A maioria dos estudos é consensual: ao todo, quase seis milhões de judeus terão sido mortos durante o Holocausto, um número que corresponde a cerca de um terço de toda a população judia mundial à altura. Aquilo que um novo estudo vem revelar traz, contudo, uma nova dimensão a esta chacina: a de que um quarto dessas pessoas terão sido mortas em apenas três meses, o ritmo de matança mais rápido alguma vez registado durante todo o século XX.
Foi essa a conclusão a que chegou Lewi Stone, especialista em matemática biológica da Universidade de Tel Aviv, no seu estudo Quantifying the Holocaust: Hyperintensekill rates during the Nazi genocide (“Quantificando o Holocausto: taxas de morte hiper-intensas durante o genocídio Nazi”) publicado esta quarta-feira na Science Advances.
A Operação Reinhard, nome com que ficou conhecido o período mais intenso de mortes em campos de concentração levadas a cabo pelas forças nazis (1942-1943), tornou-se “a maior campanha de homicídio do Holocausto”, de acordo com o estudo de Stone. De acordo com os cálculos do investigador, 1,7 milhões de judeus terão sido mortos nesta altura, 1,5 deles em apenas três meses, a um ritmo de cerca de 15 mil pessoas por dia. A maioria morreu nas câmaras de gás dos campos de Belzec, Sobibor e Treblinka.
“Tirando umas poucas exceções, as vítimas eram transportadas para os campos da morte e eram rapidamente assassinadas assim que chegavam, nas câmaras de gás, dando a este sistema aperfeiçoado pelos nazis todas as características de uma linha de montagem”, analisou o responsável do estudo, em entrevista à Newsweek. “Ia caindo para o lado”, confessou o académico sobre o momento em que compreendeu a dimensão deste plano de morte.
O facto de o massacre ter ocorrido numa janela de tempo tão pequena e envolto em tanto secretismo fez com que os judeus não tivessem hipótese e com que a possibilidade de criar uma resistência organizada fosse muito difícil”, resumiu Lewi Stone.
Os nazis destruíram todos os registos da Operação Reinhard, o que tornava até agora difícil ter noção da dimensão da Operação. Stone recorreu aos registos do historiador Yitzhak Arad, que compilou informação de 480 viagens de comboio com judeus deportados para os campos de Belzec, Sobibor e Treblinka durante este período. Com base nesses dados e nas estimativas do número de pessoas que seguiam a bordo, o investigador da Universidade de Tel Aviv chegou ao cálculo de 15 mil pessoas mortas por dia.
A confirmarem-se estes números, isto significa que mais pessoas foram mortas por dia neste período de tempo do que no genocídio do Ruanda, cuja taxa de assassínios está calculada em cerca de oito mil pessoas por dia, ao longo de apenas 100 dias. Ou, por outras palavras, significa que mais pessoas morreram por dia durante estes três meses do que em qualquer outro genocídio do século XX.