O mundo das modalidades de pavilhão acaba por passar muitas vezes ao lado mas acaba por ter mais importância do que às vezes se possa pensar. No caso do Benfica, por exemplo, o insucesso de basquetebol, voleibol e hóquei em patins (o andebol, ficando em segundo lugar e ganhando a Taça de Portugal, cumpriu as metas neste primeiro ano de Carlos Resende) não deixou de ser criticado na última Assembleia Geral dos encarnados, com a promessa de que iria haver um reforço no investimento; no lado do Sporting, as vitórias nos Campeonatos de voleibol, andebol e hóquei em patins, bem como o maior músculo financeiro que está previsto no próximo orçamento (mais de um milhão de euros de aumento nos honorários), servem de bandeira de Bruno de Carvalho na defesa da sua posição; no polo do FC Porto, o insucesso de andebol e hóquei em patins obriga a redefinir projetos. Agora, o peso é outro: por causa do hóquei em patins, os dragões podem “atacar” o futebol dos leões.

Hélder Nunes, considerado de forma unânime como um dos melhores jogadores de hóquei em patins da atualidade (não só no plano nacional), acaba por estar no centro do caso que rebentou neste último dia de prazo que os jogadores verde e brancos de futebol têm para rescindir contrato. E, um pouco como aconteceu no futsal do clube, tudo começou após a derrota no Dragão Caixa por 5-2, numa partida a contar para a meia-final da Liga Europeia que terminou com o triunfo do FC Porto.

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No futsal, como já explicámos no Observador, houve a perceção clara por parte dos responsáveis do Sporting que o atual orçamento da modalidade era talvez até excessivo para ter uma equipa competitiva para lutar pelas competições nacionais mas demasiado curto para almejar o título da UEFA Cup, grande objetivo do clube há vários anos. Da final de 2017 para 2018 com o mesmo adversário, os espanhóis do Inter Movistar, houve um maior equilíbrio de forças (de 7-0 para 5-2), mas ainda assim o conjunto de Ricardinho foi superior em todos os capítulos. Após o encontro, começou a “operação” para, aumentando os valores para a modalidade, construir um plantel mais sólido para atacar essa meta europeia e logo com o internacional português, cinco vezes melhor do mundo, à cabeça de um plantel onde entravam internacionais brasileiros e jogadores de topo.

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No hóquei em patins, a diferença de armas para os rivais não é assim tão grande (apesar da qualidade do Reus, o Barcelona é o único conjunto capaz de se intrometer realmente entre os três grandes nacionais), como se viu na vitória por 4-3 dos leões em Alvalade frente ao FC Porto que carimbou o título 30 anos depois, mas faltava qualquer coisa. E, estando Gonzalo Romero, avançado argentino do Forte dei Marmi, “controlado”, o Sporting traçou como objetivo dois atletas de topo: um a atuar na Liga de Espanha (A Bola fala em Raul Marín), outro do no Campeonato Nacional, de seu nome Hélder Nunes, internacional português de 25 anos contratado pelos dragões ao HC Braga em 2012 que é um dos jogadores mais completos da atualidade.

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De acordo com o jornal O Jogo, Bruno de Carvalho terá explicado ao homólogo portista, Pinto da Costa, que desconhecia por completo essa possibilidade de contratar o capitão dos azuis e brancos. No entanto, era sabido do interesse em assegurar esse pilar para montar uma equipa que lutasse pela Liga Europeia, neste caso sem beliscar o rival: há alguns meses que se fala num pré-acordo de Hélder Nunes com o Barcelona (que passará a contar na próxima temporada com outros português, João Rodrigues, ex-Benfica) para 2019 e a ideia passaria por tentar negociar com os dragões para que fossem compensados pela saída de um dos jogadores mais importantes da equipa. Essa conversa nunca chegou a ter lugar (provavelmente, e depois das notícias desta quinta-feira, nem terá), havendo apenas uma abordagem sem qualquer tipo de valor em cima da mesa, de um elemento verde e branco com o jogador para perceber a disponibilidade para se mudar para Lisboa num vínculo de longa duração, mas foi suficiente para o FC Porto se sentir “beliscado” no pacto de não agressão com o Sporting.

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Assim, a retaliação poderá ser servida através do futebol. Apesar de não terem existido contactos entre a estrutura do FC Porto e os jogadores do Sporting que decidiram avançar com a rescisão de contrato como clube este Verão (Pinto da Costa chegou mesmo a referir que não iria cometer tal “traição”, ao contrário da vontade manifestada pelo Benfica através de Luís Filipe Vieira), esta espécie de “incidente diplomático” poderá mudar o cenário, com dois alvos em causa: por um lado, Bruno Fernandes, grande revelação do último Campeonato que ainda para mais tem raízes no Porto; por outro, Rui Patrício, elemento que o líder dos azuis e brancos sempre teve na melhor conta, um pouco como João Moutinho, que era capitão do Sporting mas foi por mais do que uma vez elogiado no Dragão (até que acabou mesmo por mudar-se para lá). O cenário ainda está longe de tornar-se uma realidade, mas a verdade é que o Sporting enfrenta mais um problema na ziguezagueante equação de tentar manter aqueles que são os maiores ativos do plantel principal da equipa de futebol.

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