A paz está longe de chegar ao PSD. A cada reunião de bancada, novo conflito. Tudo começou quando, na reunião desta quinta-feira de manhã, a antiga vice-presidente da direção de Passos Coelho, Teresa Morais, denunciou que há vários deputados que estão a ser silenciados na bancada social-democrata. Pouco depois, o ex-líder da bancada do PSD, Hugo Soares, deu força à contestação, ao dizer que é “grave” a acusação e “ainda mais grave” que a mesma não tenha sido “desmentida categoricamente” pela direção do grupo parlamentar, apurou o Observador junto de vários deputados presentes.

O líder parlamentar do PSD saiu da sala e não quis falar aos jornalistas, como é habitual no fim das reuniões da bancada parlamentar. No entanto, o deputado parece ter reconsiderado a decisão e mais tarde decidiu prestar declarações à imprensa. “Ouvi as críticas com naturalidade”, começou por dizer tentando desvalorizar a polémica. De seguida, negou as acusações de saneamento. “Nunca silenciámos nenhum deputado nem recebemos qualquer indicação da direção para silenciar o deputado A ou o deputado B”, afirmou Fernando Negrão. Aquilo que houve, explicou, “foi uma mudança de direção”, o que implica sempre “uma mudança de protagonistas“.

Vários outros deputados de destaque juntaram-se ao protesto contra o “silenciamento” denunciado por Teresa Morais. Todos eles são habitualmente críticos de Rui Rio. A antiga ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz denunciou igualmente que “há deputados manifestamente silenciados” e que “não lhes é dado qualquer fórum de intervenção mais audível“. E acrescentou mesmo: “Há deputados a quem não é distribuído trabalho.”

O antigo vice-presidente da bancada, Carlos Abreu Amorim, também concordou que a situação do silenciamento era uma realidade na bancada laranja. “Não vamos fingir que este problema [levantado por Teresa Morais] não existe e também não vamos fingir que o podemos resolver à última hora [na reunião de bancada] só porque há um ou dois órgãos de comunicação social que começam a enviar mensagens a deputados a perguntar e se percebe que vão sair notícias sobre isso na comunicação socail”. Mas atacou a estratégia de oposição de Rui Rio, dizendo que há “um défice claro de oposição” e que “as pessoas não estão satisfeitas com a oposição que o PSD tem feito”. Acusou ainda Rio de não se focar no ataque a António Costa (tal como Teixeira da Cruz também tinha feito), mas com um detalhe: elogiou Fernando Negrão por, ao contrário do líder do partido, apontar sempre baterias ao primeiro-ministro.

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O deputado António Topa — apoiante do líder — saiu em defesa da direção de Rui Rio, dizendo quem em vez de criticarem, os deputados deviam unir-se em torno do líder. E, ao mesmo tempo que olhou para o Pedro Pinto, criticando os que nas autárquicas gastaram muito dinheiro e não tiveram bons resultados eleitorais, como foi o caso da distrital de Lisboa.

Numa reunião que voltou a não ser propriamente pacífica, Hugo Soares criticou ainda as declarações do secretário-geral, José Silvano, quando anunciou que, no Orçamento do Estado para 2019, o partido ia ter “uma posição diferente do PSD dos outros anos“, apresentando “medidas concretas” alternativas, incluindo sobre a função pública. O ex-líder parlamentar do PSD lamentou estas declarações do secretário-geral, pois considerou-as um ataque à anterior direção. Nos tempos de “geringonça” PSD só não apresentou propostas de alteração ao Orçamento do Estado no Orçamento do Estado para 2016. Mas nos dois anos seguintes, no OE para 2017 e no OE para 2018, apresentaram propostas — que acabaram vetadas pela esquerda. No final da reunião, Fernando Negrão anunciou que o grupo parlamentar volta a reunir na próxima semana sobre Orçamento do Estado.

Sobre a recente indicação de um deputado do PS para Entidade Reguladora do Setor Energético, Paulo Teixeira da Cruz sugeriu a Fernando Negrão que é oportuno refletir sobre legislação sobre incompatibilidades para estas situações.

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