O negócio que leva Cristiano Ronaldo de Madrid para Turim a troco de 100 milhões de euros foi oficializado na segunda feira, mas durante a última semana muito se falou e especulou sobre o futuro do internacional português, do Real Madrid e da própria Juventus. Muitas eram as questões sem resposta nos dias que antecederam a confirmação da transferência do verão, desde o destino de Ronaldo, ao valor do negócio, aos motivos que o levaram à saída da capital espanhola, passando pelo dia em que o melhor do Mundo vestiria pela primeira vez a camisola da Vecchia Signora na apresentação oficial em Itália. Toda esta especulação fez com que as ações da Juventus disparassem nos últimos dias, tendo mesmo atingido o valor de 0,95 euros, um novo máximo neste ano. “Lá está o efeito Ronaldo a trabalhar”, pensa o leitor. Mas, e se lhe dissermos que, em Maio de 2017, as mesmas ações chegaram a estar cotadas em 1,04 euros, o máximo desde o início do ano passado? O efeito Ronaldo continua a existir, mas é tudo uma questão de perspetiva.
Ora, para explicar o que levou a esta agitação do mercado financeiro em torno da transferência desportiva mais mediática do ano, é preciso primeiro ver como funciona esse mercado. Vamos por partes: quando uma empresa está cotada em bolsa, parte do seu capital social pode ser transacionado por qualquer pessoa, ou seja, qualquer cidadão pode, se tiver meios económicos para tal, comprar e vender ações dessa empresa. “É um meio da empresa se financiar. Uma empresa cotada reforça a sua credibilidade perante as instituições financeiras porque tem de cumprir determinadas regras, está sujeita a auditorias, tem de comunicar decisões que influenciem o funcionamento da empresa [em Portugal, comunica-se à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários], entre outras coisas”, explica Bruno Janeiro, consultor na Activotrade, empresa especializada em serviços de negociação online e no investimento em mercados financeiros.
Portanto, quem investe na empresa passa a deter uma percentagem, sendo acionista e tendo direito a parte dos lucros (caso existam). E porque sobe ou desce o preço das ações? Devido à lei da oferta e da procura. Pense no seguinte exemplo: se tiver uma garrafa de água no deserto e consigo estiverem dez pessoas, certamente conseguirá vender a garrafa de água a um preço superior ao normalmente estabelecido; mas, se tiver a mesma garrafa de água numa situação onde a necessidade de ingerir líquidos seja menor, talvez nem a consiga vender, quanto mais a um preço elevado. Porquê? Lá está, lei da oferta e da procura: quanto mais procura, mais elevado será o preço.
Foi exatamente o que aconteceu com as ações da Juventus. Numa altura em que se tornaram apetecíveis, desde que começaram os rumores da mudança de Cristiano Ronaldo para Turim, as ações dispararam porque os investidores olharam para a Juventus com outros olhos. E não estamos a falar do panorama desportivo, mas sim financeiro. “Foi uma contratação muito inteligente por parte da Juventus, em termos financeiros. Vai trazer patrocinadores, receitas, convites para digressões em vários continentes, questões de marketing, direitos de imagem e televisivos… Tudo isso fez com que, em antecipação, os investidores achassem que o clube vai crescer bastante no próximo ano”, conta Bruno Janeiro. Resultado: uma subida de cerca de 30% no valor das ações da Juventus durante a última semana.
A família Agnelli: os Kennedy de Itália que são donos da Juventus e chefes de Cristiano Ronaldo
Mas, se na última semana foi sempre a subir, esta terça feira o rumo inverteu-se e as ações da equipa de Turim desceram 5%, fixando a cotação da ação nos 85 cêntimos (ou seja, a última transação do dia foi feita pelo valor de 85 cêntimos). E porquê? Porque a especulação movimenta mais dinheiro do que a confirmação. “Há uma frase muito usada neste meio: compra no rumor e vende na notícia. O mercado mexe por especulação, tenta antecipar o que acontece. Se a notícia fosse uma bomba, sem terem saído rumores, as ações teriam disparado só hoje. Assim, quem não comprou, já não vai comprar hoje, já passou a melhor fase. É normal que desça nestes dias, mas não é uma má notícia porque o valor que subiu compensa esta pequena descida“, explica Bruno Janeiro.
Ainda assim, sempre com base no que é provável e nunca com certezas, é expetável que, até ao final do ano, as ações da Juventus voltem a subir, possivelmente, até valores bem perto dos alcançados em Maio de 2017. “Nos últimos dias, chegou a 0,925 euros, que já foi um novo máximo para este ano. Em termos gerais, a ação vinha numa tendência lateral desde o ano passado. Este ano, tem andado entre os 0,500 euros e os 0,800 euros e, com esta confirmação, fixou nos 0,850 euros. Há uma maior probabilidade de, este ano, voltarmos a atingir valores mais altos, possivelmente até maiores do que o máximo do ano passado. Isto porque, mesmo que o preço das ações corrija nos próximos dias e fique nos 0,800 euros, a próxima subida será feita para valores mais altos. Daqui a dois, três meses, deverá voltar a subir, chegando ao máximo antes do final do ano“, prevê o consultor da Activotrade,
Mas, afinal, o que aconteceu em Maio de 2017 que influenciasse mais o mercado financeiro do que a contratação daquele que é o futebolista com a marca mais poderosa do Mundo? Fácil: a Juventus foi à final da Liga dos Campeões. Em Janeiro de 2017, as ações da Juventus valiam 0,30 euros; quatro meses depois, saltavam para 1,04 euros, numa subida superior a 230%. Conclusão: a possibilidade de ganhar a Liga dos Campeões entusiasmou mais os investidores do clube italiano do que os rumores da aquisição de Cristiano Ronaldo. Deixando uma ideia no ar, como será se a Juventus tiver a possibilidade de ganhar a Liga dos Campeões com Cristiano Ronaldo na equipa? Talvez em Maio do próximo ano tenhamos a resposta.
Quem não parece estar a ganhar nada com isto é a FIAT, inserida na Exor, holding detida pela família Agnelli, que é dona também da Juventus. Para além da greve já anunciada para os dias 15, 16 e 17 de Julho, a fabricante de automóveis está a ver a sua cotação em bolsa descer, num processo inverso ao da equipa de Turim. A explicação é relativamente simples já que parte do dinheiro utilizado nesta transferência e no pagamento dos 30 milhões de euros anuais que Ronaldo irá auferir em Itália virá do grupo Exor. Como o dinheiro não estica, quanto mais houver para investir em Ronaldo, menos existirá para a FIAT. Pelo menos, assim parecem pensar os investidores, que começaram a vender ações da empresa italiana, provocando uma desvalorização de 3,4%.