Vários jornalistas, considerados “os guardiões da verdade”, são os eleitos da revista Time como a “Figura do Ano” de 2018. Entre eles Jamal Khashoggi, mas também Maria Ressa, a fundadora do site Rappler, o Capital Gazette e Kyaw Soe Oo e Wa Lone, dois jornalistas que foram presos sete anos por noticiaram a morte de minorias Rohingya.
“Os guardiões e a guerra pela verdade” é o tema escolhido pela conceituada publicação norte-americana que, todos os anos, elege a “Figura do Ano” numa edição especial da revista.
Jamal Khashoggi é o primeiro jornalista a ser referido no artigo da Time. O antigo cronista do Washington Post foi assassinado a 2 de outubro deste ano por sauditas. Khashoggi era um feroz crítico do regime da Arábia Saudita. A morte do jornalista foi notícia em todo o mundo e criou um conflito diplomático entre os Estados Unidos da América e o país árabe.
“Não consigo respirar”, repetiu Khashoggi antes de ser assassinado
Maria Ressa, uma mulher da Filipinas de 55 anos, foi escolhida por ter fundado o Rappler. A publicação tem contado os casos de abuso de poder do presidente Rodrigo Duterte que já levaram à morte de 12 mil pessoas numa implacável guerra contra o tráfico de drogas. A jornalista enfrenta uma pena de prisão de 10 anos depois de ter sido acusada por fraude fiscal na criação do site de notícias e o governo filipino continua sem reconhecer Ressa como jornalista dando-lhe uma acreditação para exercer oficialmente a profissão.
Mesmo depois de cinco funcionários, quatro jornalistas e um assistente de vendas, do jornal norte-americano Capital Gazette Communications terem sido mortos num tiroteio no final de junho, foi publicada uma edição no dia após o incidente. Pela resiliência da equipa do jornal, a Time escolheu o Capital Gazette como um destes “guardiões” por continuar a fazer jornalismo.
Jornal americano Capital Gazette publica edição horas após tiroteio na redação
Por fim, a Time nomeou Kyaw Soe Oo e Wa Lone, dois jornalistas da Reuters que “continuam separados das mulheres e dos filhos”, ao estarem presos por sete anos por noticiarem a morte de 10 pessoas de minoria islâmica dos Rohingya. Os assassinos destas pessoas foram condenados a 10 anos de prisão.
Muçulmanos rohingya continuam a ser vítimas de genocídio na budista Myanmar
A Time cita ainda outros exemplos de “guardiões”, como Shahidul Alam, um fotógrafo do Bangladesh que foi preso por 100 dias por fazer comentários “falsos e provocatórios” a criticar o primeiro-ministro Sheikh Hasina. Outro exemplo é o da jornalista brasileira Patricia Campos Mello, que foi ameaçada depois de ter relevado que vários apoiantes do presidente Bolsonaro financiaram uma campanha de notícias falsas pelo WhatsApp.
Como refere a Time, “este devia ser um tempo em que a democracia avança, com cidadãos informados essenciais para que o governo funcione. Em vez disso, [a democracia] está em retrocesso”.
No passado, já foram também escolhidas múltiplas personalidades num único ano como Bill e Melinda Gates (2005), Ronald Reagan e Yuri Andropov (1983) ou William Andres, Frank Borman e Jim Lovell (1968).
*Em atualização