Impossível
De Catarina Sobral (Orfeu Negro). 14,50€
Não é por acaso que as personagens do novo livro de Catarina Sobral estão de olhos esbugalhados e ar espantado. Afinal, do que estamos a falar é da formação do universo, e ela parece ter sido simplesmente Impossível. Criado a partir do espectáculo com o mesmo nome, o livro recua quase 14 mil milhões de anos, “quando tudo estava no mesmo sítio” e esse sítio era do tamanho de “um minúsculo ponto final”, e viaja entre partículas, estrelas, telescópios e dinossauros. Não à velocidade da luz, mas de forma a interessar — e deixar de olhos bem esbugalhados — uma criança a partir de quatro anos.
Supõe
De Alastair Reid e JooHee Yoon (Bruáa). 16€
Todas as páginas começam pela palavra “supõe” e têm em comum um enorme sentido de humor. Às vezes são suposições muito curtas — “supõe que ensinava o meu cão a ler” –, outras muito longas e escritas de um fôlego, como os miúdos quando estão a contar coisas, demasiado entusiasmados para usar sinais de pontuação: “Supõe que construía o meu foguetão e ia até à lua mas não gostava muito e voltava para casa sem dizer nada a ninguém e me ria sozinho quando as outras pessoas falavam sobre isso.” Alastair Reid não precisa de supor: escreveu de facto um livro divertido, cheio de ideias estapafúrdias, nenhuma delas óbvia.
Telefone Sem Fio
De Yara Kono (Planeta Tangerina). 12,50€
Como no velhinho jogo, em Telefone Sem Fio há uma frase que é dita ao ouvido e passa de boca em boca, em segredo. É uma frase simples — “hoje há festa na casa do Tiago” — que vai dar azo a uma série de variações, todas ilustradas e divertidas. Um livro que é também uma homenagem à riqueza e vivacidade das palavras. Lido em voz alta com os miúdos quase podia ser um rap.
O Olharapo
De Benji Davis. (Orfeu Negro) 14,50€
“Ai, ai, se o Olharapo vem / E estás em casa sem ninguém… / Aquilo que se foi esconder / Não é o que aparenta ser.” É assim, de uma forma bem assustadora, que começa o mais recente livro de Benji Davis publicado na coleção Orfeu Mini. A ladainha serve de ponto de partida para uma história escrita em rimas e cheia de suspense, onde o autor de A Baleia explora o medo do escuro e do papão. Um livro de terror para crianças? Nada disso. Antes uma bela surpresa, com direito a reviravolta no final.
As Palavras que Fugiram do Dicionário
De Sandro William Junqueira e Richard Câmara (Caminho). 14,90€
Quantas palavras existem num dicionário? O escritor Sandro William Junqueira, que as conhece bem, conseguiu inventar mais 23, num livro imaginativo e com sentido de humor. Três exemplos: alfabelo (“a pessoa que organiza alfabeticamente a beleza, para que seja mais fácil encontrá-la no meio das coisas feias”), esquecedor (“aparelho que aquece as pessoas esquecidas”) e orelheiras (“manifestação física de uma pessoa que está muito exausta de ouvir”). É fazer uma nova edição revista do dicionário de língua portuguesa e começar a usá-las.
Maria Nêspera
De Patrícia Martins e Joana Miguel (Fábula). 12,99€
Para além das duas autoras, três gerações de mulheres estão dentro de Maria Nêspera. Todas têm raízes e todas podem criar sementes. Neste caso, é a geração do meio que conta a história, com uma mãe a dirigir-se à filha para recordar a nespereira que tinha junto à casa da avó, e a relação especial com ambas. Uma história comovente de perda mas também de amor e crescimento, sobre aquilo que muda mas também o que permanece.
Parco
De Alex Nogués e Guridi (Akiara). 13,90€
Desafio número 1: como falar sobre a morte com os miúdos? Desafio número 2: como transformar um tema tão negro num conto alegre? Parco traz a resposta, com um protagonista que é um esqueleto e acabou de morrer. Alex Nogués escolheu transportar a história para o México, e percebe-se porquê: “Se existe uma cultura em que as pessoas se aproximam de um modo festivo dos seus mortos, é, sem dúvida, a mexicana”, escreve o autor no guia de leitura incluído no final. Assim, com mariachis, rancheras e humor negro à mistura, acompanhamos Parco desde o momento em que se resolve levantar do caixão, revoltado, até perceber que pode ter morrido mas continua presente na memória dos filhos e da mulher.
