Foi um pormenor do debate quinzenal de quarta-feira que parece ter passado despercebido, mas que o líder parlamentar do PSD não vai deixar cair em esquecimento. António Costa prometeu enviar-lhe uma carta, por escrito, a responder à pergunta sobre se “faltou ou não à palavra aos portugueses” no caso da suposta transferência do Infarmed para o Porto. E Fernando Negrão prometeu divulgá-la publicamente assim que a recebesse, mesmo que o primeiro-ministro a quisesse manter em privado. Ora, foi a ausência dessa carta a primeira coisa que Fernando Negrão notou quando, esta manhã, chegou ao seu gabinete na Assembleia da República.

Queria dizer que não recebi nenhuma carta do primeiro-ministro hoje, foi a primeira coisa que fiz foi perguntar se já tinha chegado. Ainda não chegou, continuarei a aguardar e perguntarei todos os dias se a carta já chegou ou não”, disse aos jornalistas que o esperavam no final da reunião da bancada parlamentar do PSD que decorreu esta quinta-feira de manhã. E ainda notou mais: “O correio normalmente chega de manhã”, por isso é pouco provável que venha a chegar ainda no dia de hoje. E se for por e-mail? Não é aceitável, Costa prometeu “por escrito”, disse.

Que carta é esta? Ninguém percebeu bem qual será o conteúdo — o próprio Negrão disse não fazer “a mínima ideia” de qual poderá ser –, mas a verdade é que António Costa prometeu responder, por escrito, a Fernando Negrão quando este o questionou sobre se faltou ou não à palavra aos portugueses quando prometeu deslocalizar o Infarmed para o Porto, em dezembro passado, e agora vem dizer que “suspendeu o que disse” e que, afinal, é preciso pôr a comissão para a descentralização a refletir melhor sobre as vantagens dessa mudança de cidade.

“Não aceito lições — suas — sobre a palavra”, disse Costa no momento mais tenso do debate, recusando-se a responder “à questão pessoal” no debate e a prometendo enviar-lhe “por escrito a razão por que não aceita lições” do social-democrata sobre a sua palavra. Carta essa que o líder parlamentar do PSD sublinhou que iria divulgar publicamente quando a recebesse, juntamente com a respetiva resposta.

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PSD ainda sem decisão sobre comissão de inquérito a Tancos

Questionado sobre se o PSD já decidiu sobre como irá votar a comissão parlamentar de inquérito anunciada pelo CDS sobre o furto de armas em Tancos, Fernando Negrão afirmou que esse caso foi um dos temas abordados na reunião da bancada, mas remeteu uma resposta para mais tarde. “Aguardamos que o CDS nos transmita o objeto da comissão parlamentar de inquérito para depois tomarmos uma decisão”, afirmou.

Segundo Negrão, o tema mais debatido na reunião da bancada – que durou pouco mais de uma hora – foi o da saúde. “A acusação que a esquerda tem por hábito fazer ao PSD de que o PSD quer privatizar o Serviço Nacional de Saúde é uma verdadeira mentira de quem quer prejudicar este tema”, defendeu, salientando que “há muitos atores políticos do PS que vieram do setor privado da saúde”.

Segundo Negrão, para o PSD “o setor público da saúde deve ser preponderante, porque há muitos portugueses que não têm condições de acesso ao setor privado”. O Conselho Estratégico Nacional do PSD divulgou, a 13 de setembro, um documento com as linhas gerais da grande reforma que querem para a saúde, onde se defende uma generalização progressiva das Parcerias-Público-Privadas (PPP) não só em hospitais, mas também em unidades de cuidados primários.

PSD quer “generalizar progressivamente” as PPP na Saúde