O PS está à procura de um parceiro de última hora para aprovar o pacote da habitação que inclui benefícios fiscais para senhorios que façam contratos longos, perante a pressão que o primeiro-ministro deixou ainda esta quarta-feira no debate quinzenal. A questão fiscal é rejeitada pela esquerda, parceiro natural do PS nesta legislatura, por isso o partido vira-se agora para o lado de lá da “geringonça”.
O deputado João Torres chamou esta quinta-feira todos os partidos “à responsabilidade” para uma solução que resolva os problemas do arrendamento no país e, à falta da esquerda, sublinha agora que “o PS nunca enjeitou nenhum diálogo com nenhuma força política na Assembleia da República”. Os socialistas estão, assim, “disponíveis para qualquer tipo de entendimento” com “outras forças políticas, que não o PCP ou o Bloco de Esquerda”, disse o deputado depois da reunião da bancada parlamentar.
A máxima é “interagir com todos”, para responder a um apelo que já veio do próprio primeiro-ministro, ainda no último debate quinzenal, com António Costa a pedir urgência na Assembleia da República sobre as iniciativas que visam resolver os problemas de habitação, sobretudo no mercado do arrendamento — mais intensos nos grandes centros urbanos. Uma das vozes que veio recentemente fazer um apelo semelhante foi precisamente o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina. No discurso do 5 de outubro, Medina desafiou os partidos que compõem a “‘geringonça”, mas o PS parece já ter desistido desta via.
E isto porque o PS se recusa a recuar na questão dos benefícios fiscais aos senhorios. “Era preciso que houvesse propostas com a mesma amplitude transformadora” das que o Governo apresentou, responde João Torres quando confrontado com a hipótese de deixar cair o que afasta a esquerda no pacote legislativo da habitação — e não entraram propostas de alteração neste sentido. Para os socialistas, “os benefícios fiscais são uma forma de atuar no imediato para ver as consequências da legislação”.
A votação das propostas, no grupo de trabalho que está a funcionar no Parlamento sobre a habitação, estava prevista para esta quinta-feira, mas o PS pediu o adiamento, tentando evitar um chumbo. O partido insiste “no amplo consenso”, numa altura em que já terminou o prazo para a entrada de propostas de alteração ao que o Governo propôs inicialmente e dramatiza o apelo:
É importante que nos dirijamos às classes médias que estão a sentir esta pressão imobiliária. É muito importante que cada grupo parlamentar seja chamado às suas responsabilidades de forma a que esta não seja uma oportunidade perdida“.
O grupo de trabalho da Habitação, Reabilitação Urbana e Políticas de Cidades reúne-se esta quinta-feira, depois do plenário, e o assunto voltará a ser colocado em cima da mesa pelo PS.