Aqui Estamos Nós
De Oliver Jeffers (Orfeu Negro). 15€
Aqui Estamos Nós tem um dedicatória especial. É o primeiro livro que Oliver Jeffers escreveu para o filho, enquanto procurava uma forma de lhe explicar “o sentido de tudo isto”. “Estas são as coisas que eu acho que precisas de saber”, resume o autor nessa dedicatória. Uma forma modesta de apresentar todo um programa de como viver no planeta chamado Terra, escrito e ilustrado de forma ao mesmo tempo direta e comovente. No estilo bem-humorado do autor premiado, há muitas setas a identificar tudo, do fundo do mar ao cume das montanhas. Afinal, Jeffers está a explicar coisas tão essenciais como a diferença entre o dia e a noite, ou a importância de tratar bem as pessoas e o planeta, a alguém para quem é tudo novo. Nesse processo, torna-se quase tudo novo para nós também.
Lisboa Divertida — Livro de Atividades
De Andreia Ribeiro e Alberto Faria (Caminho das Palavras). 9,90€
É apresentado como “uma passagem secreta para uma Lisboa diferente” e é de facto um livro especial. O divertido do título também não está lá por acaso, com uma série de atividades que desafiam os mais pequenos a atravessar um labirinto para ajudar Camões a encontrar o olho que perdeu em África, por exemplo, a contar os pombos em cima da estátua do cauteleiro ou a desenhar um teto para o Convento do Carmo. Uma visita guiada original que passa por outras paragens emblemáticas da capital como a ponte 25 de Abril, o Oceanário, o Cristo-Rei ou o Museu dos Coches. Com mais um extra cómico: um marcador Martim Moniz, assim entalado no livro (e não na porta do Castelo dos Mouros).
E o Prémio Vai Para…
De Lily Murray e Ana Albero. Jacarandá (13,90€)
Em vez do tradicional “era uma vez”, este livro começa com uma salva de palmas. Ao longo das suas 80 páginas, serão atribuídas 50 medalhas a 50 personalidades “que mudaram o mundo”. Artistas, atletas, ativistas e pioneiros, a lista inclui homens e mulheres inspiradores, de Gandhi a Beethoven, Cleópatra a Pelé. Cada um tem direito ao seu próprio prémio — há até um “Prémio Atribuição de Prémios” para Alfred Nobel — e a um resumo biográfico ilustrado. A par dos clássicos obrigatórios — Einstein, Picasso, Pasteur, Confúcio e Da Vinci, para citar alguns — há algumas escolhas surpreendentes e contemporâneas como Ellen Degeneres, David Bowie ou J. K. Rowling. Portugal também tem direito a um laureado, neste caso uma mulher: Antónia Rodrigues, a “Cavaleira Portuguesa” que, no final do século XVI, e com apenas 12 anos, se disfarçou de rapaz para combater e defender o país dos mouros.
Animais Selvagens do Sul
De Dieter Braun (Orfeu Negro). 25€
Depois de Animais Selvagens do Norte, Dieter Braun viaja até à outra metade do planeta com mais um álbum de capa dura. Dos “tórridos recantos tropicais” da América do Sul às profundezas do oceano da Antártida, passando pela aridez do deserto africano, são mais 144 páginas de grande formato ricamente ilustradas. E o melhor é que não são só bonecos — metade dos animais representados vem acompanhada de pequenos textos recheados de curiosidades. Exemplos? Os machos das avestruzes rugem como os leões; as araras são monogâmicas e mantêm-se fiéis ao mesmo companheiro a vida toda (sendo que podem viver até aos 70 anos); o pescoço das girafas tem o mesmo número de vértebras dos humanos (sete) e as preguiças merecem mesmo o nome que têm — quando não se querem mexer para comer folhas, alimentam-se das próprias algas que lhes crescem na pelagem. BBC Vida Selvagem para os mais pequenos encherem a cabeça e os olhos.
Viagem ao Património Português
De Rita Jerónimo e Alberto Faria (Fábula). 14,99€
De Guimarães a Tavira, Viagem ao Património Português percorre 18 localidades do país para mostrar algumas das nossas maiores riquezas. Não faltam as vinhas do Douro, as gravuras rupestres de Vale do Côa, a universidade de Coimbra, os mosteiros de Alcobaça e da Batalha ou o cante alentejano. Todas as escolhas — 23 ao todo — têm em comum terem sido reconhecidas pela UNESCO como património cultural e são percorridas através do guião escrito pela antropóloga Rita Jerónimo, que imaginou a viagem de dois netos com os seus avós. Educativo e visualmente apetecível, graças às ilustrações coloridas de Alberto Faria.
A Construção do Mundo
De Fábio Monteiro e Mariana Rio (Livros Horizonte). 13,60€
A Construção do Mundo venceu o Prémio Literário Branquinho da Fonseca 2017, mas podia vencer também o prémio originalidade. Porque é de facto uma ideia original que atravessa toda a história: a ideia de que os dias não nascem mas sim de que o mundo é montado diariamente. Pelo menos é essa a visão do narrador criado por Fábio Monteiro, cujo pai acorda às cinco da manhã para pôr as nuvens no céu, com a ajuda de uma grua. O tio António é o responsável por puxar o sol pelo guindaste, e por aí fora, numa homenagem ao universo da imaginação e à relação entre pai e filho.
