A história da festa do Pontal já teve muitos altos e baixos, teve “tampas” de uma “miúda” chamada Manuela, teve um nascimento, vários enterros e um renascimento. Começou por ser no pinhal de Faro e tinha a ambição de ser um autêntico festival de verão: Francisco Sá Carneiro e Pinto Balsemão eram frequentadores assíduos e conseguiram que os níveis de adesão da festa popular organizada pelo PSD no Algarve chegasse aos 10 mil. Cavaco Silva, algarvio de gema, também deu gás à festa mas tornou-a mais institucional e menos festivaleira: passou-a para a baixa de Faro, deu mais importância ao discurso político do que às atividades lúdicas, e encurtou o calendário — em vez de ser um dia de festa, passou a ser apenas um final de tarde, que se arrastava para a noite.

Acabou o cavaquismo, o PSD perdeu o poder, e, sobretudo, perdeu o dinheiro. No verão de 1997, a rentrée do Pontal esteve mesmo a um triz de não se realizar. Não fosse um mecenas, de seu nome Marcelo Rebelo de Sousa, ter passado um cheque de cinco mil contos a Mendes Bota, na altura líder da distrital de Faro, para erguer o Pontal. Seguiu-se um interregno com Durão, Santana e Mendes. Marques Mendes chegou a ir um ano, já no calçadão de Quarteira, mas sem grande fulgor (e com a sombra de Menezes). Manuela Ferreira Leite, por sua vez, nem lá pôs os pés —  até deu uma célebre “tampa” ao líder da distrital. Foi precisamente com Passos Coelho que o Pontal viu regressar um líder bronzeado ao calçadão de Quarteira, mantendo o ritmo nos sete anos seguintes, apenas com um desvio, em 2012, para uma sala fechada do parque aquático de Quarteira. A ideia era: se a política parava para ir a banhos, então os banhos iam até à política.

Esta podia ser, em síntese, a história do nascimento e renascimento da festa do Pontal, que tradicionalmente marca o arranque do ano político do PSD, e que está contada ao pormenor aqui. Mas este ano será preciso acrescentar um novo capítulo: Rui Rio já fez saber que não concorda com a “filosofia” da festa realizada em meados de agosto, e instou a distrital de Faro a arranjar alternativas mais económicas e mais centradas no “convívio entre os militantes do Algarve”.

Pontal. Quando Marcelo pagava e Ferreira Leite dava tampas

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O assunto foi discutido na reunião da comissão política nacional desta quarta-feira e, segundo apurou o Observador, os moldes em que a festa se vai realizar deverão ficar fechados na reunião da próxima semana da comissão política da distrital algarvia. Três coisas são certas: vai haver festa do Pontal; vai ser, “muito possivelmente”, a 1 de setembro; e Rui Rio vai lá estar. 

Tudo o resto está em aberto. Ao Observador, o secretário-geral do PSD, José Silvano, assegura que o objetivo não é acabar com a festa do Pontal, apenas recentrá-la nos “valores que a fundaram”: “Será um convívio dos militantes algarvios, com a presença do líder, mas com menos custos e com a organização mais suportada pela distrital do que pela nacional”. Leia-se, com os custos a serem maioritariamente suportados pelo PSD Algarve, sendo que a direção nacional pode contribuir “ou com dinheiro ou com outro tipo de ajuda”, explica Silvano, lembrando que os custos com a festa têm andado na ordem dos “80 mil euros”.

O facto de não haver dinheiro, e de a ordem da direção ser de contenção de custos, é apenas um lado da história. Mas há mais. Rui Rio não concorda com a ideia de o PSD ter a sua “rentrée política” a meio de agosto, antes da maioria dos restantes partidos, seguindo-se depois duas semanas de vazio mediático até setembro — altura em que arranca de facto o ano político. Ou seja, de que serve gastar tanto dinheiro num momento político, para depois não ter o eco que devia ter? “É despropositado fazer uma rentrée política com estes custos, e com transporte de militantes, em meados de agosto. Não se justifica”, diz José Silvano ao Observador, ele que tem sido o porta-voz da direção nacional nas conversas com a distrital liderada por David Santos.

Passos Coelho, no último Pontal, em agosto do ano passado.

Assim sendo, segundo explicou o secretário-geral do PSD ao Observador, a ideia é que a festa do Pontal seja apenas uma festa de convívio regional, sem dimensão nacional (embora com a presença do líder), e que a verdadeira rentrée política do PSD seja o discurso de encerramento da Universidade de Verão, em Castelo de Vide. Este ano, segundo o secretário-geral, a Universidade de Verão deverá realizar-se no início de setembro, acabando dia 9. O Pontal será, por isso, uma semana antes.

Os novos moldes da festa é que ainda estão por concretizar. Ao Observador, o líder do PSD Algarve, David Santos, diz que nada está fechado e que para a semana deverá haver novidades. As conversações têm sido centralizadas entre o próprio e o secretário-geral do partido, mas está agora nas mãos da distrital perceber decidir o que vai fazer com as instruções que recebeu de cima. José Silvano diz que o orçamento deverá ser “o mínimo possível”, mas que cabe aos algarvios apresentar uma proposta à direção nacional.

Para já, David Santos limita-se a dizer que deverá ser no dia 1 de setembro, que é um sábado, que poderá ser no mesmo sítio, no calçadão de Quarteira, mas nem isso está fechado. Em vez de um jantar sentado, como era até aqui, onde o partido pagava a maioria das refeições, pode ser um sistema de “bancas”, onde cada um paga o seu consumo. “Vamos avaliar os custos de uma festa mais popular”, limita-se a dizer o líder da distrital.