“Vamos esclarecer uma coisa: esta entrevista para a Vogue Itália, incluindo as imagens que a acompanham, é sobre a minha vida em Lisboa e sobre o ano que lá vivi. Não faz muito sentido falar sobre qualquer outra coisa, certo?” Foi assim que começou a conversa, com Madonna a expressar a sua preferência por se centrar no presente.
Poucos dias antes de completar o 60º aniversário, a “Material Girl” deu uma entrevista à Vogue Itália e pela primeira vez falou sobre a vida em Lisboa, Portugal e os portugueses. Numa sessão intitulada “Just One Day Out Of Life” que é capa da edição de agosto, deixou-se fotografar e filmar em vários cenários da capital portuguesa.
No primeiro vídeo, Madonna surge num cenário rural, onde corre por um jardim vestida de branco e conduz uma carroça. A cantora mostra-se bem humorada e está acompanhada pelos filhos, com quem partilha momentos de ternura.
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Muito diferente é a Madonna do segundo vídeo. Com roupas mais glamourosas, a cantora percorre as ruas noturnas de Alfama e protagoniza cenas musicais numa casa de fados.
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As ideias de Madonna sobre a vida em Lisboa, Portugal e os portugueses:
Segundo o editor-chefe da revista, Emanuele Farneti, a ideia de fotografar a cantora em Lisboa foi sugerida pela própria. “Ela propôs o ângulo de Lisboa e acabou por ser uma entrevista muito pessoal, mais interessante do que fazer uma retrospetiva da artista ou da história dos seus projetos em África, algo que já foi explorado”, cita a publicação Out. “[O artigo é] o conto de uma nova vida, a mudança dela para Portugal para ajudar o filho David a jogar futebol – é incrível pensar na Madonna como uma mãe futebolista.”
O Observador reuniu as 21 ideias da residente mais famosa de Lisboa:
Sobre os motivos para viver em Lisboa:
- “O meu filho David, que vai completar 13 anos a 24 de setembro, há anos que queria jogar futebol profissionalmente. Eu tenho andado desesperada a tentar que ele entre nas melhores academias com os melhores treinadores, mas o nível do futebol na América é muito inferior ao do resto do mundo.”
- “Senti que precisávamos de uma mudança, e queria sair da América por um bocado — como sabem, a América não está no seu melhor momento.”
- Quando decidiu mudar-se para a Europa com com quatro dos seus seis filhos — David Banda e Mercy James, de 12 anos, e as gémeas Stella e Estere, de cinco — a cantora também considerou Turim (cidade da Juventus) e Barcelona. Escolheu Lisboa porque considerou que tinha o melhor ambiente para as crianças — “Pareceu-me a melhor escolha no geral”, disse.
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Sobre Lisboa e o que mais gosta na capital:
- “A primeira coisa que fiz quando cheguei a Lisboa foi ir a Sintra, que é uma floresta mágica – tem uma energia mística.”
- “Acredito que Portugal seja o país mais velho da Europa. Está mergulhado em história e o Império Português deixou a sua marca no mundo.”
- “A arquitetura é fantástica.”
- “E também é o berço da escravatura, portanto tem muitas influências musicais de Angola e Cabo Verde, e também de Espanha.”
- “Lisboa é uma cidade antiga e ninguém se apressa para nada.” A cantora revelou em vários momentos a sua frustação com a falta de pontualidade dos portugueses.
- “Em Lisboa, as pessoas praticamente não me abordam. De vez em quando, alguém pede uma fotografia ou um autografo, mas já consegui andar por aí muitas vezes sem ser abordada.”
- Uma das coisas que gosta de fazer é andar a cavalo. Assim, apesar de viver no bairro da Lapa, a cantora visita frequentemente a zona da Comporta onde pratica equitação na propriedade de um amigo. “Sempre que o meu filho não tem jogo de futebol ao domingo, é dia de aventura e vamos à procura de um sítio para andar a cavalo.”
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Sobre a cultura portuguesa e a influência desta na sua música:
- “Lisboa é uma cidade tranquila, mas também tem uma aura melancólica, o que explica porque o fado nasceu aqui. É o lado romântico – e certamente também o criativo e artístico – que gera muita música bonita e muita arte no geral.”
- “Digo sempre que Portugal é governado pelos três ‘F’: ‘Fado’, ‘Futebol’ e ‘Fátima’. É um país muito católico, o que me agrada.”
- “[Lisboa] lembra-me Cuba no sentido em que as pessoas não têm muitas posses, mas podes abrir a porta de qualquer casa, virar qualquer esquina, e irás sempre ouvir música”.
- A cantora confessou ser uma grande apreciadora de Alfama e das sessões intimistas de fado neste bairro. “Em Alfama, ouve-se pessoas a cantar e tocar fado em todo o lado”.
- “Tenho quase a certeza que em Lisboa as pessoas seriam capazes de fazer estes espetáculos [de fado] sem receberem nada por isso, e isso é glorioso e inspirador”
- “Ouve-se sempre muito fado e kuduro de Angola. E muito jazz também — jazz à moda antiga, o que é muito interessante. Conheci imensos músicos fantásticos, e acabei por trabalhar com muitos deles no meu novo álbum.” Segundo a OUT, os frutos destas influências serão parte do novo álbum, que deverá ser lançado no final do ano.
- “Lisboa influenciou a minha música e o meu trabalho. Como seria possível o contrário? Não sei como poderia passar um ano sem conhecer todos estes estímulos culturais.”
- Paula Rego é uma das pintoras preferidas de Madonna. “Há muito sofrimento e dor nas suas pinturas. É um paradoxo, e eu vivi esse paradoxo todos os dias [da estadia em Lisboa]. Uns dias queria que as coisas fossem apenas práticas; queria que as coisas fossem à minha maneira, para que fosse fácil, para as pessoas aparecerem a horas — tive muitas frustrações, mas isso foi sempre equilibrado com a possibilidade de aproveitar a criatividade.”
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Sobre a adaptação das crianças:
- “Todas os meus filhos são únicos da sua própria maneira. O que incrível é o quão resilientes eles são e o quanto abraçaram todas as coisas novas, especialmente a música, a dança, o futebol e o desporto — coisas que os fazem conectar-se com as outras pessoas tornam a mudança mais fácil.”
- “Eles aprenderam português a falar com outras pessoas, não numa sala de aula com técnicas didáticas, como escrever num quadro de giz. Em vez disso, é divertido e interativo.”
- “Muitas pessoas dizem-me, ‘Deve querer mesmo que os seu filho seja um futebolistas de sucesso (…). Ei digo sempre que não, o que quero é que os meus filhos sejam ser humanos carinhosos, compassivos e responsáveis. (…) Isso é o mais importante, percebes? Se por acaso forem o próximo Picasso ou Cristiano Ronaldo, então fantástico, isso é a cereja no topo do bolo.”
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