Meia hora antes da cerimónia de tomada de posse dos novos diretores adjuntos, já o recém diretor nacional da Polícia Judiciária estava à porta da sede, em Lisboa, para receber cada convidado, um a um. Luís Neves, que esta sexta-feira deu posse aos seus adjuntos e aos responsáveis pelas unidades, começou logo por quebrar o protocolo. E continuou a fazê-lo perante um auditório cheio, em que acabou a emocionar-se. “Estamos de peito aberto para servir o país. Peço desculpa por ter fugido ao guião tradicional e ao que é o protocolo”.

Neves disse várias vezes que a cerimónia era “inédita” e que tinha sido preparada em apenas 24 horas, após terem saído em Diário da República os nomes que escolhera para a sua direção. Mas tinha que acontecer. O diretor queria que começassem a “trabalhar rapidamente” e queria mostrar a todos que escolheu homens da casa com currículos “invejáveis e escrutináveis”. Um pormenor também realçado pela ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, pouco depois. Mais: o novo diretor quer fazer da PJ uma “casa da justiça” onde “todos se sintam bem” e nada como abrir a porta a todos para isso.

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O homem que esteve à frente da Unidade Nacional Contra Terrorismo e que prendeu os criminosos mais perigosos do país ainda deixou um recado aos “velhos do Restelo”, que pensam que a mudança de direção não foi pacífica. “Foi absolutamente amigável e seria”, reforçou. Para depois virar o discurso para “os homens e mulheres” da instituição e emocionar-se. “Às vezes temos dificuldades familiares, já não conseguimos acompanhar os nossos idosos, as relações com as pessoas não correm bem, discutimos com os nossos filhos, mas isto faz parte da vida. Não vos vamos prometer mais nada senão empenho, coragem e capacidade de ir à luta”, disse. “Lutar para que tenham alegria na vossa profissão”, acrescentou. E foi interrompido pelas palmas.

Perante uma plateia com representantes das várias forças e serviços de segurança (como a PSP, a GNR e o SEF) e forças armadas, o diretor nacional da PJ reforçou também a importância da cooperação entre todas as forças e serviços de segurança, apanágio do seu primeiro diretor nacional, Orlando Romano.

Reforço de equipamentos e de recursos humanos

A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, lembrou o “corpo de excelência” que compõe a PJ, responsável pela investigação de crimes violentos. Mas foi já no final, à margem da cerimónia e aos jornalistas, que anunciou o levantamento das dificuldades que o atual diretor está a fazer para melhorar a Polícia Judiciária. “A PJ não é só em Lisboa, é preciso olhar de Norte a Sul do país”, ressalvou.

A ministra não disse para quando, mas garantiu estar a trabalhar para reforçar as pessoas e os equipamentos na PJ. Brevemente, a PJ será reforçada com 120 novos elementos, mas não são suficientes para colmatar as saídas e o congelamento das entradas dos últimos anos, como garantiu a governante. “Devem haver admissões anuais ou bianuais que permitam o convívio entre os profissionais mais velhos e os mais novos”, avaliou, para que não se perca o conhecimento operacional.

Francisca Van Dunem sublinhou por várias vezes que também é preciso reforçar o combate ao cibercrime, uma análise aliás feita por Maria José Morgado, responsável pela Procuradoria Geral Distrital de Lisboa, que no seu relatório semestral notou existirem “dificuldades acentuadas” na investigação deste tipo de crime.

Procuradoria de Lisboa alerta para “atrasos incomportáveis” nas perícias do cibercrime