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Um santo Natal é aquele em que o chef vai cozinhar lá a casa

Este artigo tem mais de 5 anos

Seja para o jantar de amigo secreto ou para a consoada, a Supper Stars tem soluções natalícias de chef ao domicílio. O Observador experimentou e houve "sous-vide" numa cozinha da Venda Nova.

Pedro Viana, o chef que pode ir cozinha a sua casa e que leva uns quantos truques
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Pedro Viana, o chef que pode ir cozinha a sua casa e que leva uns quantos truques

Pedro Viana, o chef que pode ir cozinha a sua casa e que leva uns quantos truques

Como num conto sombrio de Dickens, a época mais maravilhosa do ano esconde sempre os seus pequenos pesadelos. Um deles, muitas vezes, é o jantar de Natal com amigo secreto. Seja pela dificuldade de encontrar em Dezembro uma data que não esteja já ocupada por outro jantar do género, seja pelo desafio de comprar uma prenda no “valor máximo de 5€”, seja até pelo receio de voltar a receber um talão do Euromilhões daquela pessoa que nunca sabe o que oferecer aos outros.

Ou seja, já basta o que basta. Mas e se, no meio disso tudo, depois de já ter temerariamente voluntariado a casa para receber as pessoas nessa espécie de pré-consoada da amizade, alguém lhe disser que há uma forma de não ter de se preocupar com mais nada? A refeição pode aparecer feita. Mais do que isso: a refeição pode aparecer feita com entrada, prato principal, sobremesa, e ser servida sem que tenha de se levantar da mesa. Ou ainda: a refeição é feita lá em casa por um chef, é servida e no fim a cozinha fica toda arrumada. Agora, o tal talão do Euromilhões continua a soar tão mal?

Não é preciso esperar por um milagre de Natal para que uma opção destas exista. A Supper Stars, um serviço que anda já há uns tempos a pôr chefs a cozinhar na casa das pessoas, entrou em modo natalício e preparou menus especiais para estas ocasiões – e até para a consoada, para o dia de Natal, para a passagem de ano, além de vouchers com jantares destes para oferecer ou workshops personalizados com receitas de Natal.

A partir de 35€ por pessoa – a pagar por uma só pessoa com alma de Pai Natal ou a dividir por todos, uma solução que o serviço facilita –, o chef vai lá a casa, prepara a comida, põe tudo na mesa e, no fim, deixa a cozinha como encontrou. E cada amigo secreto só tem de se preocupar com o seu amigo secreto, como aconteceu no jantar testado por este artigo, que, mais uma vez como um conto de Dickens (ou, aliás, como uma refeição), tem de começar pelo início.

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Entrada

No menu, o nome da entrada é ovo a baixa temperatura com cebola frita e óleo de trufa, o que já deixa adivinhar alguma coisa. Mas na narrativa a verdadeira entrada aconteceu pelas 18h30, com o chef Pedro Viana a tocar à campainha e a entrar pela casa com uma assistente e uma caixa preta enorme nos braços. Esse é aquele momento da reformulação mental: aquela cozinha que é nossa vai passar a ser de outra pessoa. E não vale a pena ir de cinco em cinco minutos perguntar se precisam de ajuda – experiência própria.

Depois de responder às perguntas iniciais, e mesmo depois do pânico de se perceber que não se tem oito pratos de sobremesa iguais, andar pela cozinha é ser um empecilho. O que, curiosamente, não é assim tão fácil de explicar ao cão, sobretudo quando há cheiro a carne de porco no ar.

Passado um bocado, e depois de terem ido vestir as respetivas jalecas, o chef e a assistente já sabem onde está tudo. E até têm uma palavra amiga para uma varinha mágica que já conheceu melhores dias: “Nas cozinhas profissionais ainda é pior, algumas até estão coladas com fita-cola, não se preocupe.” É um fraco consolo, mas não deixa de ser um consolo.

Agora, considerando que se consegue habituar depressa à visão de uma caixa cheia de água com uma máquina de sous-vide a cozinhar ovos no meio da cozinha, é seguir para a sala e preparar a mesa. Também podiam ter sido eles a preparar, claro, e até a trazer a loiça, mas a cada extra se acrescenta um preço, e há certas ginásticas de composição de espaços pequenos para muitas pessoas que não se quer deixar em mãos alheias. O mesmo vale para as garrafas de vinho, que neste caso vão chegando com os convidados.

Tudo isto foi marcado e combinado no dia anterior. Aliás, foi literalmente marcado de um dia para o outro, reportagem oblige. “Assim até nos dá a oportunidade de mostrar que reagimos depressa”, brinca Tiago Ribeiro, da Supper Stars, durante a conversa preparatória, não sem antes ter feito um rol de perguntas difíceis de responder para pessoas sem preparação gastronómica mais cuidada: “Preferem carne, peixe, marisco, vegetariano…? Querem comida portuguesa, japonesa, chinesa, indiana…? O menu é a pensar num Natal mais clássico, em comida tradicional, comida mais moderna…?”

