal à luz da decisão dos tribunais, a reunião magna de dia 17 que nunca chegou a acontecer. Agora, com a destituição dos sete elementos do Conselho Diretivo, não há ninguém para apresentar o orçamento. Um orçamento que a Comissão de Fiscalização nomeada por Marta Soares e coordenada por Henrique Monteiro reprovou, num parecer muito crítico até na forma como eram feitas as contas. Neste vazio, quem resolve o problema? E como?

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