Crescer numa família que não pode pagar a eletricidade ou comprar material escolar, mesmo que os pais estejam empregados, abarca uma maior probabilidade de fracasso nos estudos das crianças e de o índice de obesidade ser maior. Em entrevista ao El País, o Alto Comissário para a luta contra a pobreza infantil do governo espanhol, Pau Marí-Klose, afirma que a pobreza na infância condena uma vida.

Pau Marí-Klose assumiu o cargo há apenas três semanas, depois de a sua antecessora ter sido nomeada Ministra da Saúde. “Quando me chamaram, estava a corrigir exames”, conta, em entrevista. Professor na Universidade de Saragoça, pediu uma licença para poder reunir os esforços necessários para enfrentar um problema que tem sido ignorado há anos em Espanha.

Embora não tenha experiência política, está à frente de uma instituição recém-criada que opera com o objetivo de destruir barreiras e superar inércias institucionais. Considera urgente a melhoria dos subsídios a famílias com crianças a cargo, cujo valor se situa atualmente em 291 euros anuais, e propõe também melhorias a nível da educação e da higiene clínica.

Segundo o comissário, a falta de estímulos em casa ou a impossibilidade de ingressar numa escola primária abrem fendas cognitivas em idades muito precoces, o que faz com que as crianças, quando chegam ao ensino básico, tenham níveis cognitivos menores do que outras.

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Acabar com o fracasso educativo de crianças que poderiam ter um forte potencial para a sociedade é visto como uma mais valia pelo comissário, para contrariar parte da tendência que se tem vindo a desenhar no país. “A pobreza na infância leva a que o país desperdice o talento natural das crianças. Estas podiam vir a ser adultos proativos, com boas profissões, mas muitas vezes tornam-se num custo para a sociedade”, sublinha Marí-Klose. A má alimentação e a falta de desporto são outros dois fatores que contribuem para uma saúde vulnerável destas crianças.

UNICEF. Cerca de 20% das crianças em países ricos vive em pobreza relativa