João Teixeira de Faria, médium brasileiro mais conhecido como João de Deus, está a ser acusado de ter abusado sexualmente de mais de 200 mulheres. Esta quarta-feira o Ministério Público de Goiás (MPGO) pediu a prisão preventiva do homem que ganhou fama mundial após ter recebido nomes como Oprah Winfrey, Michel Temer, Dilma Rousseff e Lula da Silva. João de Deus está a ser investigado pela Polícia Civil por alegadamente ter cometido crimes sexuais durante os atendimentos espirituais realizados na Casa Dom Inácio de Loyola, na Abadiânia, município brasileiro do interior do estado de Goiás, escreve o G1.

O escândalo que envolve o famoso líder espiritual — e que até já chegou ao britânico The Guardian — rebentou na madrugada de sábado, no passado dia 8 de dezembro, no programa da TV Globo “Conversa com Bial” — desde então o paradeiro de João de Deus era desconhecido, já que o médium apenas fez a primeira aparição pública na manhã de quarta-feira, tendo afirmado diante dos fiéis que era inocente.

Brasil. Várias mulheres acusam médium de abuso sexual durante atendimento espiritual

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A primeira denúncia — à qual centenas mais se seguiram — foi feita pela coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, que no programa “Conversa com Bial”, emitido na última sexta-feira, revelou o abuso sofrido por João de Deus de maneira a encorajar outras as mulheres a falarem.

“Espero poder ajudar outras mulheres a saírem dessa sombra, porque nós não precisamos de sentir vergonha. Ele é que tem de sentir vergonha. E todas as pessoas que o protegem para que ele continue fazendo o que faz”, disse durante a entrevista. O apresentador Pedro Bial e a jornalista Camila Appel entrevistaram 10 mulheres que relataram ter sofrido abusos às mãos do médium. Numa nota enviada pela assessora de imprensa de João de Deus lê-se que o médium “rejeita veementemente qualquer prática imprópria nos seus atendimentos”.

No programa de televisão, a holandesa contou que foi convidada para uma consulta particular com o médium, que a levou para uma casa de banho e se posicionou atrás dela. O relato, feito durante a entrevista e citado pelo G1, foi feito com bastante detalhes: “ele agarrou na minha mão direita e colocou-a nas calças dele. E eu fiquei… Porque é que isso está a acontecer? Porque é que tenho que tocar no pénis dele para ser curada? Ele tem um sofá grande no banheiro. Ele levou-me até lá. (…) Ele abriu as calças e colocou a minha mão no pénis dele. (…) Fiquei em choque”.

Tendo em conta os relatos feitos por algumas mulheres, João de Deus tinha um modus operandi: depois dos atendimentos espirituais coletivos, o médium convidava as mulheres a procurá-lo na sua sala, alegando que tinham sido “escolhidas para receber a cura”. Nesse contexto, estando sozinhas com o médium, as mulheres seriam violentadas sexualmente.

No mesmo programa participou também um “coach espiritual” norte-americana que encaminhava pessoas em peregrinação para a Casa Dom Inácio de Loyola desde 2002. Amy Biank contou que apanhou João de Deus a forçar uma jovem a fazer sexo oral: “Vi que ele estava com as calças abertas, ela estava ajoelhada. Ela não queria fazer sexo oral, foi por isso que gritou”. A coach espiritual disse ainda que quem trabalha com o médium tem conhecimento dos abusos, embora não diga nada por receio de represálias. “É um homem muito poderoso.”

Desde que a primeira denúncia foi feita que outros relatos têm vindo a público: entre os relatos de abuso sexual há casos de violação e outros em que as vítimas eram menores de idade à data do sucedido — o Globo revela uma caso de uma vítima que foi violada por João de Deus cerca de dez vezes quando tinha apenas 11 anos. Os casos terão ocorrido desde a década de 1980 até outubro do ano passado. O G1 afirma que o Ministério Público está a reunir as denúncias, que se têm multiplicado após o primeiro relato de abuso sexual. A procuradora de justiça do estado de São Paulo, Silvia Chakina, já veio pedir para que todas as vítimas se cheguem à frente e denunciem o médium.

Ao jornal Metrópoles, voluntários da Casa Dom Inácio de Loyola, que João de Deus fundou na Abadiânia há mais de 30 anos, numa altura em que já era conhecido como curandeiro, garantiram que a igreja vai continuar em funcionamento: “podem prender o padre, mas não fechar a igreja”.