He Jiankui, o cientista chinês que anunciou ter trazido ao mundo as primeiras bebés geneticamente modificadas, está desaparecido, noticia o South China Morning Post. O antigo responsável pela comunicação do investigador negou que He Jiankui tivesse sido detido pelas autoridades — há rumores de que está em prisão domiciliária –, mas uma porta-voz da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China disse que a possibilidade dessa detenção era “imprecisa”.

He Jiankui desapareceu depois de a Comissão de Saúde Nacional da China ter aberto uma investigação às experiências do cientistas, que modificou os genes de dois embriões para torná-los imunes ao vírus da imunodeficiência humana, responsável pela sida. He Jiankui tem sido apelidado de “Frankenstein chinês” e o Ministério da Ciência e Tecnologia do país adjetivou s experiência do cientista de “extremamente abominável”.

De fazer bebés à medida a outras polémicas da edição genética (mas também coisas boas)

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O investigador tinha regressado à China no âmbito do The Thousand Talents Plan, um programa criado em 2008 pelo governo da China para recrutar especialistas internacionais para investigações pioneiras em várias áreas do conhecimento. A 26 de novembro, He Jiankui anunciou ter usado uma inovadora ferramenta de edição genética, o CRISPR-Cas9, para modificar o gene de embriões que torna os humanos passíveis de serem infetados pelo VIH. Duas bebés geneticamente modificadas nasceram, uma delas imune à infeção.

He Jiankui falou dessas experiências à Associated Press em vésperas da Segunda Cimeira Internacional sobre Edição Genética Humana em Hong Kong. A última vez que o cientista foi visto foi precisamente nessa cimeira, quando deu mais pormenores sobre como é que as alterações genéticas foram feitas e anunciou que havia mais uma mulher grávida de um bebé geneticamente modificado — embora essa gravidez ainda fosse muito recente.

He Jiankui devia ter discursado na última quinta-feira à tarde noutra sessão da mesma cimeira, mas nunca chegou a aparecer. E não é visto desde então. A página do laboratório em que as experiências foram desenvolvidas, e onde se podia aceder a pormenores científicos sobre elas, também não pode ser acedida desde o final da semana passada.

O Ministério da Ciência e Tecnologia chinês mandou suspender todas as investigações científicas em que He Jiankui estivesse envolvido. “A China proibiu o uso reprodutivo de edição em genes de embriões humanos. A experiência [de He Jiankui] violou leis e regulamentos na China”, disse Xu Nanping, vice-ministro da Ciência e Tecnologia. Segundo ele, o ministério está “firmemente contra” as experiências com bebés geneticamente modificados e promete punir os investigadores que tenham trabalhado com He Jiankui.

Desde a tomada de posição do governo chinês, He Jiankui  foi proibido de participar do do 15º Prémio de Ciência e Tecnologia da China para Jovens Cientistas. Essa proibição foi confirmada por Huai Jinpeng, chefe do partido da Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia e organizador desse evento. “O projeto é desprezível e prejudicou a imagem da comunidade científica e tecnológica da China”, afirmou Huai Jinpeng.

Entretanto, o Conselho de Ética para as Ciências da Vida de Portugal condenou o anúncio dessa modificação genética: “Embora não existindo prova científica suficiente e fiável de que o anúncio feito pelo investigador [He Jiankui, da Universidade de Shanzen] corresponda à efetiva concretização do que afirma ter sido realizado, a gravidade do propósito levou a comunidade científica internacional, através de instituições idóneas e respeitadas, a condenar os ‘resultados científicos’ e a essa condenação associa-se o Conselho”, refere o documento divulgado esta segunda-feira.