“Achamos inaceitável esta situação.” Foi desta forma que o PSD, através do deputado Carlos Silva, reagiu esta sexta-feira à notícia do Observador que dá conta de que o PS fretou um comboio da CP para a sua rentrée política, podendo vir a provocar atrasos na circulação regular. Recorrendo a um jogo de palavras, o parlamentar considerou que a empresa pública está a prestar “um frete” aos socialistas, criticando a prioridade que a locomotiva alugada terá sobre todos os outros serviços deste sábado, dia 25.
CP aceita atrasar horários para deixar passar comboio do PS para a festa da rentrée
A indignação dos sociais-democratas não se esgota na crítica ao PS. “Sabemos que este tipo de serviço tem sido prestado ao longo do tempo pela CP, mas sabemos também que ultimamente tem sido recusado”, lembra Carlos Silva. O deputado fez assim alusão ao facto de haver sociedades que viram pedidos semelhantes recusados por “falta de material”. Foi, de resto, o que aconteceu com o comboio do Benfica, que costumava recorrer a este tipo de aluguer para trazer para Lisboa adeptos de todo o país. Uma prática à qual a própria CP colocou um ponto final.
Assim, entende o PSD, “o PS deve ponderar o que fazer” quanto a este serviço. Nesta quinta-feira, os sociais-democratas estiveram reunidos com os sindicatos do setor, que se queixaram precisamente “da falta de manutenção” do material circulante.
Na Assembleia da República, o deputado laranja disse ainda aos jornalistas que o partido está “muito preocupado com o que o Governo tem feito com a CP”, o que também provoca uma reação negativa dos portugueses, que com “casos como este” olham cada vez “com mais desconfiança” para o serviço de transporte ferroviário.
O PSD foi o terceiro partido a reagir à notícia. Já ontem, CDS e PS prestaram declarações sobre o tema. Os centristas falaram à comunicação social nos Passos Perdidos no Parlamento. “É normal e natural que quem tem comboios especiais, não sei se com ‘catering’ ou sem, provavelmente, com ar condicionado, não esteja preocupado com a situação dos portugueses, que é de comboios que não existem, que não funcionam em condições”, disse o deputado Telmo Correia.
Esta sexta-feira, António Costa tentou esvaziar a polémica. “Trata-se de um serviço comercial absolutamente normal, afeto a qualquer tipo de cliente”, afirmou o primeiro-ministro aos jornalistas numa visita aos Passadiços do Paiva.
Já na quinta-feira, os socialistas, contactados pelo Observador, desvalorizaram a prática. “Recorremos à CP como um prestador de serviços como qualquer outro, sujeitámo-nos aos horários e preços existentes”, afirmou o secretário nacional para a organização do PS, Luís Patrão. Para PS, esta é uma iniciativa “absolutamente standard”, que se realiza “desde 2015″, que acaba por ser “mais ecológica” que as alternativas em cima da mesa, e, por isso, em nada condenável.
A CP também considerou a prática regular:
A empresa realiza comboios especiais para todos os clientes que os solicitam, sejam entidades de naturezas diversas, empresas, associações, grupos de cidadãos, clubes desportivos, partidos, etc. desde que existam condições operacionais para os realizar, nomeadamente a disponibilidade de canal horário por parte do gestor da infraestrutura, e o acordo mútuo relativamente às condições comerciais acordadas”, disse fonte oficial da CP ao Observador.
PCP critica mas pouco, BE em silêncio
O PCP emitiu esta sexta-feira um comunicado para reagir à notícia. Os comunistas começam por dizer que, por norma, o aluguer de comboios, “enquanto prática comercial legítima e natural, não merece particular comentário“.
No entanto, há uma coisa na prática dos socialistas que o PCP não gosta de ver. “Não é aceitável é que em nome do imprescindível
serviço regular se pretenda percorrer um caminho que conduza à legitimação de futuras discriminações ditadas por razões políticas”, pode ler-se na nota. Para o partido, este tipo de serviços deve acontecer dentro do “respeito pela oferta regular prestada pelas empresas”.
A crítica dos comunistas passa depois para o estado da ferrovia e da própria CP. Problemas que consideram verdadeiramente urgentes e que “radicam em anos de desinvestimento de sucessivos governos em que avultam as responsabilidades do Governo PSD/CDS, desinvestimento que o atual governo do PS tem mantido“.
A carta enviada à comunicação social aponta o dedo em particular ao anterior executivo e não iliba o atual Governo. E pede soluções: “O que se exige são respostas centradas nos reais problemas e a adoção de medidas inadiáveis”. Já o Bloco de Esquerda continua em silêncio sobre o tema.
Reações chegaram mais cedo nas Redes Sociais
As primeiras reações surgiram ainda durante a tarde de quinta-feira. O porta-voz do CDS lembrou os atrasos e supressões de comboios da CP nos últimos tempos para atacar a opção do PS. “É o país e o Governo que temos”, escreveu João Almeida. Esta publicação foi depois replicada – ou retweetada – por vários militantes centristas.
O país desespera com os comboios cancelados, atrasados e degradados. O PS vai ter um comboio especial para levar os militantes à sua Festa de Verão. É o país e o governo que temos.
— João Pinho de Almeida (@_jalmeida_) August 23, 2018
No PSD, uma das primeiras reações veio de Carlos Abreu Amorim. Na sua página de Facebook, o deputado criticou a CP por aceitar ceder um comboio ao PS. “Acumulam prejuízos e prestam um serviço cada vez mais medíocre – será que estão preocupados em readquirir a confiança dos portugueses?”, questionou.
Uma crítica que encontrou eco nas palavras da líder da Juventude Social-Democrata, que recorreu ao Twitter para atacar os socialistas. “Um comboio de falta de noção e de falta de vergonha na cara”, apelida Margarida Balseiro Lopes.
Um comboio de falta de noção e de falta de vergonha na cara. Com o caos na CP ainda se dão ao luxo de gozar o prato. https://t.co/GEMMIx6eM4 via @observadorpt
— Margarida B Lopes (@margaridalopes) August 23, 2018