Pedro Sánchez “copiou outros autores”, “usou informações do governo de Zapatero” e “repetiu artigos seus já publicados” no seu próprio trabalho final de doutoramento. Para o espanhol ABC, que acedeu à polémica tese académica do primeiro-ministro espanhol, não há dúvidas: Sánchez cometeu vários plágios na tese que defendeu em 2012 na Universidade Camilo José Cela, onde se doutorou com o título cum laude e na qual foi professor.
O documento “Inovações da diplomacia económica espanhola; análise do setor público (2000-2012)” — numa tradução livre do título original em espanhol — existe apenas na versão impressa. Por indicação do próprio Pedro Sánchez, o acesso ao documento original tem estado bloqueado ou fortemente limitado, o que tem contribuído para adensar a dúvida sobre a credibilidade do trabalho. A pressão mediática, contudo, levou o primeiro-ministro espanhol a anunciar esta quinta-feira, dia 13, que vai tornar pública e totalmente acessível a sua tese de doutoramento de 2012.
Para facilitar aún más el acceso a mi tesis, se abrirá en su totalidad a lo largo del día de mañana. Os dejo aquí una reflexión sobre lo que significó para mí y sobre todo lo especulado estos días al respecto: https://t.co/ZdqLiEf97r
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) September 13, 2018
São cerca de 300 páginas encadernadas a capa dura, com letras brilhantes inscritas na capa negra, e até agora apenas possível de consultar, sem possibilidade de cópia, nas próprias instalações da universidade. Pedro Sánchez nunca permitiu, até ao anúncio de hoje, a criação de cópia digital do documento para consulta online e mesmo o acesso ao trabalho tem sido restrito por indicação do próprio autor. O ABC, contudo, alega estar na posse de uma cópia e é com base nesse documento que sustenta haver plágio do “doutor Sánchez”.
A dúvida — que o líder dos socialistas e do governo espanhol continua a contestar, agravada com ameaças de processos judiciais contra quem insistir ou não corrigir as acusações — está a alimentar a imprensa espanhola e a inflamar a opinião pública, mesmo depois de a própria universidade ter iniciado um processo de investigação e concluído que apenas 15% dos conteúdos da tese coincidem com textos de outros autores. Descartou por isso, “para já”, qualquer acusação de plágio.
Universidade descarta plágio na tese de Pedro Sanchéz depois das dúvidas levantadas por deputado
Alguns analistas políticos, contudo, defendem que as suspeitas, agravadas pelos recentes casos de fraude ou plágio em trabalhos académicos de alguns políticos espanhóis (incluindo o que levou à demissão da ministra da Saúde Carmen Montón esta semana) estão a minar a credibilidade do governo. Há quem vá ainda mais longe e adiante que há risco de eleições antecipadas se as suspeitas não desaparecerem. Uma teoria que outras polémicas, como as dúvidas à volta da tese de Pablo Casado, recente líder do PP, ajudam a ganhar força. No caso do sucessor de Rajoy no PP, o Supremo Tribunal terá de decidir nas próximas semanas de avança com processo formal ou não.
O primeiro-ministro espanhol reagiu às acusações, através da sua conta no Twitter, e negou ter plagiado a sua tese de doutoramento, afirmando que as informações divulgadas por vários órgãos de comunicação social são “redondamente falsas. Pedro Sánchez acrescentou que, “a menos que haja retificação da informação publicada”, avançará com ações legais em defesa da sua honra e dignidade.
Las informaciones aparecidas en algún medio de comunicación que sostienen la existencia de plagio en la redacción de mi tesis doctoral son rotundamente FALSAS.
Emprenderé acciones legales, en defensa de mi honor y dignidad, si no se rectifica lo publicado.— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) September 13, 2018
Publicações como o ABC ou o El Español enumeram várias partes da tese que consideram ter sido copiadas ou retiradas de outros textos académicos. Também o El Mundo lista os vários trechos do documento, tendo ainda pedido avaliações externas do documento. Uma dessas opiniões, assinada por Manuel Conthe, antigo secretário de Estado da Economia, é arrasadora para as teorias do então professor da Universidade Camilo José Cela e atual governante. “Compreende-se por que razão Sánchez quis manter a sua tese em segredo: não é apenas pela mediocridade intelectual que as suas conclusões resumem, mas também pelo tom acrítico e elogioso do que se fez em Espanha no período 2000-2012, sem qualquer reflexão crítica relacionada com as ideias do PSOE do qual é secretário-geral”, escreve Conthe.
Circula ainda a teoria de que a tese pode ter sido escrita por outro académico, no caso, o economista Carlos Ocaña, que já negou essa possibilidade. “Limitei-me a colaborar na publicação do livro após a tese”, esclareceu.
(atualizado às 13h00 com o anúncio de Pedro Sánchez de que vai facilitar o acesso público à sua tese de doutoramento)