Os 52 diretores e chefes de serviço do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho que apresentaram, em setembro, a demissão em bloco por falta de condições, apenas admitem recuar na sua decisão caso o próximo orçamento para a saúde contemple melhorias naquela unidade hospitalar. A garantia foi dada ao Observador pelo diretor clínico José Pedro Moreira da Silva, após uma reunião com os restantes demissionários.
“Notificámos a Assembleia da República, nomeadamente a Comissão de Saúde. Quando for discutido o programa da saúde no Parlamento, espero que os senhores deputados tomem alguma atitude relativamente ao Hospital de Gaia. Estiveram aqui a ouvir os nossos problemas e ansiedades, agora espero que seja tomada alguma medida. A bola está do lado deles“, afirma.
Demissão em bloco no Hospital de Gaia: 52 diretores e chefes de serviços saem em protesto
Os 52 diretores e chefes de serviço vão aguardar pela versão final do Orçamento de Estado para a área da saúde, que vai ser elaborada este mês na especialidade. A nova ministra, Marta Temido, vai ser ouvida pela Comissão de Saúde no próximo dia 6 de novembro e a votação final ocorre dia 29. É este o prazo para que os problemas encontrem respostas. “Poderemos voltar atrás se alguma atitude for tomada, se houver alguma medida prevista para o Hospital de Gaia. Caso contrário, avançamos com a nossa demissão”, acrescentou José Pedro Moreira da Silva ao Observador.
O responsável clínico explicou que as principais carências da unidade hospitalar prendem-se com a má qualidade das instalações, a falta de material e de também de funcionários — médicos, enfermeiros, pessoal administrativo e auxiliares. Que tipo de garantias os 52 demissionários esperam receber para pôr fim ao protesto? “Pelo menos alguma promessa de termos obras rapidamente, melhorias no material ou contratação de pessoal. Um destes três aspetos já ajudava”, diz José Pedro Moreira da Silva.
O diretor demissionário esclarece que os serviços de neurologia e radiologia são aqueles onde é mais grave a escassez de médicos e que a contratação de dez clínicos “ajudava a melhorar a situação” no Hospital.
As queixas e ameaças de demissão por parte dos responsáveis clínicos já tinham quase meio ano, mas foram concretizadas em setembro passado numa carta datada de julho. Um período em que a mais de meia centena de demissionários aguardava que os pedidos feitos ao Ministério da Saúde devolvessem alguma medida relativamente às áreas mais críticas — instalações, equipamentos e recursos humanos. Nada aconteceu.
As demissões tornaram-se, assim, inevitáveis para a mais de meia centena de responsáveis clínicos, que anunciaram a medida nas instalações do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.
Foi ali que, em conferência de imprensa, lado a lado com o bastonário da ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, José Pedro Moreira da Silva apontou como causas para a demissão coletiva as “condições indignas de assistência no trabalho e falta de soluções da tutela”.