Boris Johnson demitiu-se do governo britânico, liderado por Theresa May, em desacordo com a estratégia da primeira-ministra para a saída da União Europeia. A saída do agora ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, ex-mayor de Londres e um dos rostos mais conhecidos da campanha pelo Brexit, surge poucas horas depois de também David Davis, ministro do Brexit, ter abandonado o cargo (acompanhado pelo seu adjunto).

A demissão de Boris Johnson, há muito um crítico de algumas posições assumidas por Theresa May no processo de saída da União Europeia, não é totalmente inesperada. Johnson insurgiu-se contra o acordo obtido por Theresa May na sexta-feira, dentro do partido conservador — um acordo que os maiores defensores do Brexit estão a criticar por ser um Brexit “só no papel”. Na opinião de Boris Johnson, apresentar aquele acordo junto de um eleitorado que votou pela saída da União Europeia seria como “tentar polir fezes”, uma expressão que segundo a imprensa terá sido usada várias vezes pelo responsável.

Tomando alguns dias para analisar o conteúdo do acordo, e na sequência da saída de David Davis, também Boris Johnson terá concluído que não estava disponível para executar o plano.

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A saída de Boris Johnson reforça a especulação em torno da sobrevivência do próprio governo conservador, liderado por Theresa May, que pode sofrer um moção de censura a qualquer momento. A imprensa britânica está a colocar em cima da mesa um cenário em que o próprio Boris Johnson surge como possível candidato ao lugar de primeiro-ministro, caso Theresa May não resista, o que corresponderia a uma mudança de governo a menos de nove meses da data marcada para a saída da UE (março de 2019).

Ministro do Brexit, David Davis, bate com a porta a nove meses da saída da UE

O acordo obtido por May é visto por vários deputados pró-Brexit como “Brexit suave”, o que também se pode traduzir por “Brexit mole” (Soft Brexit), já que o Reino Unido se propõe, por exemplo, aplicar taxas aduaneiras sobre um bem mas posteriormente devolver a quantia cobrada à UE se os bens fossem destinados a um dos 27 países que vão permanecer na comunidade europeia após o Brexit. Em outras matérias, o acordo também é visto como uma versão muito diluída daquilo que se acredita ter sido o desejo da maioria dos britânicos no referendo de 2016, como na liberdade de movimentos e nas trocas de serviços.