Terra! Planeta Fantástico
De Stacy Mcanulty e David Litchfield (Booksmile). 13,99€
São 4,54 milhões de anos em 40 páginas, com direito a cronologia e fotos do álbum de família. A história da Terra, ou “terceiro calhau a contar do Sol”, contada pela própria de forma humanizada e acessível. Resumidamente, está cá tudo: o sistema solar, a rotação à volta do sol, a formação dos continentes e o aparecimento da vida. Com um alerta final, bem encaixado, sobre a necessidade de cuidarmos bem do nosso planeta.
Plasticus Maritimus
De Ana Pêgo, Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina). 17,90€
É uma espécie exótica e invasora que se encontra em todos os mares e zonas costeiras do mundo. Pode apresentar-se sob uma grande variedade de formas e em todas as cores. Em geral, desloca-se fácil e rapidamente, em função dos ventos e correntes. Nome científico? Plasticus maritimus, uma designação inventada pela bióloga Ana Pêgo e agora também o título de um livro sobre o problema do plástico nos oceanos, ilustrado por Bernardo P. Carvalho. Um guia de campo, como os biólogos fazem quando querem identificar determinadas plantas e animais, para falar desta “espécie invasora” que representa já 80% do lixo que existe nos oceanos e que ameaça sobrepor-se aos peixes em 2050. Objetivo: sensibilizar para um uso mais sensato dos plásticos (metade usados apenas uma vez) e levar à mudança. Tudo com uma linguagem acessível, sugestões concretas e o grande mérito de tornar um dos maiores problemas e desafios do nosso planeta acessível a uma criança de oito anos.
Oh não, Sebastião!
De Chris Haughton (Orfeu Negro). 9,90€
Chris Haughton começa a ser uma autoridade nos chamados board books, isto é, livros impressos em papel muito grosso, normalmente quadrados, ideais para bebés dos zero aos três anos e por isso mesmo à prova de rasgões e de arremessos (quem sabe até dentadas). Oh não, Sebastião! é o terceiro livro a ser editado na coleção Orfeu Mini com esse formato e, tal como os anteriores — Mamã? e Boa Noite a Todos — conta uma história simples mas eficaz: a história de um cão que só se quer portar bem mas não consegue resistir às tentações. De tal forma que, página após página, a expressão “oh não, Sebastião!” revela-se, mais do que um título, um refrão.
O Urso, o Piano, o Cão e o Violino
De David Litchfield (Fábula). 13,99€
Não é só uma sequela, começa a ser uma banda. Depois de O Urso e o Piano, bonita estreia de David Litchfield em Portugal (e também o seu livro mais famoso e premiado), o autor e ilustrador britânico regressa com uma nova história de amizade a partir de um animal com dom para a música. Neste caso, o protagonista é um cão chamado Hugo, que se revela um prodígio com um violino nas patas, ao ponto de suplantar o dono, violinista na reforma. À semelhança do primeiro título, regressam as ilustrações ricas, a tradução da escritora Luísa Costa Gomes e o tema da amizade — aqui novamente desafiada pelo sucesso inesperado e a distância.
João Timoneiro
De Madalena Moniz (Orfeu Negro). 14,50€
João e Tim são os melhores amigos, mas são muito diferentes. Um é indeciso, o outro destemido, um tem boas ideias, o outro põe-nas em prática, um é tímido, o outro corajoso. Juntos são melhores e complementam-se, neste livro sobre a amizade que Madalena Moniz imaginou e ilustrou como um sonho, com pinceladas etéreas que levam os dois amigos a subir árvores, atravessar rios, navegar no dorso de baleias ou até dormir com ursos.
Porque Choramos?
De Fran Pintadera e Ana Sender (Akiara). 13,90€
Mais um livro poético na Akiara, a editora de Inês Castel-Branco, desta vez para responder à pergunta Porque choramos?, colocada por um menino à mãe. Uma reflexão que ensina a aceitar as lágrimas em todas as suas dimensões, com textos minimais e ilustrações deslumbrantes, e com direito a um desafio original no final: imaginar a história de três lágrimas vistas ao microscópio — todas elas diferentes porque, aprendemos também, não há duas lágrimas iguais.
Alto, Baixo, Num Sussurro
De Romana Romanyshyn e Andriy Lesiv (Orfeu Negro). 19,90€
Romana Romanyshyn e Andriy Lesiv escolheram um suporte silencioso para falar de um tema barulhento: o som. Com a ousadia venceram o prémio Bologna Raggazzi 2018 na categoria Não-Ficção e fizeram esta enciclopédia ilustrada (em tons bem fluorescentes). Como não poderia deixar de ser, há várias definições — de eco a decibéis — e onomatopeias. Uma sinfonia que nos ajuda a despertar para os sons do nosso próprio corpo, para a música mas também para a necessidade do silêncio.