A Ordem dos Médicos quer obrigar os hospitais onde decorre a “greve cirúrgica” a divulgar os dados das operações adiadas, para se saber quantos doentes foram afetados, quais as patologias e estado de gravidade.
Em declarações à agência Lusa, o bastonário dos Médicos indicou que ainda esta sexta-feira vai enviar um ofício aos conselhos de administração dos cinco hospitais onde decorre a greve dos enfermeiros, a pedir acesso aos dados “ao abrigo da lei que regula o acesso a documentos administrativos e a informação administrativa”. Esta situação foi hoje transmitida pelo representante dos médicos à ministra da Saúde.
Miguel Guimarães quer que os hospitais divulguem à Ordem o número de cirurgias adiadas como consequência da greve dos enfermeiros, desde o início da paralisação e até esta sexta-feira, o nível de prioridade de cada cirurgia e a patologia de cada doente.
O bastonário pede ainda que seja indicada a data de inscrição de cada doente no sistema de gestão de cirurgias, para se saber quanto tempo o doente esperou até uma cirurgia que viu ser adiada, bem como a data de reagendamento da operação ou a indicação de que não houve ainda reagendamento.
Segundo Miguel Guimarães, de acordo com a lei, os hospitais terão dez dias para responder a este pedido.
“Continuo a ter queixas de médicos destes hospitais onde a greve decorre que estão desesperados e preocupados com os seus doentes. Tenho relatos de casos de doentes prioritários que não estão a ser operados, disso tenho a certeza, só não sei quantos”, afirmou o bastonário à Lusa.
No princípio da greve dos enfermeiros, que começou há um mês, Miguel Guimarães tinha apelado ao Ministério da Saúde e aos hospitais para que divulgassem os casos dos doentes com cirurgias adiadas em consequência da greve.
“Este apelo não foi correspondido”, lamenta, adiantando que espera que não seja necessário “que aconteça uma desgraça maior para que alguém venha depois defender esta divulgação”.
Miguel Guimarães considera fundamental que os portugueses saibam a realidade do que está a acontecer, “sem alarmismos”.
“Com toda a legitimidade que a ‘greve cirúrgica’ tenha, os portugueses têm o direito de saber o que está a acontecer. Devia ser uma obrigação”, afirmou o bastonário.
O representante salienta ainda que o conhecimento da informação oficial é importante também porque têm havido “informações contraditórias”.
“Há declarações públicas a dizer que está tudo mal e uns dias depois a dizer que está tudo bem. Isto não é razoável”, afirmou, escusando-se a identificar a que declarações em concreto se estava a referir.
A greve em blocos operatórios de cinco hospitais público decorre desde 22 de novembro e termina no final do mês, tendo provocado o adiamento de pelo menos cinco mil cirurgias segundo o Governo e acima de sete mil, de acordo com os enfermeiros.