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GNR evacua Enxerim: "Eu não quero que esta seja a sua última casa"

Este artigo tem mais de 5 anos

Devido ao fumo intenso, a Proteção Civil lançou um apelo a quem se encontra entre Silves e São Bartolomeu de Messines: "Mantenham a calma e fechem janelas e portas, mantenham-se em zonas seguras".

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Houve três aldeias que estiveram perigosamente ameaçadas pelo incêndio que lavra há seis dias em Monchique e que chegou esta quarta-feira a Silves. Uma delas foi Enxerim, uma aldeia que em tempos foi um bairro social. A Guarda Nacional Republicana (GNR) teve de evacuar a aldeia, mas encontrou resistência por parte da população: na primeira casa onde esteve mora uma mulher que não queria abandonar aquilo que lhe pertence. Mas a ameaça era premente. O agente pegou na mulher pelos dois braços e disse com firmeza: “Não quero que esta seja a sua última casa”.

O episódio acontece depois de o Expresso ter avançado que um vereador da Câmara de Monchique, José Chaparro, acusou as autoridades de “algemarem e levarem à força” os habitantes de aldeias ameaçadas durante os incêndios. Também em Enxerim houve críticas à atuação da GNR: alguns habitantes queixaram-se da insistência das autoridades perante aqueles que não se querem ir embora e preferem enfrentar as chamas. “Tiram as pessoas à força”, acusam os residentes.

Em Enxerim quase ninguém obedeceu às ordens da GNR: as pessoas subiram aos telhados munidas de baldes, mangueiras e garrafões para afastarem o incêndio, molharam as casas, os carros e a si mesmas. Estiveram durante 45 minutos sozinhas no combate aos incêndios, até que os bombeiros chegaram para as acudirem. Mesmo nesse momento, a população não arredou pé e preferiu continuar a batalha ao lado dos bombeiros. “Só quero proteger o que é meu”, justifica um dos moradores ao Observador.

As outras duas aldeias ameaçadas pelas chamas foram Pinheiro e Garrado e a aldeia da Pedreira. Na primeira, o fogo estava do lado de lá de um grande canal de água que a população utiliza para rega dos campos agrícolas. Para chegar até ao foco do incêndio, os bombeiros tiveram de atravessar esse canal e por vezes mergulhar de um lado ao outro: as fagulhas do fogo podiam chegar ao outro lado do canal e ameaçar ainda mais a aldeia.

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Já na Pedreira, os populares utilizaram ramos para extinguirem o fogo que chegava aos quintais. O incêndio estava paredes meias com as casas, mas nem nesse caso os residentes quiseram arredar pé: havia muita gente a gritar e a correr sem direção e até a própria GNR cedeu ao desespero sem saber como manter a ordem e a calma dentro da aldeia. Quem fugiu, levou os animais consigo: ora apoiados pelos agentes, ora pelo próprio pé, os populares viravam costas ao fogo com cães de grande porte ao colo. Quem ficava, por outro lado, encharcava-se em água guardada dentro de garrafões e depois continua a lutar contra o fogo, regando constantemente as vivendas e os carros com mangueiras.

O trânsito na Estrada Nacional (EN) 266 entre Portimão e Monchique encontra-se cortado, bem como na 267 entre Nave e Marmelete e São Marcos e Monchique e na EN124 entre Silves e S. Bartolomeu de Messines, segundo as autoridades. Fonte do comando-geral da GNR, adiantou à agência Lusa, que o trânsito foi cortado, igualmente, em algumas outras estradas municipais que rodeiam a vila de Monchique, mas que às mesmas só se tem acesso pelas Estradas Nacionais cortadas.

Proteção Civil dá conselhos aos residentes na zona do incêndio

A noite já caiu, mas há hora e meia que não se houve mais nada em Silves senão sirenes. A Proteção Civil apelou às pessoas que se encontram entre Silves e São Bartolomeu de Messines e a sul de São Marcos da Serra para se manterem em zonas seguras, devido à complexidade do incêndio na zona. Num alerta enviado à agência Lusa, a autoridade nacional indica que o fogo que lavra no concelho de Silves, no distrito de Faro, está numa “fase muito complexa” e alerta para o impacto do fumo que alastra na região.