Como o espírito era experimentar, a solução é deixar que o serviço decida, ainda que também se possa fazer logo a seleção de chef e do menu através do site. Mas podem mesmo ser eles a propor tudo, naquilo a que a Supper Stars chama o Serviço Concierge, com a ressalva de que, depois de haver um menu proposto, é sempre possível fazer ajustes à medida.

Prato principal

Mais uma vez, o prato tem uma descrição oficial: porco estufado lentamente com puré de batata doce e chutney de maçã. Mas para efeitos da história, consideremos aqui que o prato principal desta experiência é a estranha tranquilidade de se estar a jantar em casa sem ter de estar sempre a ir à cozinha dar a última mexida no tacho ou a encher travessas para levar para a mesa.

Além da comida, o chef trouxe um papel com o menu e uma pequena biografia para colocar ao lado do guardanapo. Está devidamente apresentado, e os comensais, que se tinham mentalizado inicialmente para uma moamba feita pelos anfitriões, vão reajustando as expectativas. Afinal, um quiabo não tem o impacto de um óleo de trufas. Ou da própria trufa: “Trazemos sempre alguma surpresa para estas refeições, e neste caso decidi acrescentar lascas de trufa à entrada.”

A surpresa, na verdade, depois de a conversa distrair toda a gente da presença de alguém de fora na cozinha, foi a primeira entrada do chef com os pratos na mão (o couvert não conta para o efeito dramático, ainda que esteja incluído) – silencioso, à espera que a festa que já vai na mesa repare nele, e a aguardar por uma aberta para dar mais alguma informação sobre a comida antes de servir. Mas depois é só começar a comer e a estranheza passa.

Antes de tudo isto, algumas questões já tinham ficado esclarecidas numa segunda conversa telefónica, agora com o chef. “Alguém tem alguma coisa contra trufas?”, perguntou ele. “Só há preconceitos com cogumelos, por causa da alergia da uma das convidadas.” Fora com os cogumelos, e ainda um pequeno desvio no prato principal para um adolescente pouco dado a experimentações com alta cozinha. O serviço está habituado a pensar em alternativas para casos particulares, e até para crianças. E lá se juntou um neutro peito de frango à caixa preta que haveria de entrar pela casa mais tarde, à hora combinada.

Segundo Tiago Ribeiro, ainda há muitas possibilidades de marcação para Dezembro. A rede Supper Stars inclui 50 chefs (quando tudo começou, no início de 2017, eram apenas 20) e está pelo país todo, além de estar já a planear em 2019 a expansão para Espanha. E até era bom ter mais aventuras para contar sobre tudo o que se passou na cozinha durante o jantar, mas para isso era preciso não estar toda a gente na sala a comer descontraidamente. Independentemente do que tenha acontecido, o chef e a assistente desenrascaram-se. E até encontraram umas taças que há muito tempo não eram avistadas.

Sobremesa

Aqui, chegou a altura de entrar em cena o bolo cremoso de chocolate ruby com gelado de travesseiro de Sintra. Ou, em modo de conclusão deste nosso conto gastronómico de Natal, a altura de se entrar nos procedimentos finais da refeição.

Teve de ser o chef a explicar o que é afinal chocolate ruby, algo que, por erro da reportagem, devia ter ficado esclarecido logo no início da refeição, para garantir maior discernimento no registo da informação. Mas resumindo: foi lançado na Bélgica em 2017, é feito a partir de um grão de cacau diferente, é cor-de-rosa e sabe bem. Já o gelado de travesseiro de Sintra – está tudo no nome, é feito com travesseiro de Sintra, massa estaladiça e tudo. Um dos comensais, que tinha noutra ocasião experimentado gelados do chef Pedro Viana numa geladaria-laboratório que este teve em Alvalade, já tinha garantido que seria assim.

E como uma boa história nunca acaba sem ter o seu momento de tensão, foi mesmo na sobremesa que veio menos um prato para a mesa. Porém, tudo está bem quando acaba bem, ou pelo menos quando depois de se ver pelo reflexo o chef a esbracejar um pouco na cozinha ele lá aparece com o prato em falta.

A magia, essa, acontece mesmo na hora da despedida, quando se entra na cozinha e já está tudo arrumado, incluindo o chão lavado com a esfregona que terá sido desencantada por milagre (ou encontrada na despensa). Já não há caixas cheias de água a cozinhar ovos, nem panelas cheias de comida em cima do fogão. Só barrigas cheias e um cão que até já se tinha afeiçoado ao chef. Estão de saída, e levam o lixo.

O resto, que pode ou não ter incluído uma garrafa de whisky e um bolo-rei às 3h da manhã, já fica fora do âmbito da reportagem, mas nunca fora do âmbito de um feliz Natal.

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