No lançamento deste encontro, Maurizio Sarri, treinador do Chelsea, fez questão de elogiar José Mourinho. “Atenção, estamos a falar de um treinador que ganhou tudo em todos os lados. Por isso, há que respeitar e creio que vocês [comunicação social] têm também de fazer isso. É um dos melhores técnicos do mundo e estamos apenas com oito jornadas até ao momento”, destacou. No entanto, uma vista de olhos mais atenta pelos jornais internacionais (sobretudo os espanhóis e os ingleses, que deram um palco maior ao encontro) mostrava uma outra realidade – recordavam-se as más terceiras épocas do técnico português, o arranque demasiado irregular do Manchester United e o perfume do futebol romântico dos blues.

Depois dos elogios antes do jogo, Sarri pediu desculpas a Mourinho pelo comportamento do adjunto (GLYN KIRK/AFP/Getty Images)

Mais parecia que o resultado final estava escrito por antecipação mas quem é vivo sempre aparece e o que se viu em Stamford Bridge nada teve a ver com o lançamento da partida: no regresso ao local onde continua a ser visto por muitos como uma espécie de Deus (ainda que agora mais mundano do que quando lá estava), Mourinho viu um Manchester United com pouca chama na primeira parte fazer a reviravolta no segundo tempo – onde foi claramente superior ao adversário –  e, no final dos descontos, consentir o empate a dois diante de uma equipa que ainda não tinha sofrido qualquer derrota na Premier League (seis triunfos, dois empates). No entanto, a história deste reencontro estava longe de ficar por aqui.

Durante alguns minutos na ponta final do encontro, também por causa das substituições e do tempo que cada uma ia demorando, Mourinho andou a par de Sarri junto à linha lateral mas a última imagem antes do 2-2 apontado por Ross Barkley mostrou-o com um ar calmo, sentado no banco, de perna estendida. Quando houve o golo, o português mal se mexeu mas uma provocação de um elemento que saiu da zona técnica do Chelsea (o adjunto Marco Ianni) levou à explosão do treinador, juntando dezenas de pessoas na zona do túnel de acesso aos balneários a tentar separar pessoas dos dois clubes. Sarri, que nada teve a ver com o início da confusão, foi pedir desculpas a Mourinho, que aceitou. Hilário, seu antigo guarda-redes, trocou algumas palavras antes de uma saudação carinhosa. Mas houve algo que deixou o técnico fora de si e foi por isso que o português aplaudiu os adeptos do United, levantou três dedos e disse para a zona onde estavam adeptos do Chelsea “Eu, aqui, três!”.

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“Eu, aqui, três!”: José Mourinho recordou os Campeonatos ganhos com o Chelsea à saída para os balneários (Clive Rose/Getty Images)

O que aconteceu foi com o adjunto de Sarri e este foi o primeiro a dizer-me que ia resolver o problema internamente. Depois disso o adjunto, no gabinete do Sarri, pediu-me desculpa. Disse-lhe que se ele se sentia assim, aceitava as desculpas e esquecia tudo. Já cometi muitos erros na minha carreira, não o vou matar por causa de um”, explicou José Mourinho no final do encontro.

Regressando ao jogo, o Chelsea foi melhor no decorrer da primeira parte e justificou a vantagem mínima ao intervalo com um golo de Rüdiger, na sequência de um canto batido na direita por Willian onde Pogba ficou a dormir na marcação. Hazard, que está a ter um início de temporada diabólico, foi sempre a principal referência ofensiva de uma equipa blue com princípios cada vez mais enraizados e por vezes demasiado românticos na altura de transformar aproximações no último terço em oportunidades. Já o Manchester United, com linhas mais baixas fazendo recordar a ideia de jogo com que a Inglaterra foi vencer a Espanha em Sevilha, teve dificuldades na saída em transição rápida e quase nunca conseguiu incomodar Kepa.

No segundo tempo, tudo mudou: os red devils conseguiram agarrar no jogo a meio-campo, foram secando as saídas ofensivas do Chelsea e soltaram as suas grandes setas para chegarem ao alvo que lhes falhara nos 45 minutos iniciais. Martial, que já tinha estado em destaque na reviravolta caseira com o Newcastle da última jornada, empatou aos 55′ e fez o 2-1 aos 73′ que colocava o Manchester United de forma pragmática na frente perante um adversário que parecia perder ideias por cada substituição que ia fazendo. No entanto, no último de seis minutos de descontos, Barkley aproveitou um lance onde a bola bateu no poste e andou a pingar na área para sucessivas recargas enquanto os defesas tentavam desviar o perigo com os olhos para fazer o 2-2 final que viria a entornar o caldo pelos excessos nas celebrações de um empate que pode tirar o Chelsea do topo.

Em atualização