Em 1899, nove homens juntaram-se em Piemonte, no norte de Itália, para fundar a Fabbrica Italiana Automobili Torino – que é como quem diz, a FIAT. Entre esses nove homens estava Giovanni Agnelli, um empresário da pequena cidade de Villar Perosa. Depois de terminar os estudos e ingressar na carreira militar, Giovanni interessou-se por um novo projeto de uma “carruagem sem cavalos”. Quando lhe perguntaram se queria investir, não hesitou.
Giovanni Agnelli, filho do presidente da câmara de Villar Perosa, foi o início da dinastia dos Agnelli. Conhecidos como “os Kennedy de Itália”, são uma das famílias mais importantes e influentes do país do sul da Europa, tanto ao nível empresarial como no cerne do jet-set. Os Agnelli são detentores de quase 30% do grupo FIAT, que por vez inclui marcas como a Ferrari (que é gerida de forma independente, e por isso a família detém 23% da marca do cavalinho), a Abarth, a Alfa Romeo, a Lancia e a Maserati. Em 2009, a FIAT comprou o grupo Chrysler – pelo que passaram a deter as marcas Chrysler, Dodge e Jeep.
Mas se a ligação ao setor automóvel começou cedo e se desdobrou nas últimas décadas, existe um vínculo que se mantém intocável desde 1923. Nesse ano, a FIAT adquiriu o clube de futebol Juventus. Ou seja, a família Agnelli é a nova chefe de Cristiano Ronaldo.
Desde que os Agnelli são donos do clube de Turim, por lá passaram quatro presidentes da própria família: Edoardo, entre 1923 e 1925, Gianni, entre 1947 e 1954, Umberto, pai do atual presidente, entre 1955 e 1962, e agora Andrea, desde 2010. Foi Andrea Agnelli quem, esta terça-feira, embarcou num jato privado, a partir do aeroporto de Pisa, rumo ao sul da Grécia, para se reunir com Cristiano Ronaldo.
Andrea assumiu a presidência do clube depois do pior momento da história da Juventus. Em 2006, rebentou o escândalo de corrupção que envolvia o clube de Turim num esquema de suborno a árbitros e futebolistas adversários. A Juventus foi despromovida para a segunda divisão italiana e perdeu os scudettos conquistados em 2005 e 2006, com o treinador Fabio Capello. O então presidente, Luciano Moggi, foi destituído e Andrea Agnelli arregaçou as mangas, rodeou-se de dirigentes que já tinha passado pelo clube e devolveu a glória de outros tempos à Juventus.
Além do regresso à Serie A, dos sete títulos italianos consecutivos, das duas finais europeias em três anos (ainda que ambas perdidas), Andrea Agnelli é responsável pela construção do Juventus Stadium – conhecido por Allianz Stadium por motivos comerciais -, o que torna o clube de Turim o único emblema italiano que possui o próprio estádio.
Atualmente, grande parte dos destinos da família é controlada por John Elkann, trisneto de Giovanni Agnelli. O presidente da FIAT e CEO da Exor, a empresa de investimento através da qual os Agnelli controlam financeiramente a maioria dos negócios, foi escolhido pelo avô Gianni para comandar e chefiar as operações da família quando tinha apenas 21 anos. O irmão mais novo, Lapo, é responsável pela quota parte de escândalos que coloca o apelido Agnelli nas capas das revistas cor de rosa italianas.
Depois de trabalhar enquanto assistente pessoal de Henry Kissinger e nos departamentos de marketing da Maserati e da Ferrari, Lapo acabou por ser mesmo promovido a diretor de marketing da FIAT e coordenou a produção do novo FIAT Punto e da versão moderna do FIAT 500. Abandonou a função em 2005, quando se tornou público que tinha sofrido uma overdose de heroína e cocaína. No ano seguinte, a Vanity Fair noticiou que Lapo Elkann tinha sido encontrado nu e inconsciente no apartamento de uma prostituta transsexual.
Avaliada em 11.500 milhões de euros, a fortuna dos Agnelli não está investida apenas no setor automóvel. Em agosto de 2015, adquiriram 50% da revista The Economist à britânica Pearson, por 655 milhões de euros. Antes disso, já possuíam o controlo do principal jornal de Turim, o La Stampa, e já tinham assumido o papel de principal investidor da editora do Corriere della Sera, o jornal com maior circulação em Itália.