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Medalha Fields. "Nobel da Matemática" atribuído a antigo refugiado curdo

Este artigo tem mais de 5 anos

Caucher Birkar era estudante em Teerão quando viajou até ao Reino Unido e pediu asilo político. Com uma estabelecida carreira na área geometria, recebeu hoje o mais importante prémio de Matemática.

A Medalha Fields, o "Nobel da Matemática", é atribuída de quatro em quatro anos
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A Medalha Fields, o "Nobel da Matemática", é atribuída de quatro em quatro anos

A Medalha Fields, o "Nobel da Matemática", é atribuída de quatro em quatro anos

Caucher Birkar chegou ao Reino Unido com o estatuto de refugiado e hoje é um dos mais respeitados matemáticos das ilhas britânicas. Professor e investigador na Universidade de Cambridge, Birkar, de 40 anos, é um dos galardoados com a Medalha Fields, o prémio mais importante na área da Matemática que é atribuído de quatro em quatro anos. Além de Birkar, especialista em geometria aritmética, receberam também a Medalha Fields Alessio Figalli, Akshay Venkatesh e Peter Scholze, este último um dos mais novos a receber o chamado “Nobel da Matemática”. Os vencedores foram anunciados durante o Congresso Internacional de Matemáticos, que este ano se realizou no Rio de Janeiro.

O professor da Universidade de Cambridge nasceu em Marivan, uma cidade curda que foi particularmente afetada pelo conflito entre o Irão e o Iraque, na década de 1980. “Quando estava na escola, a situação era caótica. Havia a guerra entre o Irão e o Iraque e a situação económica era muito má. Os meus pais são agricultores, por isso passei muito tempo no campo”, disse Caucher Birkar, citado pelo The Guardian. O Irão dos anos 80 não era, por isso, “o lugar ideal para um miúdo se interessar por uma coisa como a Matemática”. Contudo, foi por isso que Birkar se interessou e o irmão introduziu-o a teorias matemáticas mais avançadas. À revista Quanta, o iraniano afirmou que, quando era adolescente, tinha fotografias dos vencedores da Medalha Fields nas paredes do quarto. “Olhava para eles e pensava: ‘Será que vou conhecer alguma destas pessoas?’. Naquele tempo, no Irão, nem sequer sabia que ia conseguir viajar para o ocidente.”

Ivan Fesenko, professor na Universidade de Nottingham, foi um dos orientadores da tese de doutoramento do antigo refugiado curdo. Ao jornal The Guardian, contou que, quando Caucher Birkar chegou ao Reino Unido, em 2000, falava muito mal inglês. “O Ministério do Interior mandou-o viver em Nottingham enquanto estavam o processar o pedido de asilo. [Caucher Birkar] veio ter comigo porque estava interessado em investigar as minhas áreas de interesse”, lembrou Fesenko. Birkar tem trabalhado na área nas equações polinomiais.

De acordo com o professor da Universidade de Nottingham, o talento do iraniano ficou claro quando ele começou a trabalhar na tese de doutoramento: “Pensei que lhe devia dar algum problema para resolver. Se ele o resolvesse, então seria a sua tese de doutoramento. Geralmente, um doutoramento dura três ou quatro anos”. Caucher Birkar resolveu o problema em apenas três meses. “Ele é muito, muito inteligente. Quando falamos com ele, percebemos que ele consegue adivinhar os nossos pensamos muito tempo antes. Mas nunca usa isso para sua vantagem. É muito, muito respeitador e ajuda as outras pessoas a evoluirem”, disse ainda Fesenko ao The Guardian.

Além de Caucher Birkar, o “Nobel da Matemática” foi atribuído este ano a Alessio Figali, um italiano que se tem dedicado às equações diferenciais parciais (utilizadas para procurar as rotas mais eficientes para o transporte de um objeto entre dois locais diferentes), a Akshay Venkatesh, um australiano especialista em teoria dos números que trabalha nos Estados Unidos da América, e a Peter Scholze, professor de Matemática na Universidade de Boston. Scholze, de 30 anos, é um dos mais novos a receber a Medalha Fields. Scholze tem trabalhado com geometria aritmética e já foi considerado o matemático mais talentoso da sua geração nessa área.

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