Desde o dia 31 de julho que não se vê nem ouve Rui Rio. A um ano das eleições, e depois de um mês de agosto marcado pelos fogos de Monchique, pelos problemas na ferrovia e até pela saída de Santana Lopes do PSD, os críticos comentam a ausência, em surdina. O autarca de Cascais, Carlos Carreiras, chegou até a comentar, num artigo de opinião, a “emigração” do presidente do PSD, que tirou umas férias mais prolongadas do que o habitual para um líder partidário. A agenda oficial de Rui Rio retoma no sábado dia 1 de setembro, e o regresso vai ser… nos relvados.

Sim, nos relvados. Depois de a direção nacional do PSD ter mudado os contornos da festa do Pontal, que tradicionalmente marca a rentrée do partido, o evento deste ano vai contar com um “mini-torneio de futebol” no Vale do Garrão, a cerca de meia hora do local onde se vai desenrolar o resto da festa, que passa para Fonte Filipe, em Loulé, apurou o Observador junto da distrital de Faro. A ideia é promover o convívio entre os dirigentes e os militantes sociais-democratas, num torneio que deverá contar com quatro equipas, possivelmente mistas, adiantou ao Observador o líder da distrital algarvia, David Santos. Uma deverá ser composta por autarcas e militantes algarvios, outra por membros da direção nacional, incluindo o próprio Rui Rio, e o resto ainda está em aberto.

Os convites para a festa do Pontal já foram enviados aos deputados aos líderes das distritais, mas este ano a afluência deverá ser bastante menor do que nos últimos, quando a festa tinha lugar no calçadão de Quarteira e realizava-se em meados de agosto. É que a palavra de ordem da direção de Rui Rio foi reduzir o orçamento e, como tal, acabar com a prática de ser o partido a pagar as deslocações dos militantes de todo o país. Em vez das habituais 1.500 pessoas, desta vez a festa deverá contar com bastante menos. David Santos, ainda assim, espera ver em Fonte Filipe “largas centenas” de militantes. O custo do bilhete passa para uns simbólicos “5 euros”, e as despesas de deslocação ficam a cargo de cada um. Segundo informações do secretário-geral do PSD, José Silvano, ao Correio da Manhã, o evento vai custar apenas 20 mil euros ao partido, um corte de 75% face às despesas do ano passado, que rondaram os 80 mil euros.

Acabou-se a festa? Pontal vai mudar à imagem de Rio

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Depois do mini-torneio de futebol no Vale do Garrão, entre a Quinta do Lago e Vale do Lobo, a festa social-democrata desloca-se para o interior algarvio, Fonte Filipe, onde decorrerá o almoço em estilo “picnic”, à base de “carne grelhada” ou “porco no espeto”. A música ficará a cargo de ranchos e grupos populares da região. Pelas 16h está prevista a intervenção de Rui Rio — que será a primeira intervenção do líder do PSD desde o final de julho, quando se ausentou para férias.

“Onde anda o PSD, o seu líder e os seus vice-presidentes?”

Os últimos dias de julho foram agitados para Rui Rio: desde a festa do Chão da Lagoa, na Madeira, onde esteve ao lado de Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim, à Expofacic, terminando no dia 31 com uma audiência em Belém com o Presidente da República, onde deixou claro que será “dificílimo” o PSD aprovar o último Orçamento do Estado da geringonça. Mas depois disso, mais nada. “Ainda se tivesse dado duas ou três bicadas fortes ao governo antes das férias ninguém ligava, mas assim é incomum”, ouve o Observador de uma fonte social-democrata que acrescenta que um líder partidário ficar ausente do espaço político um mês inteiro podia ser “normal há 20 anos”, mas não agora.

A única voz crítica que se fez ouvir foi a de Carlos Carreiras, presidente da câmara de Cascais, que, num artigo de opinião publicado no jornal i questionava, a propósito da falta de investimento na infraestrutura ferroviária: “onde anda o PSD, o seu líder e os seus vice-presidentes? Emigraram, já deitaram definitivamente a toalha ao tapete e apenas criticam e fazem oposição aos anteriores dirigentes do PSD? É que, em política, os empatas tendem a sobreviver, mas os seus representados perdem e sofrem”. Na ausência de Rio, foi o vice David Justino que reagiu às palavras de Carreiras. Numa declaração ao Correio da Manhã, David Justino saiu em defesa da direção do PSD: “Só depois das férias do verão é que o PSD deve fazer oposição e não aproveitar a silly season para encher jornais, o que seria uma perda de tempo”. Este sábado, ao Expresso, outro vice Castro Almeida ainda acrescentou que Rio é mesmo assim: “Férias são férias”.

A verdade é que Pedro Passos Coelho não ficava ausente da esfera mediática tanto tempo porque, nos sete anos em que esteve na liderança do partido, houve sempre a festa do Pontal em meados de agosto. Era nessa altura que o líder do PSD terminava as férias e comentava os assuntos políticos pendentes ou, sobretudo, os que estavam para vir. Acontece que a direção de Rio optou por empurrar a rentrée do Pontal para o início de setembro, precisamente porque “não faz sentido haver uma rentrée política a meio de agosto”. “É despropositado fazer uma rentrée política com estes custos, e com transporte de militantes, em meados de agosto. Não se justifica”, dizia José Silvano ao Observador, explicando que os restantes partidos fazem a sua rentrée em setembro, pelo que inaugurar as hostilidades em meados de agosto, para depois se seguirem duas semanas de vazio mediático, não fazia sentido.

Já Assunção Cristas, líder do CDS, tem outro entendimento. Numa declaração à revista Flash, no dia 11 deste mês, em pleno Algarve, explicava as interrupções que tinha de fazer nas férias: “Comecei de férias no sábado (dia 4) mas na quarta tive de interromper para ir a Lisboa por causa dos incêndios e também devido aos problemas com os comboios. São férias com soluços”, dizia, contrastando bastante com o entendimento de Rui Rio, que se assume com um líder da oposição muito pouco típico.

Com o agravar dos incêndios de Monchique, Rui Rio pôs um dos seus vices a falar. David Justino deu uma conferência de imprensa no dia 13 de agosto, onde criticava o Governo por ter havido “falta de coordenação”, assim como de “falta de recato e de humildade” e de “grande precipitação” na forma como encarou o incêndio na serra algarvia. Mais tarde, a 21 de agosto, a propósito da intenção do governo de reverter o novo mapa de freguesias, foi o secretário-geral José Silvano que reagiu: “o PSD considera a apresentação e eventual aprovação de um novo mapa de freguesias um completo disparate e um erro que vai custar muito caro ao país e aos portugueses”, disse numa conferência de imprensa.

O tema da saída de Santana Lopes do PSD e a intenção de formar um novo partido à direita, Aliança, não mereceu, sequer, o comentário de nenhum membro da direção do PSD. Este sábado contam-se 25 dias de Rui Rio em silêncio absoluto: na agenda oficial na página do PSD, lê-se que a primeira iniciativa marcada é o Pontal no dia 1, seguindo-se a Universidade de Verão em Castelo de Vide, onde o presidente do partido vai discursar no dia 9. Para dia 12 está marcado um Conselho Nacional. Em setembro é que é?