Um mês e meio depois de Frederico Varandas ter tomado posse como presidente do Sporting, há pontos que mudaram na realidade verde e branca. No plano desportivo, por exemplo, os resultados e sobretudo exibições menos conseguidas começam a merecer maior contestação; na vertente financeira, o caso de Rui Patrício foi resolvido, o de Gelson Martins está em negociações e o novo empréstimo obrigacionista, que chegou a ser colocado em causa (esta sexta-feira, o Eco falava na possibilidade de haver um novo adiamento no pagamento do obrigacionista que vencera em maio e que passou após aprovação em AG para novembro), será uma realidade até ao final do ano – bem como o pagamento do anterior, com respetivos juros.

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Sem grande tempo para fazer balanços, há um aspeto que o líder leonino reconhece e que não é propriamente uma realidade recente no quotidiano do clube: a veia mais autofágica que empurra o Sporting para períodos mais conturbados de forma cíclica. “O clube é ingovernável. Quando me candidatei, muitos amigos e gente do Sporting disseram-me que eu ia candidatar-me para ao lugar de governação mais difícil do país, ainda mais do que o posto de primeiro-ministro. O número de presidentes que sai constantemente é um sinal de instabilidade e de que é muito mais difícil de ganhar do que nos outros lados. Mas acredito que vou mudar isto”, destaca Frederico Varandas em entrevista ao Expresso (conteúdo fechado), entre outros reparos à atuação de sócios e dirigentes, entre os quais Bruno de Carvalho, antigo presidente verde e branco.

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“O Sporting já sofreu muito para alimentar o ego das pessoas que usam e abusam do clube para se manterem vivos na comunicação social. Mas, no fundo, nada dão ao clube e isso é uma característica do Sporting. É necessário haver bom senso, sentido de Estado, e por isso não contem comigo para alimentar este circo que esconde o que vai acontecendo com os outros”, salienta. Ainda sobre Bruno de Carvalho, Varandas deixa um reparo e faz uma análise: por um lado, considera exagerado toda a centralização de direitos que havia no mandato anterior (dando o exemplo de uma fatura de 80 euros do hotel para um jogador quando veio fazer exames médicos que tinha de ser assinada pelo número 1), falando mesmo em “práticas da Idade da Pedra”; por outro, destaca a Assembleia Geral de 17 de fevereiro no Pavilhão João Rocha e o discurso final de vitória a atacar de forma aberta a comunicação social como o início de uma “espiral irreversível” que viria a terminar com a destituição.

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“Se o caso e-toupeira fosse no Sporting, a Direção já não tinha condições para continuar”, assume o presidente do Sporting, que diz acreditar na Justiça entre algumas farpas ao rival: “Tenho a certeza que o futebol português jamais será o mesmo, o dirigismo mudará, tudo será mais transparente. Estes casos do Benfica são uma vergonha para o futebol português, uma vergonha”. Sobre a Academia e tudo o que se passou antes, durante e depois do dia 15 de maio, Frederico Varandas deixa uma promessa –  “É como o luto, quando tudo ficar resolvido, aí explicarei o que aconteceu”.

Olhando para outros pontos da realidade leonina, o médico (que deixou de exercer) assegura que o empréstimo obrigacionista que existe atualmente “será pago dentro do previsto” – ou seja, daqui a um mês – e que o novo empréstimo obrigacionista será “montado e intermediado pelo Montepio para ser emitido em dezembro”. No caso de Patrício, fica a confirmação do valor recebido pelo Sporting no final de todo o processo de negociação com o Wolverhampton: 14 milhões de euros num total de 18, com a Gestifute, que tinha sete milhões a receber dos leões, a receber os restantes quatro e a prescindir do restante. “E o Rui abdicou de um milhão do ano de contrato que restava do Sporting e cinco milhões do prémio de assinatura”, acrescenta.

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Por fim e, mais sobre o futebol, Frederico Varandas destaca que idealiza um Sporting “a assumir-se como favorito em 32 jornadas da Primeira Liga e a jogar melhor do que o adversário” mas reconhece que a equipa não está atualmente nesse ponto. “O Sporting será assim. Hoje, não é. Sinto-me satisfeito com a qualidade do jogo? Não. Nem eu, nem o grupo, nem o treinador”, assume, prosseguindo: “80% do sucesso de uma equipa fica definido entre junho e final de agosto, com a construção do plantel e a pré-época, e os outros 20% definem-se na gestão de problemas durante o ano e no mercado de inverno. Com os 80% mal preparados, é impossível ter sucesso (…) Quero os melhores jogadores e o melhor treinador. Quero criar condições para este clube ser campeão, não se forma esporádica mas consistente”.

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