A União Europeia (UE) apelou este sábado aos Estados Unidos para que reconsiderem a sua “decisão lamentável”, anunciada na véspera, de cortar o financiamento da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos.

A UE sublinhou a importância de prosseguir a ajuda internacional à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos, que gere escolas para centenas de crianças nos territórios da Palestina, mas também na Líbia, Jordânia e Síria.

Esta decisão lamentável dos Estados Unidos de não participar mais no esforço internacional e multilateral cria um vazio considerável”, declarou o porta-voz dos serviços diplomáticos e da cooperação exterior da União Europeia, em comunicado.

“Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem esta decisão”, disse o porta-voz, sublinhando que os Estados Unidos “desempenham e continuarão a desempenhar um papel essencial nos esforços para instaurar a paz no Médio Oriente”.

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“A União Europeia continuará a colaborar com os Estados Unidos e com outros parceiros internacionais e regionais para a realização desse objetivo comum”, adianta o comunicado.

Na sexta-feira, os Estados Unidos anunciaram o corte financeiro à agência da ONU, cujas atividades foram consideradas tendenciosas pela porta-voz do departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert.

Washington “não vai mais suportar uma parte desproporcionada deste fardo”, precisou Nauert em comunicado, observando que não haverá mais contribuições do que a concedida em janeiro de 2018, no valor de 60 milhões de dólares (51,5 milhões de euros).

Os palestinianos e a ONU também condenaram a decisão norte-americana, mas, ao invés, foi saudada por Israel.

A UE anunciou que discutirá com os seus parceiros internacionais sobre a forma de “assegurar uma assistência durável, contínua e eficaz aos palestinianos, através da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos”, antes da Assembleia-Geral da ONU, a realizar em setembro.

Em Ramallah, um porta-voz do presidente palestiniano considerou que a decisão norte-americana como “um ataque aos direitos do povo palestiniano”.

O porta-voz de Mahmoud Abbas alertou que a decisão norte-americana “não serve a paz e fomenta o terrorismo na região”.

Os Estados Unidos asseguravam cerca de 30% do orçamento das Nações Unidas para a agência na Palestina e exigem significativas reformas. A decisão agora tomada significa um corte de quase 300 milhões de dólares no apoio a esta organização.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos foi criada após a guerra da independência de Israel em 1948 para permitir a ajuda a cerca de 700 mil palestinianos que foram forçados a abandonar as suas casas e, mais tarde, a muitos milhares de descendentes.

Israel alega que a agência apenas tem vindo a perpetuar o conflito israelo-árabe e a crise dos refugiados.

Os Estados Unidos e Israel acusam a agência da ONU de manter a ideia – à qual se opõem – de que muitos palestinianos são refugiados dotados do direito de regressarem às suas terras de origem e das quais foram despojados após a criação de Israel em 1948.

“Israel apoia a decisão norte-americana”, declarou sob anonimato um responsável do gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

“Reforçar o estatuto do refugiado palestiniano é um dos problemas que faz o conflito [israelo-palestiniano] eternizar-se”, adiantou a fonte.

Entretanto, Hossam Zomlot, que representa em Washington a Organização da Libertação da Palestina (OLP) acusou os Estados Unidos de “renunciarem aos seus compromissos internacionais e à sua responsabilidade” perante um organismo criado por resolução da ONU em 1949.

A agência ajuda mais de três milhões de palestinianos num quadro de cinco milhões registados como refugiados, através das suas escolas e centros de saúde.

Segundo o responsável do gabinete de Netanyahu, Israel defende uma outra forma de ajuda aos palestinianos que passe pela utilização correta do dinheiro em benefício da população e que não perpetua o estatuto do refugiado.