Há 90 anos, nascia a personagem de animação com mais sucesso em todo o mundo, o Mickey. Podia ter sido uma vaca? Podia, mas Walt Disney e Ub Iwerks, os seus criadores, quiseram que o ícone do estúdio de animação fosse um rato. Em 1928, chegou mudo e a preto e branco. Foi sofrendo transformações e vendo nascer o seu próprio grupo de amigos. Nove décadas e muitos milhões depois, o rato mais famoso do mundo já não é só uma personagem infantil, é um ícone cultural e um símbolo do capitalismo norte-americano.
Afinal, quando é que vimos o Mickey pela primeira vez?
“Parece que foi ontem” não será a melhor expressão para recordar a estreia de Mickey, no dia 18 de novembro de 1928. Produzida pela Walt Disney na primavera desse ano, a personagem animada fez a sua primeira aparição no filme Steamboat Willie, uma curta-metragem de animação com menos de oito minutos, realizada por Ub Iwerks (que teve de trabalhar em segredo, pois ainda tinha contrato com a Universal) e pelo próprio Walt Disney. Mais do que a estreia oficial de Mickey e da sua namorada, Minnie, o filme foi também a primeira animação com som sincronizado produzida pelos estúdios.
Mas a história do Mickey começa meses antes. Embora tenha chegado ao grande público através do filme de novembro de 1928 — para todos os efeitos, a sua estreia oficial — o famoso rato já tinha protagonizado uma outra curta-metragem, em maio desse mesmo ano. Plane Crazy era um filme de animação mudo com seis minutos e também já trazia Minnie no papel de coprotagonista. Fita chegou a ser apresentada em sala, mas acabou por não despertar o interesse de nenhum distribuidor. Walt Disney terá canalizado a sua frustração na produção de uma segunda curta-metragem, The Gallopin’ Gaucho. Também mudo, o filme foi finalizado em agosto de 1928. Não conseguiu distribuidor, acabando por ser relançado numa versão sonorizada, já depois de Steamboat Willie. O mesmo aconteceu com Plane Crazy, que em março de 1929, chegou ao grande ecrã já com som. Em todos eles, Walt Disney deu voz a ambas as personagens.
Oswald the Lucky Rabbit: a Disney antes do Mickey
Provavelmente, sem Oswald não haveria Mickey. As personagens com figura de animais estavam claramente na berra — Felix the Cat tinha aparecido em 1919 e o Krazy Kat, do cartoonista George Herriman, tinha começado a aparecer nas páginas dos jornais em 1913. Já chegava de gatos. Desenhado por Walt Disney e por Ub Iwerks, Oswald the Lucky Rabbit apareceu pela primeira em setembro de 1927 e ficou para a história como a primeira personagem animada do Walt Disney Studio. As semelhanças são flagrantes. Oswald e Mickey são praticamente iguais, só muda a forma das orelhas.
O sucesso foi imediato, logo com a banda desenhada de estreia, com o título Trolley Troubles. O estúdio dos irmãos Disney aumentou a equipa, para não falar nos investimentos feitos no ramo petrolífero e na aquisição de um terreno de quatro hectares no deserto. Enquanto isso, Ub Iwerks optou por investir em mecanismos para obtenção de pigmento. As suas fórmulas foram utilizados pelos animadores do estúdio durante décadas. No ano seguinte, Walt Disney tentou renegociar o contrato com o seu distribuidor, Charles Mintz. Sem um entendimento, o estúdio acabou por abrir mão da personagem. Pouco tempo depois, esta foi relançada pelos Universal Studios, que inicialmente haviam encomendado Oswald à dupla de criativos. Foi no esforço de substituir o famoso coelho que Disney e Iwerks criaram Mickey nesse mesmo ano.
Podia chamar-se Mortimer e ser um cavalo? Podia
Durante o processo de desenvolvimento da nova personagem, foram muitas as tentativas, antes de chegar ao Mickey que hoje conhecemos. Os primeiros esboços ficaram a cargo de Iwerks, que fez alguns testes com cães e gatos e que chegou também a desenhar uma vaca, que veio mais tarde a dar origem à personagem Clarabelle, um cavalo, futuro Horace Horsecollar, e um sapo. Mas foi o rato de estimação de Walt Disney a inspirar Iwerks. Quando estava tudo pronto para batizar a nova personagem com o nome Mortimer, foi Lillian, a mulher de Walt, a insistir para que o nome fosse mudado. Mickey acabou por surgir como ideia mais unânime. Mais tarde a inspiração foi reclamada pelo ator Mickey Rooney, que começou a sua carreira na série Mickey McGuire, em 1927, e veio afirmar ter conhecido Walt Disney nessa mesma altura.
Em 90 anos, quantas plásticas fez o Mickey?
Fazendo jus ao seu estatuto de estrela de Hollywood, o Mickey já passou por algumas transformações. Contrariamente às vedetas de carne e osso, essas modificações não estiveram relacionadas com a idade, foram tentativas de fazer dele uma personagem cada vez mais carismática e, claro, mais comercial. Em 1929, no filme The Opry House, Mickey aparece, pela primeira vez, com luvas brancas, possivelmente porque aparece a tocar piano. Depois dele, outras personagens de animação seguiram a mesma dica de styling, do Bugs Bunny ao Super Mario.
Apesar de nunca terem sofrido alterações, os dedos do Mickey já foram acesamente discutidos. Com quatro dedos em cada mão, a questão teve direito a um esclarecimento da própria Disney. “Artisticamente, cinco dedos eram demasiado para um rato. A mão dele ia parecer um cacho de bananas. Financeiramente, ter menos um dedo em cada um dos 45.000 desenhos que compõem uma curta de seis minutos e meio fez o estúdio poupar milhões”, justificou a empresa.
Dez anos depois da sua primeira aparição, Fred Moore redesenhou o corpo do rato, substituindo a silhueta arredondada por um tronco mais alongado. Apesar do nervosismo de Moore, Walt Disney gostou do retoque. “É assim que quero que o Mickey seja desenhado a partir de agora”, afirmou Walt, na altura, segundo o livro do jornalista Neal Gabler, Walt Disney: The Triumph of the American Imagination. Pela mão do mesmo designer e também em 1938, o Mickey deixou de ter tez branca com que veio ao mundo e que manteve, mesmo depois da sua estreia num filme a cores em 1932.
Mas nenhuma outra parte do corpo de Mickey é tão imediatamente reconhecível do que a sua cabeça e orelhas. Redondas desde o primeiro dia, nos anos 40 as orelhas começaram a ser animadas numa perspetiva mais realista. Mais tarde, começaram a ser desenhadas de forma a serem sempre redondas, independentemente do ângulo em que a personagem surgisse, como se fossem tridimensionalmente redondas.
Os 90 anos do rato mais famoso do mundo
Mais do que um ratinho animado, o Mickey é uma marca registada que rende milhões à Walt Disney. Qualquer utilização da sua imagem está dependente da autorização da empresa, o que não tem impedido dezenas de marcas, em todo o mundo, de pôr a personagem ao serviço da moda, da decoração e da tecnologia. Com os 90 anos vem também a natural celebração. Das grandes cadeias de pronto-a-vestir a designers e marcas de culto, por estes dias, mais do que nunca, o Mickey é uma figura apetecível. Reunimos algumas sugestões de compras para celebrar o 90º aniversário da personagem a rigor.