Um efeito dominó de gelo derretido, mares mais quentes, correntes que mudam de direção e florestas a desaparecer pode levar o planeta a um “efeito de estufa irreversível”, com um aquecimento contínuo das temperaturas médias globais, podendo chegar a um clima de 4 ou 5 graus Celsius a mais do que se previa. O alerta foi dado num estudo publicado na revista norte-americana “Proceedings of the National Academy of Sciences”, divulgado esta segunda-feira.
Atualmente, as temperaturas médias globais estão cerca de 1ºC acima dos níveis pré-industriais e a subir 0,17ºC por década. O grupo de investigadores questiona se a temperatura da Terra poderá estabilizar nos 2ºC acima dos níveis pré-industriais (definidos no Acordo de Paris de 2015) — o chamado ponto de inflexão, a partir do qual haverá danos irreversíveis — ou se caminha para um estado mais extremo.
Se este ponto for alcançado, o aumento das temperaturas pode resultar no aumento do nível do mar e dos rios até 60 metros das costas atuais, na inundação de comunidades costeiras, forçando-as a dirigirem-se para o interior, e no desaparecimento dos recifes corais.
“Eu espero estarmos errados, mas como cientistas temos a responsabilidade de analisar se isto é real ou não”, disse Johan Rockström, diretor executivo do Centro de Resiliência de Estocolmo ao jornal britânico The Guardian. “Precisamos de saber. É muito urgente e uma das maiores questões existenciais na ciência”, acrescentou.
No entanto, o estudo adianta também que não há certezas sobre se a temperatura da Terra vai ou não permanecer estável com o limite dos 2ºC: “Notamos que a Terra nunca teve na sua história um estado quase estável que é cerca de 2ºC mais quente do que o pré-industrial, o que sugere que há um risco substancial de que o próprio sistema ‘queira’ continuar a aquecer por causa de vários outros fatores [que geram mais aquecimento], mesmo que paremos as emissões ”, disse Katherin Richardson, uma das autoras. Isto significa que o aquecimento global pode ativar um processo no sistema da Terra chamado de feedback (“retroalimentação”, em português), que leva a mais aquecimento, mesmo que os gases de efeito de estufa deixem de ser emitidos.
Uma Terra estufa, diz o estudo, pode ser “incontrolável e perigosa para muitos”. Os investigadores acrescentaram que é necessário mudar o estilo de vida da população através de algumas medidas como a substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia com emissões baixas ou no nulas, o combate à destruição das florestas e a plantação de mais árvores para absorver o dióxido de carbono.