Tem “zero” ambições de vir a ser um partido e prefere ficar no “back office”. Mas não é por isso que o Movimento Europa e Liberdade (MEL) deixa de andar lado a lado com os partidos a pensar uma “alternativa para um outro ciclo político” que fuja à esquerdização do regime. Na próxima semana, nos dias 10 e 11 de janeiro, o MEL vai organizar a sua primeira convenção e conta com uma vasta lista de personalidades afetas à direita da direita e à direita da esquerda. António José Seguro chegou a estar confirmado como orador de um dos painéis, mas fonte da organização confirmou ao Observador que desmarcou “à última hora”. Já Rui Rio foi o nome escolhido para o discurso de abertura, mas não respondeu aos convites e, ao que tudo indica, não vai participar. “É um bocadinho coxo não termos alguém da direção do maior partido português”, lamenta Paulo Carmona, um dos organizadores.
Não será na Aula Magna, mas sim na Culturgest, igualmente em Lisboa. No resto, há pontos em comum. Enquanto os encontros da Aula Magna, organizados por Mário Soares em 2013, juntavam vários representantes da esquerda portuguesa para “Libertar Portugal da Austeridade” ou para “defender a Constituição, a Democracia e o Estado Social”, a 1ª Convenção da Europa e da Liberdade procura ser uma espécie de estados-gerais da direita juntando todos aqueles que querem uma alternativa num outro ciclo político. É aqui que entram personalidades socialistas, como o eurodeputado Francisco Assis, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, ou o deputado Paulo Trigo Pereira, agora não-inscrito — tal como no clube da Aula Magna entrava um social-democrata, Pacheco Pereira.
“É uma plataforma que tenta juntar todos os que querem lutar por uma melhor Europa e pela liberdade, por isso não excluímos ninguém a não ser aqueles que preconizam intolerâncias à direita e à esquerda”, disse ao Observador Paulo Carmona, um dos dinamizadores do MEL que está a organizar o evento, explicando que, tendo “zero” aspirações a vir a tornar-se um partido, o Movimento procura ser “uma ponte entre os vários partidos para pensarem o futuro do país, da Europa e do mundo”.
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Segundo os detalhes do programa, durante dois dias vão passar pela Culturgest diversas personalidades distribuídas por painéis temáticos. No painel dedicado ao “sistema político”, estarão nomes como o ex-líder do PSD e atual comentador Luís Marques Mendes, o antigo líder dos democratas-cristãos José Ribeiro e Castro, o ex-secretário de Estado do governo de Passos Coelho e constitucionalista Pedro Lomba, assim como deputado Paulo Trigo Pereira, que foi eleito nas listas do PS mas que recentemente se desvinculou tornando-se deputado independente. Num painel mais económico contará com uma introdução do ex-ministro da Economia Álvaro Santos Pereira, e noutros painéis estarão nomes como o centrista Adolfo Mesquita Nunes, ou os sociais-democratas Pedro Duarte, Miguel Pinto Luz e Miguel Morgado — todos considerados críticos da atual direção e putativos candidatos à liderança do PSD.
Também Luís Montenegro, que se posicionou como crítico assumido de Rui Rio no congresso de fevereiro, estará presente, num painel dedicado às “novas realidades europeias e mundiais”. A dividir o palco com ele estará o ex-líder do CDS Paulo Portas, o eurodeputado socialista Francisco Assim e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros socialista Luís Amado. Era neste painel que estava prevista a presença de António José Seguro, tal como noticiado pela Visão, mas ao que o Observador apurou, o ex-secretário-geral do PS não estará presente — e não vai ser substituído. “Disse-nos à última hora que afinal não ia conseguir estar presente”, afirmou ao Observador Paulo Carmona.
Assunção Cristas fará uma intervenção no encerramento, e Pedro Santana Lopes (agora líder do Aliança) será o convidado para fazer o discurso de abertura do segundo dia de trabalhos. Até Marcelo Rebelo de Sousa, cuja presença estava por confirmar, deverá antes “gravar uma mensagem” para ser exibida no encerramento da convenção.
Rio não respondeu à chamada, críticos de Rio vão estar em peso
Quem não vai estar presente é o presidente do PSD, Rui Rio, e não terá sido por falta de convite. “Convidámos insistentemente o presidente do PSD para vir abrir a convenção, na qualidade de líder do maior partido português, mas não obtivemos resposta”, disse Paulo Carmona, acrescentando que “a ideia não era pôr Rui Rio num painel com discussões, era fazer um discurso de estadista na abertura dos trabalhos”.
Segundo o dinamizador do Movimento Europa e Liberdade, os contactos feitos via e-mail e via chefe de gabinete de Rui Rio não deram em nada. “Mantemos o lugar em aberto, e se não vier Rui Rio pelo menos que viesse alguém da direção”, disse ainda, explicando que esse mesmo pedido foi encaminhado à direção do PSD, mas igualmente sem resposta. O Observador contactou a assessoria de imprensa de Rui Rio para confirmar o convite, mas até ao momento também não obteve resposta.
Sem Rui Rio no discurso de abertura, nem rioístas nos painéis de debate (segundo o organizador do evento também foi pedido ao PSD que indicasse nomes para integrarem as discussões temáticas), a quota social-democrata é inteiramente preenchida pelos habituais rostos anti-Rio, que se posicionam para a linha da frente no pós-2019: Luís Montenegro, Pedro Duarte, Miguel Morgado, Miguel Pinto Luz. A estes nomes acresce o do crítico de domingo, Luís Marques Mendes. A convenção terá a esta altura cerca de 200 pessoas inscritas, de acordo com Paulo Carmona.