“A Proteção Civil pede às pessoas que mantenham a calma, sigam as indicações das autoridades, fechem janelas e portas e se mantenham em zonas seguras. Este pedido fica a dever-se ao fumo intenso que se faz sentir no local”, indica. Os bombeiros conseguiram fazer “bons progressos” no incêndio de Monchique durante a madrugada desta quarta-feira, apesar de se ter registado mais um ferido ao longo desse período.

O vento forte que se faz sentir na região está a dificultar o combate às chamas e a provocou reacendimentos em Silves e na zona da Fóia. “O incêndio está com uma força muito grande e as coisas infelizmente ainda não estão controladas”, explicou à agência Lusa a autarca Rosa Palma.

“Fruto do empenho de todos os operacionais no terreno, conseguimos fazer bons progressos e diria que temos hoje de manhã uma situação mais estável comparativamente com aquilo que tínhamos ontem à tarde”, disse Patrícia Gaspar. Mais de 1.440 bombeiros, 447 meios terrestres e 13 meios aéreos continuam no terreno.

De acordo com a informação avançada no briefing desta manhã, o número de feridos subiu de 31 para 32, nesta quarta-feira. A grande maioria tem ferimentos leves, sobrando apenas uma pessoa com ferimentos graves. Trata-se de uma senhora de 76 anos, que está internada na unidade de queimados do Hospital São José em Lisboa desde domingo.

O número de pessoas deslocadas diminuiu de 230 para 181 pessoas, após algumas delas terem ido para casas de familiares e, no caso dos turistas estrangeiros, terem regressado aos seus países. Não se sabe ainda quantas casas foram destruídas, sendo que esse levantamento ainda está “em curso”, mas o presidente da Câmara Municipal de Monchique estima que 20 casas de primeira habitação poderão já ter ardido.

Patrícia Gaspar referiu ainda que se prevê para esta quarta-feira condições atmosféricas semelhantes às do dia anterior. As temperaturas deverão estar entre os 24 e 25 graus, a humidade relativa deverá ser de 50% e prevê-se que os ventos soprem entre os 35 e os 40 quilómetros por hora. A prioridade no combate ao incêndio desta quarta-feira será o de travar reacendimentos que possam acontecer ao longo do dia. “Estamos a contar com isso e estamos prontos para responder rapidamente e da forma mais musculada possível”, diz.

A Proteção Civil refere ainda que o incêndio de Monchique conta com “dois pontos mais críticos”. O mais grave situa-se na zona da Fóia, na frente oeste do incêndio. Logo a seguir, está a frente a sudeste, na zona de Silves — sendo que, neste concelho, é nas zonas de Pinheiro e Garrado e da Pedreira que se reúne a maior parte dos esforços de combate ao fogo.

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Patrícia Gaspar respondeu ainda aos relatos publicados pela SIC, que na terça-feira dava conta de bombeiros que diziam ter ficado cinco horas à espera para atuar contra o incêndio. O período de espera terá decorrido ao mesmo tempo que a coordenação do combate ao incêndio passava da alçada do comando distrital de Faro para o comando nacional.

Em resposta, Patrícia Gaspar referiu não ter a “indicação de que possam ter sido cinco horas” mas ainda assim explicou que “há momentos nesta operação em que por mais que queiramos não conseguimos colocar os meios a combate”, alegando “questões de segurança”.

“Há momentos em que a evolução do incêndio ultrapassa a capacidade de combate e portanto seria de uma extrema irresponsabilidade forçar esta entrada. Aquilo que se faz nestas alturas é aguardar, esperar que sejam estabelecidas as condições, trabalhar com máquinas à frente do incêndio para que possa haver condições para operar”, acrescentou.

Quatro histórias da noite de desespero em Monchique. “Pedro, anda-te embora. Isto vai arder tudo”

EDP Distribuição reforça o dispositivo operacional em Monchique

O dispositivo operacional da EDP Distribuição em Monchique foi reforçado com equipas de outros locais do Algarve, para os trabalhos de recuperação da rede de distribuição de energia nas localidades afetadas pelo incêndio, afirmou esta quarta-feira a empresa.

De acordo com um comunicado enviado à agência Lusa ao final da tarde, a empresa afirma que, dada a imprevisibilidade do comportamento do incêndio, com reacendimentos e aparecimento de novas frentes, “a previsão sobre a conclusão dos trabalhos ainda é prematura”.

