Há 27 anos, a Moda Lisboa dava o ar da sua graça num Portugal ainda pouco habituado a essas andanças. Só para se ter uma ideia: não havia telemóveis, tampouco internet. As revistas femininas ainda eram uns bebés, na televisão só víamos dois canais e o mais próximo da tecnologia que se estava era com um walkman no bolso do casaco para ouvir cassetes de música.
Em Abril de 1991, no Teatro S. Luiz, Ana Salazar, José António Tenente, Luís Buchinho, Nuno Gama, Júlio Torcato e Alves Gonçalves foram seis dos onze estilistas que, nesse ano, apresentaram pela primeira vez as suas coleções naquilo que era tão arrojado e, ao mesmo tempo, tão mágico, um mundo de fantasia, um mundo onde tudo pode acontecer – um desfile de moda.
Mas há mais do que aquilo que chega ao olho do público que hoje acompanha tudo ao minuto através das redes sociais. Falamos das pessoas que dão vida ao que os nossos olhos veem. Porque a história que se conta é um diálogo entre a moda e a beleza. Se a roupa expressa a nossa individualidade, o cabelo é o espelho da nossa identidade. E há dois nomes em Portugal cujas histórias vale a pena contar: Helena Vaz Pereira e Vasco Freitas.
Um diálogo entre a moda e a beleza
A L’Oréal Professionnel comanda os cabelos da moda em Portugal há mais de dez anos. É quem ordena as hostes no backstage da Moda Lisboa e dá vida às criações dos profissionais que tornam o cabelo em obras de arte. Porque é disso que se trata. Criar arte com aquilo que somos. O cabelo representa a nossa história e a forma como nos apresentamos ao mundo. É de tal forma importante que se diz que, ao longo da vida, uma mulher gasta aproximadamente cinquenta mil euros com o seu cabelo e quase duas horas por semana a lavar e a tratar dele com os seus produtos de styling.
A Moda Lisboa também representa isto: as tendências de cabelos que se vão ver nas ruas. Não só como se vão vestir mas também a forma como as mulheres se vão expressar no próximo ano. Se, este ano, Filipe Faísca apostou nos cabelos naturais e soltos numa ode à simplicidade, Dino Alves voltou a trazer os apanhados em coque bem compostos, um revivalismo dos anos noventa que, afinal de contas, nunca sai de moda. Porque os cabelos também são isto: a naturalidade de podermos ser quem quisermos.
Helena Vaz Pereira: a mulher que conta histórias há 22 anos
Como se conta uma história entre a moda e a beleza? “No fundo é como uma receita, tens de ter as doses certas de bom gosto, sensibilidade, harmonia, criatividade técnica e, por fim, uma modelo incrível que interprete tudo isto, é acima de tudo um trabalho de equipa”, explica Helena Vaz Pereira que já conta com 22 anos no backstage da Moda Lisboa, uma vida dedicada à beleza que a tornou um dos nomes de maior peso na moda nacional. Como contou ao Observador na edição passada, passam-lhe cerca de 200 cabeças pelas mãos em cada temporada de desfiles. É muita história para contar e muita tendência para antever. “Para criar tendências é preciso ter intuição e aquele feeling para se sentir as correntes de várias áreas como a música ou a arquitetura, mas, no meu caso, é também estar atenta a tudo o que vejo e que me influencia pelo mundo. Temos de ser autênticos, genuínos, marcarmos o nosso posicionamento e arriscar, sem medo. Porque as tendências, ou as crias, ou as segues”.
Da magia da passerelle para a vida real, as tendências têm de ser adaptadas. E Helena explica que as mulheres chegam sempre ao GriffeHairstyle, o seu salão, com uma expectativa, por vezes real, outras vezes um pouco utópica. Porque, na verdade, depois das luzes se apagarem e o desfile terminar, todas nós somos mulheres reais. E todas queremos dar vida às tendências mas, nesta era das redes sociais, também é preciso manter a nossa individualidade. “Normalmente as mulheres trazem referencias que viram nas redes sociais ou seguem esta ou aquela celebridade e querem ser aquela mulher. Cabe a nós hairstylists fazer um diagnóstico, perceber bem o que a cliente quer e aconselhar o que achamos que é mais indicado. É através desta partilha que se cria uma relação de confiança e satisfação com as clientes.”
