O PSD, através da sua conta oficial no Twitter, fez um ataque personalizado a uma jornalista do diário Público, Sofia Rodrigues, que acompanha há vários anos o PSD. Com ironia, o partido escreve que “a rigorosa Sofia Rodrigues do Público continua a sua cruzada”, referindo-se a uma notícia publicada esta segunda-feira na edição do diário em que se relata que dois membros da Comissão Política Nacional do partido ameaçaram demitir-se por não ter havido consenso em torno da proposta que os sociais-democratas estão a preparar para a área da saúde.
A conta oficial do PSD acaba o primeiro tweet com uma provocação à jornalista, afirmando que no partido estão “ansiosos pelo próximo trabalhinho para ficar a saber os nomes dos dois ameaçadores”.
A rigorosa Sofia Rodrigues do @Publico continua a sua cruzada e, hoje, “informa” que dois membros da CPN ameaçaram demitir-se. Estamos ansiosos pelo próximo trabalhinho para ficar a saber os nomes dos dois ameaçadores. https://t.co/raC9IMFn8D pic.twitter.com/8aUVfP1PG7
— PSD (@ppdpsd) August 20, 2018
Uma hora depois de terem publicado este tweet, e quando começaram a surgir várias críticas, novo ataque a Sofia Rodrigues, desta vez numa publicação mais curta. Recorrendo novamente à ironia, o PSD questiona se a jornalista terá alterado “a ordem de trabalhos” do próximo Conselho Nacional.
Na mesma “notícia”, a mesma Sofia Rodrigues anuncia que o documento do CEN para a política de Saúde já não vai ao Conselho Nacional. Falta apenas saber se também já alterou a ordem de trabalhos. https://t.co/KipXZpgwxY
— PSD (@ppdpsd) August 20, 2018
A opinião do PSD no Twitter já motivou algumas reações. O antigo secretário de Estado do PS e antigo conselheiro de Passos Coelho, António Nogueira Leite já comentou o assunto, registando que “o PSD [está] a comunicar à moda da traulitânia. Sad.”
O PSD a comunicar à moda da traulitânia. Sad
— Αntonio Nogueira Leite (@al_antdp) August 20, 2018
O Observador tentou, sem êxito, contactar o secretário-geral do PSD, José Silvano, antes da publicação deste artigo.
Rui Rio contra a comunicação social. Uma luta antiga
O ex-autarca do Porto esteve muitas vezes associado a ataques à comunicação social. Uns mais diretos do que outros. Veja-se, por exemplo, o discurso de vitória de Rui Rio a 9 de outubro de 2005, quando tinha acabado de vencer as eleições autárquicas no Porto. “Devo aqui muito claramente dizer que para mim os principais derrotados de hoje não são nem o PS, nem a CDU, nem o Bloco de Esquerda. Os principais derrotados estão na comunicação social que, durante quatro anos, uma semana depois de eu ter entrado só denegriram, só mentiram”. E, coincidência ou não, afunilou a mira. Tinha um alvo concreto. O jornal… Público. “Sabemos que o jornal Público desde o primeiro dia só fez oposição à câmara do Porto. A democracia precisa de mais informação e não de desinformação. O apelo que faço é que possamos começar vida nova com mais independência e mais isenção”, disse então o recém-eleito presidente da Câmara Municipal do Porto.
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A luta contra os media seria uma das suas mais comuns bandeiras ao longo dos doze anos em que esteve à frente da autarquia. Tinha dois alvos preferenciais: o Público e o Jornal de Notícias. O site oficial da Câmara Municipal do Porto chegou a publicar por diversas vezes editoriais ao estilo de um jornal em que Rui Rio respondia diretamente às notícias que entendia que o denegriam. Chegou mesmo a questionar, num desses texto, a escolha de fotografias em que surgia com uma expressão facial menos favorável.
No portal oficial da autarquia, foram publicados vários textos que respondiam diretamente a notícias da comunicação social, insultando por vezes os próprios meios. Artigos com títulos como “Jornal de Notícias volta a atacar Rui Rio”, “JN retoma ataque à Câmara do Porto” ou “JN baixa ao nível da intrigalhada” eram comuns no site oficial do município.
O Observador tentou ainda contactar a assessoria de imprensa do presidente do PSD mas não obteve resposta até ao momento.