“A priorização dos trabalhos para restabelecimento da energia está a ser concertada com as diferentes entidades nacionais e locais, nomeadamente municípios, juntas de freguesia, Segurança Social, GNR e Proteção Civil, em função do regresso das populações às suas habitações”, esclareceu a empresa, deixando ainda um alerta à população que está a regressar às habitações para que não se aproxime nem toque em linhas danificadas.

“Quando em presença de linhas elétricas partidas ou danificadas, solicita-se o alerta para a linha de avarias […] e a adoção de comportamentos seguros, nomeadamente a não aproximação e toque”, apela a empresa. De acordo com a EDP Distribuição, a linha de avarias com o número de telefone 800 506 506 está disponível para a “comunicação de quaisquer anomalias”, devendo as pessoas afetadas recorrer ao serviço de apoio telefónico.

DGS alerta para perigos de inalação de fumo e emite recomendações

A Direção-Geral da Saúde (DGS) alertou que a inalação de fumos ou de substâncias químicas e o calor podem provocar danos nas vias respiratórias e emitiu recomendações sobre como agir nestas situações. “Existem lesões de inalação devidas ao calor que provocam obstrução e risco de infeção. Além da lesão pelo calor, há possibilidade de lesão pelas substâncias químicas do fumo que provocam inflamação e edema com tosse, broncoconstrição e aumento das secreções”, alerta a DGS num comunicado divulgado a propósito do fumo que alastra na região do Algarve devido ao incêndio na serra de Monchique.

As crianças, os doentes respiratórios crónicos e os idosos são os mais vulneráveis. Segundo a organização de saúde, existe ainda a possibilidade de surgirem lesões mais tardias e mais graves, com destruição celular, que em casos extremos causam falência respiratória.

Para evitar os efeitos nefastos da exposição ao fumo, a DGS aconselha a população a permanecer no interior de edifícios, afirmando que “é a forma mais efetiva de prevenir danos”. Nas situações em que já houve inalação de fumo, a pessoa deve ser retirada do local e evitar que respire o fumo ou esteja exposta ao calor, adianta a DGS. Os “sinais de alarme” resultantes desta situação são queimaduras faciais, sinais de dificuldade respiratória ou alteração do estado de consciência. A DGS alerta ainda para o “mito do leite”, esclarecendo que este “não é um antídoto para o monóxido de carbono. Não vem descrita em artigos científicos a sua utilidade”.

Em caso de emergência deve ligar-se para o 112 e para obter informações para a linha SNS 24: 808 24 24 24.

As palavras de Costa e o fumo nas praias algarvias

No cimo dos telhados das habitações em risco em Silves, e sob uma intensa manta de fumo, a população tenta ajudar os bombeiros no combate aos incêndios. Baldes com água, mangueiras, tudo conta para impedir que as casas sejam dominadas pelo fogo.

À hora de almoço, o primeiro ministro António Costa disse que o incêndio de Monchique é “a exceção que confirmou a regra do sucesso da operaçãoao longo de todos os outros dias”. António Costa fez uma analogia para explicar a complexidade de Monchique: “A vela de um bolo de aniversário todos nós o apagamos com um sopro, mas quando a chama se alarga e os incêndios ganham uma escala com esta dimensão, não basta os sopros nem alguns dias de trabalho”. E avisou: “Ainda temos vários dias pela frente até o incêndio ser extinto.”

Costa diz que Monchique é a “exceção que confirma o sucesso” no combate aos incêndios

Entretanto, enquanto chegam imagens das praias algarvias escurecidas pelo fumo trazido pelo vento, um drone filmou as cores dos céus de Albufeira depois do incêndio de Monchique. O vento que sopra de Norte levou este tom entre o vermelho e o negro ao horizonte da costa.

https://observador.pt/videos/atualidade/video-imagens-aereas-do-ceu-de-albufeira-pintado-com-as-cinzas-de-monchique/

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) decidiu retirar, esta quarta-feira, os 29 linces que estão no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), situado na Herdade das Santinhas, em Silves, devido ao incêndio que na sexta-feira deflagrou em Monchique e que já chegou às regiões de Silves e da Fóia. Trata-se de uma “medida de prevenção”, sendo os animais deslocados “para instalações dos parceiros espanhóis”, anunciou o Ministério do Ambiente em comunicado.

29 linces retirados do centro de reprodução de Silves como medida de prevenção

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