Vasco Freitas: a levar as mãos de Portugal ao mundo
Há 13 anos como diretor criativo do Portugal Fashion com Redken, Vasco Freitas tem arte nas mãos. E a arte não se prova só em frente às câmaras e aos holofotes. A arte vive nas ruas, no dia-a-dia e na forma como se eleva na vida real. Ainda no mês passado assinou o cabelo da atriz Cate Blanchett na passadeira vermelha do Festival de Veneza, mas, de volta a casa, ao Porto, também volta à sua paixão. “Esta é a razão pela qual não me consigo desligar nunca do meu salão, porque além de ser um motivo que me mantém ativo 365 dias por ano, é onde realmente provo o meu trabalho. Aí sim, são mulheres reais e os riscos também são reais. Uma mudança pode tirar alguém de uma depressão mas também posso ajudar a potenciar uma… Mas é muito satisfatório quando as minhas clientes saem daqui, vão às grandes cidades e aos melhores locais e me agradecem porque até aí se sentem atuais. E por vezes os seus cabelos são alvos de cobiça”, diz-nos Vasco sobre o desafio de transportar tendências de moda para o mundo real.
Podemos viver neste país à beira mar plantado e a verdade é que ainda somos novatos. Em 1943, já Nova Iorque organizava a sua semana de desfiles e em 1945 seguiu-se Paris. Nos anos 50 chegou a vez de Milão e nos, anos 80, de Londres. Mas sermos jovens não significa que não tenhamos o poder de criar tendências e de as levar até lá fora. E Vasco Freitas é prova disso. As suas mãos já passaram pelos cabelos de desfiles de nomes como Chanel, Versace ou Fendi e isto é conhecimento que se leva e, claro, que se traz: “O mais importante para mim nas idas às Fashion Week internacionais é o simples facto de poder aprender e estar com os melhores do mundo na minha área. Mas vale muito o que trago para que os meus clientes não sintam necessidade de ir lá fora procurar profissionais a escala mundial”, explica Vasco, salientando que esses são os dois grandes focos que o mantêm sempre empolgado em cada temporada.
Tendências e cabelos. Do desfile para as ruas
A mulher portuguesa ainda é muito conservadora e Vasco Freitas salienta que, apesar de tudo, Portugal já está muito evoluído no que respeita à imagem, muito graças às redes sociais que vieram uniformizar esse campo. “Mas eu gostaria que as portuguesas tivessem mais vontade em descobrir e criar um estilo do que propriamente imitar os das suas referências”, admite. E hoje temos tudo à distância de um click. Podemos seguir, tanto celebridades e modelos, como mulheres reais iguais a nós que também nos inspiram. E isso também cria tendências, há uma evolução constante e quase diária nas redes sociais.
“Não diria que há pressão para nós profissionais estarmos sempre a inovar, encaro antes como um desafio. Quando já trabalhas há anos e já fizeste tanta coisa, chegas ao ponto em que faz parte do processo dizeres ‘já fiz isto’. E aí tens de te reinventar e eu gosto muito de desafios”, diz Helena, confessando que ainda fica nervosa em cada ano. “O que nunca muda é esta adrenalina”, conclui. Vasco salienta a necessidade de não se repetir, mas “mais do que uma mudança em cada ano, tento criar uma evolução”, explicando que há toda uma ética de respeito pelo que os maiores mentores e marcas da moda estão a fazer, mas no final vem a tela, e essa é ele que a pinta. A tela é a cara e o cabelo de cada mulher. “Vejo mais as coisas como ter de lidar com o ADN e com o estado de espírito de cada pessoa para criar uma emoção positiva no final.”
Quer ter em casa os produtos que mais se usam no backstage para criar magia? Helena Vaz Pereira destaca alguns essenciais na sua mala: o Fix Design para controlar o cabelo, o Mythic Oil para nutrir e o Morning After Dust, um champô seco para reavivar o cabelo. Vasco Freitas sugere os produtos Redken One United e Argan Oil, por serem produtos altamente multifacetados e perfeitos para o verão. O primeiro, por ser um spray com multibenefícios, ideal para ter na mala para qualquer necessidade; já o Argan Oil é o aliado perfeito em óleo.