A Assembleia do Instituto Karolinska — uma das maiores faculdades de medicina da Europa — anunciou esta segunda-feira às 10h30 o vencedor do Prémio Nobel da Fisiologia ou da Medicina: James P. Allison e Tasuku Honjo, um imunologista norte-americano e outro japonês, foram laureados pelos desenvolvimentos da imunoterapia como arma contra o cancro. O ano passado, os vencedores tinham sido os norte-americanos Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael Warren Young “por descobertas dos mecanismos moleculares controlando o ritmo circadiano”.

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A 2 de outubro, na próxima terça-feira às 10h45, a Academia Real das Ciências da Suécia vai revelar o vencedor do Prémio Nobel da Física. Um dia depois, na quarta-feira à mesma hora, essa sociedade científica também vai anunciar o galardoado com o Prémio Nobel da Química. Em 2017, o Nobel da Física foi para três pessoas: os norte-americanos Rainer Weiss, Barry Barish e Kip Thorne ganharam-no em conjunto “por contribuições decisivas para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais”. E o da Química foi para Joachim Frank e Richard Henderson, um norte-americano e outro britânico, “pelo desenvolvimento da microscopia crioeletrónica para a determinação em alta-resolução da estrutura de biomoléculas em solução”.

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Na sexta-feira, a 5 de outubro às 10h00, o Comité Nobel Norueguês — que é composto por cinco pessoas nomeadas pelo Parlamento da Noruega para um período de seis anos — vai anunciar quem é o laureado com o Nobel da Paz. Há um ano, o grupo australiano da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares venceu o prémio “pelo trabalho em chamar a atenção para as consequências humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos esforços inovadores para conseguir um tratado baseado na proibição de tais armas”. Há 331 candidatos ao Nobel da Paz.

Na segunda-feira seguinte, a 8 de outubro às 10h45, a Academia Real das Ciências da Suécia anunciará o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel. Este prémio não é um Nobel porque não é agraciado por vontade expressa do cientista, engenheiro, empresário e filantropo Albert Nobel. É, isso sim, uma condecoração estabelecida pelo banco central sueco quando a instituição completou 300 anos de existência. Mas é um prémio tão importante que até é anunciado juntamente com os Nobel e portanto é visto como um. Em 2017, o vencedor foi o norte-americano Richard Thaler “pelas contribuições à economia comportamental”.

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Nobel da Literatura não vai ser entregue este ano

Este ano, a entrega dos Prémio Nobel está envolto em polémica. A Academia anunciou que não vai entregar Nobel da Literatura este ano após cinco elementos do júri terem abandonado o comité devido a denúncias de fugas de informação e de abusos sexuais. Com menos cinco membros, o júri perdeu o quórum para avaliar e decidir o nome a quem atribuir o prémio. Em comunicado, os responsáveis pela Fundação Nobel disseram que “uma das circunstâncias que pode justificar uma exceção acontece quando uma instituição que atribui distinções é atingida por algo tão grave que pode minar a sua credibilidade”. Essa exceção abre-se para “ajudar a proteger a longa reputação do prémio Nobel”.

O escândalo surgiu em novembro de 2017, quando 18 mulheres fizeram uma denúncia anónima de abusos e agressões sexuais contra o dramaturgo Jean-Claude Arnault, que está ligado à Academia por causa do clube literário que gere e que é marido de um dos membros, Katarina Frostenson. A academia afastou-o e pediu uma auditoria independente sobre essas denúncias contra Jean-Claude Arnault, mas essas medidas dividiram opiniões. E cinco membros, entre os quais a secretária permanente em exercício, Sara Danius, e Katarina Frostenson, saíram do painel. Se apenas quatro pessoas tivessem deixado a Academia, o Nobel da Literatura poderia ser entregue à mesma.

Academia sueca não entrega Nobel da Literatura este ano

Esta não é a primeira vez que um prémio Nobel fica suspenso, embora nunca tal tenha acontecido por motivos como este. O Nobel da Literatura ficou por entregar em 1914 e 1918, em 1935, e depois em 1940, 1941, 1942 e 1943. A Academia nunca explicou porque é que suspendeu o prémio nesses anos, mas acredita-se que tal tenha acontecido por causa das duas guerras mundiais. Essa razão não explica, no entanto, porque é o Nobel da Literatura não foi dado em 1935, embora a política possa estar envolvida por causa do aumento de poder do Partido Nazi na Alemanha — e na atmosfera de tumulto que se adivinhava na Europa.

