“Então, o funcionamento desta peça é decisivo para que o comboio possa funcionar”. A frase de João Oliveira podia referir-se à “geringonça”, sendo o PCP a peça indispensável para colocar a locomotiva – leia-se: o Governo – nos eixos. Mas não. Metáforas à parte, esta foi a conclusão do líder parlamentar dos comunistas depois de ouvir uma explicação de um trabalhador da EMEF sobre o distribuidor de freio. A conversa aconteceu durante uma visita que um grupo de deputados fez esta segunda-feira às instalações da empresa de manutenção de equipamento ferroviário no Entroncamento.

João Oliveira liderava a comitiva composta por mais dois colegas de bancada: Bruno Dias e Duarte Alves, o economista que entrou para a Assembleia da República para substituir o carismático Miguel Tiago. Guiados por um dos administradores do complexo, num percurso que durou pouco mais de meia hora, esta tríade ia cumprimentando os mais tímidos e ouvindo os menos envergonhados. Depois de estenderem a mão, recebiam muitas vezes um antebraço, já que as mãos dos funcionários estavam quase sempre manchadas pelo óleo das peças que estavam a recuperar antes de serem surpreendidos pelo grupo. Pelo meio, encontraram um trabalhador que tinha acabado de regressar de férias e que estava satisfeito por ter entrado recentemente para o quadro. “Foi graças ao PREVPAP [o programa do Governo para passar para os quadros os trabalhadores com vínculos precários]”. Satisfeito ficou também João Oliveira: “Ora aqui está um exemplo daquilo que temos andado a fazer”, disse, bem disposto.

Sempre que paravam para ouvir explicações mais técnicas, Bruno Dias surgia como o deputado mais animado, informado e entusiasta. “Essa peça é exclusiva dos comboios azuis da Fertagus”, explicava Flávio Soares, um experiente técnico de reparação. “Que são os mesmos que estão pintados de vermelho na Azambuja”, completou Bruno Dias. “É verdade… Antes eram verdes, agora parecem o autocarro do Benfica”, respondeu-lhe o trabalhador, aparentemente indiferente à cor política dos deputados que tinha à frente.

No final da visita, que foi antecedida de uma reunião entre os deputados e administração das instalações, João Oliveira falou aos jornalistas para apresentar conclusões preliminares. “Além das contratações de trabalhadores que foram anunciadas pelo Governo é necessário ir mais longe“, começou por dizer, voltando a deixar no ar uma subtil crítica à falta de ambição do Executivo, à semelhança do que fizera no discurso inaugural das jornadas parlamentares do PCP, que arrancaram esta segunda-feira de manhã em Santarém.

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Para a parte final das declarações, guardou um pedido. “Esta visita permitiu (…) entender que é necessário integrar a EMEF na CP, de onde nunca devia ter saído”. E reforçou a ideia: “Como costumamos dizer: não há EMEF sem CP nem CP sem EMEF. Por isso é necessário um plano estratégico” que pense na conjuntura e que conceba a fusão das duas entidades.

João Oliveira pediu ainda que se desse mais atenção a esta empresa e que se apostasse na qualificação dos trabalhadores, “para que não se perca o know-how”, e que se aumente o número de funcionários para que a EMEF consiga fazer face à quantidade de trabalho existente.