A Europa deve uma desculpa e um agradecimento a Portugal pelas “tremendas medidas” de austeridade que foram impostas durante a crise, afirmou Alexander Stubb, pré-candidato do Partido Popular Europeu (centro-direita) à presidência da Comissão Europeia.

“Penso que, de muitas formas, a Europa deve uma desculpa e um agradecimento a Portugal, no sentido de que as medidas de austeridade que o governo de centro-direita tomou em plena crise foram tremendas”, disse Stubb numa entrevista à agência Lusa em Lisboa.

Mas para o ex-primeiro-ministro (2014-2015) e ex-ministro das Finanças (2015-2016) finlandês, considerado um “falcão da austeridade”, não havia alternativa: “Tivesse eu de fazer o mesmo na Finlândia, como primeiro-ministro ou ministro das Finanças, tinha de avançar. É assim”.

O Governo de coligação PSD-CDS, “fez um ótimo trabalho numa situação difícil”, mostrando “muita coragem”, mas “desde que o governo mudou”, Stubb diz que “não tem visto muita ação”.

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“Se olharmos para o desenvolvimento económico português, gostava de ver um desempenho melhor. Penso que é a 20.ª economia com crescimento mais lento na Europa neste momento”, considerou Stubb, que é atualmente vice-presidente do Banco Europeu de Investimento.

Quanto ao futuro da União Económica e Monetária (UEM), Alexander Stubb assegurou que, enquanto “pró-europeu ávido”, é e sempre foi “a favor de mais integração” e de “aprofundar o euro”.

“Em relação ao euro, penso que demos passos enormes durante a crise, a legislação [de coordenação orçamental] ‘two pack’ e ‘six pack’, o mecanismo de estabilidade europeu e, obviamente, o embrião da união bancária. No final, quero ver uma união bancária plena, incluindo a garantia de depósitos e provavelmente uma mutualização da dívida”, assegurou.

“Mas isso não vai acontecer de um dia para o outro. As condições têm de estar lá [e] estamos a alguns anos disso”, advertiu.

Para Stubb, desenvolvimentos com o orçamento que Itália apresentou para 2019, que prevê “o agravamento anual da dívida em 40 mil milhões de euros durante três anos”, “não ajudam”, porque “aqueles que querem abrandar o curso nesta matéria, vão apontar o dedo à Itália”.

“Não sei qual é o Orçamento de Portugal, o da Finlândia é de cerca de 55 mil milhões, e se a Itália está a assumir 40 mil milhões por ano de mais dívida para aplicar uma política fiscal estúpida, não vai fazer avançar a causa da união bancária ou outros objetivos”, frisou.

Vice-presidente do Banco Europeu de Investimentos, Stubb sublinhou que esta instituição “é um exemplo de um banco completamente mutualizado”.

“Partilhamos dívida e funciona. Mas partilhamos dívida com base nas condições do mercado, não com base em decisões políticas, e é provavelmente isto que tem de ser tido em consideração”, afirmou.

Alexander Stubb, que disputa a designação como ‘Spitzenkandidat’ do Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita) com o alemão Manfred Weber, da CSU, foi entrevistado à margem da iniciativa Escola Europa, organizada pelo Partido Social-Democrata (PSD) de Portugal e pelo Partido Popular (PP) de Espanha com o apoio daquele grupo político europeu.

Após as eleições europeias, em maio próximo, cabe ao Conselho Europeu, compostos pelos chefes de Estado e de Governo dos membros da UE, designar um candidato à presidência da Comissão, o qual se submete depois a votação no Parlamento Europeu.

O Tratado de Lisboa determina que o resultado das eleições europeias seja tido em conta na escolha do presidente da Comissão, mas o Conselho não é legalmente obrigado a fazê-lo.

A escolha de candidatos pelos grupos políticos, os chamados “Spitzenkandidat” ocorreu pela primeira vez nas eleições europeias de 2014, em que Jean-Claude Juncker, candidato pelo PPE, sucedeu a José Manuel Durão Barroso.