Morreu a cantora Maria Guinot, que em 1984 representou Portugal na Eurovisão com a música “Silêncio e Tanta Gente”. A cantora, compositora e pianista tinha 73 anos. A informação foi avançada pela SIC Notícias.

Maria Guinot começou a carreira no final da década de 60 e colaborou com nomes como José Mario Branco, Carlos Mendes e Manuel Freire. Lançou três discos: “Esta palavra mulher”, de 1987, “Maria Guinot”, de 1991, e “Tudo Passa”, de 2004. Dedicou-se também à literatura e foi a autora de dois livros.

A cantora representou Portugal na Eurovisão em 1984, com a música “Silêncio e Tanta Gente”, tendo ficado no 11.º lugar. Três anos antes, em 1981, já tinha ficado no terceiro lugar do Festival da Canção com o tema “Um adeus, um recomeço” – neste ano, o vencedor foi Carlos Paião, com “Playback”. Em março de 1984, quando Maria Guinot venceu o Festival da Canção, o Diário de Lisboa levou o anúncio à capa do jornal e escreveu o título: “Festival guinou para melhor”.

Em 2010, a cantora sofreu três AVC e deixou de conseguir tocar piano. O velório de Maria Guinot realiza-se este domingo, a partir das 16h, na Igreja da Parede. O funeral realiza-se na segunda-feira, no cemitério de Barcarena.

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“Uma mulher generosa” cuja morte “pode ser também um recomeço”

Ao Observador, Júlio Isidro recordou precisamente esta canção como uma das suas melhores e mais marcantes obras. E recordou ainda outros dois temas “que definem quem foi Maria Guinot”: “Um Adeus e um recomeço” e “Falar só por falar”. Ironicamente, apontou, “ela nunca falou só por falar, nunca escreveu só por escrever nem nunca cantou só por cantar”. Em resumo, “nunca fez musiquinha, fez música”.

O apresentador lamentou ainda o facto de a artista”nunca ter tido o reconhecimento popular que merecia”, apesar de ter sido “reconhecida pelos seus pares”. Por isso, “isto é um adeus mas pode ser também um recomeço” para a cantora e a sua obra. “Tenho já saudades de Maria Guinot. Na verdade, já as tinha, porque ela acabou muito antes de ter desaparecido hoje”, concluiu.

Uma leitura da qual Carlos do Carmo “respeitavelmente” discorda. “Foi sempre uma pessoa fechada, que não procurava esse reconhecimento popular. Mais do que uma característica era uma atitude perante a vida”, lembrou em declarações ao Observador. “Tenho de discordar, respeitavelmente, do Júlio [Isidro]”.

Acima de tudo, Carlos do Carmo recordou uma “mulher generosa e uma pessoa de bem”. “Já não via a Maria Guinot há uns anos, mas penso tê-la conhecido bem. Foi sempre uma excelente companheira de profissão, de quem guardo uma grande saudade”, acrescentou.

“Uma canção certa num festival errado”

A noite que haveria de levar Maria Guinot para os palco internacional da Eurovisão foi, no mínimo, peculiar. No dia 7 de março de 1984, os finalistas do Festival da Canção subiram ao palco para interpretar os seus temas sem a habitual orquestra. Um diferendo entre a RTP e o Sindicato dos Músicos ditou que a edição daquele ano iria avançar sem a colaboração dos músicos. Todos os concorrentes foram, assim, obrigados a recorrer ao playback. Todos menos uma: Maria Guinot. A cantora fez saber à organização que precisava apenas de um piano. Ela própria iria tocar e cantar. E assim foi. Acabou por vencer e por garantir um lugar na Eurovisão.

O Diário de Lisboa do dia seguinte – 8 de março de 1984 – escreveu então uma crónica da noite. Sob o título, “Uma canção certa num festival errado”, o regional descrevia a vitória da cantora como sendo o único ponto positivo de uma noite que ficaria marcada pelo desaguisado entre a televisão pública e os músicos. “Dum festival que nasceu torto, é no mínimo gratificante dizer-se que morreu redimido, ou seja, que venceu uma canção digna, bem estruturada e bem interpretada”, podia ler-se no início da peça.