Uma estudante de 23 anos suicidou-se cerca de três meses depois de ter sido violada por outro estudante na África do Sul. Este caso está a aumentar a indignação face à violência sexual no país, lê-se na CNN.

Khensani Maseko, estudante na Universidade Rhodes, em Grahamstown, reportou a 30 de julho uma violação que, alegadamente, teve lugar em maio deste ano, lê-se no comunicado da instituição. Quatro dias depois, no dia em que se suicidou, a jovem publicou uma fotografia acompanhada por uma mensagem estranha na sua conta de Instagram — que entretanto já foi removida: “Ninguém merece ser violada“, escreveu.

A universidade confirmou a morte de Maseko e informou que as autoridades marcaram um encontro com os pais da jovem logo depois de ela ter denunciado a situação. “A universidade contactou imediatamente a família e, no outro dia, eles viajaram de Joanesburgo para Grahamstown para uma reunião, onde acordaram levar Khensani para casa” enquanto se aguardava pelos resultados da investigação, pode ler-se.

O jovem acusado de violação foi suspenso, de acordo com a informação dada pela instituição, que assegura ainda que está a trabalhar de perto com a polícia sul-africana e com o Ministério Público para lançar um inquérito. “A trágica morte de Khensani não significa o fim da investigação das circunstâncias que a levaram a cometer suicídio”, garantiu o vice-diretor da Universidade Rhodes, Sizwe Mabizela.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A violência sexual contra as mulheres na África do Sul é um problema crescente e tem vindo a agravar-se. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística da África do Sul, 138 de todas as 100 mil mulheres foram violadas em 2016 e 2017. “Estes números são dos mais elevados no mundo. Por essa razão, alguns têm apelidado a África do Sul como ‘capital das violações‘”.

Marcha TotalShutDown

A morte de Maseko provocou uma onda de indignação pública no país, onde ultimamente as mulheres se têm valido das redes sociais para partilhar imagens de mulheres que foram mortas pelos companheiros.

Na semana passada saíram às ruas para protestar contra a violência baseada no género, naquela que foi chamada de marcha TotalShutDown — criada para unir as mulheres sul-africanas nesta luta que não tem dado tréguas.

Agosto é o mês das mulheres, mas as mulheres neste país não estão contentes. Não sentimos nada, não temos nada para celebrar. A questão da violência baseada no género só tem ficado cada vez pior ao invés de ser o contrário e isso é visível nas nossas estatísticas”, afirmou a porta-voz do movimento, Loyiso Saliso.

Estas mulheres percorreram as ruas até ao Parlamento e ao Tribunal Supremo, entidades que podem fazer alguma coisa para mudar este cenário. A porta-voz do movimento acrescentou ainda que só quando os agressores tiverem realmente medo das consequências que vão enfrentar depois de cometerem os atos de violação é que vão ver “menos mulheres e crianças a desaparecer ou a serem mortas“.

O medo está de volta

Alguns agressores têm sido condenados em casos de violência sexual contra mulheres. Em muitos casos são os próprios companheiros que estão envolvidos nos crimes — quer sejam de homicídio ou de violação –, mas também acontece serem cometidos por pessoas desconhecidas.

Em 2016, o presidente Jacob Zuma declarou a violência contra as mulheres como um “crime prioritário” depois de uma onda de mortes ter chocado o país nesse ano e apelou a que as entidades competentes garantissem que os agressores eram levados à justiça. Mas nem por isso as mulheres andam mais descansadas na rua. Star Khulu, de 28 anos, disse à CNN que tenta parecer menos atrativa quando sai à rua em Joanesburgo porque acredita que, se se vestir de forma menos provocativa, reduz o risco de ser assediada.