Na verdade, o Prémio Nobel da Economia é o único que nunca sofreu interrupções desde que foi criado: o da Física foi suspenso em seis anos, o da Química em oito, o da Medicina em nove e o da Paz em dezanove anos. Todos têm algo em comum: todos foram interrompidos entre 1940 e 1942, muito provavelmente por causa da II Guerra Mundial. De qualquer modo, também nessas ocasiões a Academia foi vaga a explicar o motivo das suspensões: disse apenas que “se nenhuma das obras consideradas for da importância indicada no primeiro parágrafo [do regulamento] , o prémio em dinheiro será reservado até o ano seguinte. Se, mesmo assim, o prémio não puder ser concedido, o valor será adicionado aos fundos restritos da Fundação”.

Essa regra também alimentou a suspeita de que o Nobel da Literatura não foi entregue em 1935 porque os nomeados para os prémios não teriam tido um impacto importante na sociedade. Entre esses nomeados, no entanto, estavam Eugene O’Neill, Roger Martin du Gard, Frans Eemil Sillanpää e Johannes Vilhelm Jensen, que ganharam Prémios Nobel em anos seguintes. Em 1935, o Nobel da Paz também ficou por entregar, mas o jornalista Carl von Ossietzky acabou por ser laureado com esse prémio um ano mais tarde.

Os portugueses nos Prémios Nobel

O processo para nomear pessoas para um Prémio Nobel começa em setembro, mas os nomes das que são analisadas pela Academia sueca não podem ser revelados até terem passado cinco décadas desde a entrega do prémio: “Não podem divulgadas propostas recebidas para a concessão de um prémio, e investigações e opiniões sobre a concessão de um prémio. O órgão que concede o prémio poderá, entretanto, após a devida consideração em cada caso individual, permitir o acesso ao material que formou a base para a avaliação e decisão relativa a um prémio, para fins de pesquisa em história intelectual. Essa permissão não pode, no entanto, ser concedida até pelo menos 50 anos após a data em que a decisão em questão foi tomada”, lê-se no regulamento.

Neste momento sabemos que já houve dez portugueses nomeados para um Nobel. Duas dessas nomeações foram para um Nobel da Medicina: Aldo Castellani, médico do rei italiano Humberto II que se exilou em Portugal em 1946, recebeu quatro nomeações em 1953 pelos avanços feitos ao longo da carreira no Instituto de Medicina Tropical; e o cirurgião António de Sousa Pereira foi indicado pelo pediatra António de Almeida Garrett também em 1953. Além disso, houve uma nomeação para um Nobel da Paz: Sebastião Magalhães Lima, fundador do jornal O Século, foi endossado por Feio Terenas após ter criado a Liga Portuguesa da Paz.

Todas as outras nomeações foram para o Nobel da Literatura. João da Câmara foi nomeado em 1901, na primeira edição deste prémio, indicado por Joachim Coelho de Carvalho (presidente da Academia Portuguesa das Ciências) pela obra “Meia Noite”. João Bonança foi nomeado em 1907 endossado Teófilo Braga, graças à obra “História Da Luzitânia E Da Ibéria Desde Os Tempos Primitivos Ao Estabelecimento Definitivo Do Domínio Romano”. António Correia de Oliveira foi nomeado 14 vezes desde 1933, uma das vezes por indicação de um membro da própria Academia. Maria Madalena Martel Patrício é a única mulher da lista e foi nomeada 14 vezes entre 1934 e 1944 por Bento Carqueja e António Pereira Forjaz. Teixeira de Pascoaes conseguiu a mesma proeza nos anos 1942, 1943, 1944, 1947 e 1948 por João António de Mascarenhas Júdice. Júlio Dantas foi nomeado em 1950 endossado pela Academia de Ciências de Lisboa. E Miguel Torga foi nomeado sete vezes entre 1959 e 1966, sempre por estrangeiros exceto no caso de Hernâni Cidade.

Mas nem só de nomeações é feita a história de Portugal com os Nobel. Em 1998, o Nobel da Literatura foi para José Saramago, “que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia”. E em 1949, o Nobel da Medicina foi para António Egas Moniz e para o suíço Walter Rudolf Hess “pela descoberta da relevância da leucotomia (lobotomia) pré-frontal no tratamento de certas doenças mentais”. De resto, Portugal também pertence a algumas instituições vencedoras de Prémios Nobel da Paz, como é o caso da Organização para a Proibição de Armas Químicas (2013), União Europeia (2012), Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (2007) ou Médicos Sem Fronteiras (1999).