O presidente norte-americano Donald Trump pediu à Turquia a gravação que comprova a morte do jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, está a avançar a BBC. Em declarações aos jornalistas durante uma cerimónia na Casa Branca, Trump disse que pediu a gravação “no caso de ela existir”: “Não tenho a certeza que ela [a gravação] exista. Talvez sim, talvez não. Vou ter um relatório completo sobre isso quando Mike Pompeo regressar. Vai ser a primeira coisa que lhe vou perguntar”, afirmou.
Gravação de áudio revela novos detalhes sobre desaparecimento de jornalista saudita
As declarações do presidente dos Estados Unidos chegam um dia depois de ter publicado no Twitter que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita “negou totalmente qualquer conhecimento do que aconteceu no seu consulado turco”. Questionados pelos jornalistas sobre se está a tentar proteger o governo saudita de uma eventual responsabilidade pela morte de Jamal Khashoggi, Donald Trump respondeu que não: “A Arábia Saudita tem sido um aliado muito importante. Quando fui para lá, eles comprometeram-se a comprar 450 mil milhões de dólares em bens e 110 mil milhões de dólares em militares. Só quero descobrir o que está a acontecer”.
Novos pormenores sobre o conteúdo dessa gravação foram publicados esta quarta-feira nos meios de comunicação social turcos, controlados pelo governo de Erdogan. Segundo esses relatos, Jamal Khashoggi entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul para tratar de documentos para o casamento, mas terminou a ser esquartejado ainda com vida na sala do cônsul Mohammed al-Otaibi. As imagens de videovigilância sugerem que, depois disso, as partes do cadáver foram distribuídas em sacos e levadas em carrinhas para perto da residência do cônsul, que entretanto saiu da Turquia.
A morte de Jamal Khashoggi será da responsabilidade de uma equipa de 15 agentes com ligações ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman. Esses agentes já estariam no interior do Consulado no momento em que o jornalista entrou no edifício, a 2 de outubro às 13h15 locais, e estavam acompanhados por um médico legista que os aconselhou a ouvir música para descontraírem. Quando Mohammed al-Otaibi pediu que o crime fosse cometido fora da sala dele, um dos agentes respondeu: “Cala-te se quiseres continuar vivo quando voltares à Arábia Saudita”.
Arábia Saudita envia 100 milhões de dólares aos EUA durante visita de Mike Pompeo
Os Estados Unidos receberam um pagamento de 100 milhões de dólares vindos da Arábia Saudita na terça-feira, o mesmo dia em que o vice-presidente Mike Pompeo esteve em Riade para falar com Mohammad bin Salman sobre o desaparecimento e presumível assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Isso foi confirmado ao Washington Post pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos esta quarta-feira.
Segundo as autoridades sauditas, esse dinheiro servirá para “apoiar os esforços de estabilização no nordeste da Síria”, mas especula-se que possa ter algo a ver com a morte de Khashoggi nas mãos de agentes sauditas em Istambul. O Departamento de Estado já veio negar essa teoria: “Sempre esperámos que a contribuição fosse finalizada por esta altura. A transferência específica de fundos tem sido longa no processo e não tem nada a ver com outros eventos ou a visita de Mike Pompeo”, afirmou Brett McGurk, responsável pela coligação anti-Estado Islâmico, em comunicado ao Washington Post.
Apesar de Trump ter prometido mão pesada aos responsáveis pela morte do jornalista saudita, o discurso torna-se mais leve quando a responsabilidade começa a ser apontada ao príncipe herdeira da coroa saudita. Numa entrevista dada à The Associated Press esta terça-feira, Trump disse: “Acho que temos de entender o que aconteceu primeiro. É outra vez aquela questão, já sabe, é-se culpado até que se prove a inocência. Eu não gosto disso. Já passámos exatamente por isso com Kavanaugh e ele esteve sempre inocente, tanto quanto sei”. Entretanto, Trump foi para o Twitter dizer que o título do artigo da AP sobre essas declarações — “Trump critica pressa em condenar a Arábia Saudita sobre Khashoggi” — é “fake news”.