A máquina perfuradora já começou a furar o solo para tentar facilitar o resgate do pequeno Julen, caído num poço em Totalán (Málaga) no passado domingo. Contudo, com uma previsão de cerca de 35 horas de trabalho, as autoridades espanholas explicam agora que só deverão alcançar a criança de dois anos na próxima segunda-feira. O atraso dos trabalhos, que inicialmente deveriam ser concluídos este sábado, deveu-se ao embate das máquinas com um maciço rochoso inesperado — um dos vários elementos que, a par da chuva, complicam toda a operação.

O maciço rochoso de ardósia foi a última das complicações encontradas pelas equipas de resgate, como relata o El Español. As condições meteorológicas são outro dos problemas já que, de acordo com a Agência Estatal de Meteorologia espanhola, a chuva chegará implacável a Totalán a partir do final da tarde de sábado. Embora as previsões apontem para uma precipitação moderada, há 100% de probabilidades de chover, valor que desce para os 30% na tarde de domingo.

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A chuva complica os trabalhos, explicou ao ABC Ángel García Vidal, representante da Associação de Engenheiros de Estradas e Minas de Málaga e responsável pelos trabalhos. Isto porque pode ter influência na escavação do terreno — o que significa que, idealmente, essa fase da operação deveria estar terminada antes da chuva começar em força.

Far-se-ão valas e condutas para que o problema seja o menor possível”, explica o engenheiro.

Estes são os últimos obstáculos da operação de resgate, que tem enfrentado muitas dificuldades. Na sexta-feira já tinha sido encontrada uma outra massa rochosa que fez interromper os trabalhos. Antes disso, conta o El País, as curvas da estrada que dá acesso ao local tornaram mais lenta a chegada da máquina perfuradora. “Não podemos mudar o terreno, é o que é”, afirmou García Vidal, que deixou claro que não é possível trazer mais maquinaria. “Só estorvaria”, disse ao mesmo jornal.

A principal perfuradora, de 75 toneladas, só chegou na manhã de sexta-feira, vinda de umas obras em Madrid. Quatro pessoas seguiram com a máquina — em vez das duas habituais — para tentar acelerar o trajeto. Agora, o processo de perfuração do solo deve demorar entre 12 a 15 horas — mas isto apenas se houver “condições muito favoráveis”, ou seja, sem efeitos negativos da chuva nem massas rochosas de rocha inesperadas.

O resgate de Julen fica por isso adiado, provavelmente até à madrugada de segunda-feira. As equipas no local, contudo, continuam motivadas e com esperança de poder encontrar o menino de dois anos com vida, muito embora as possibilidades de tal acontecer sejam muito baixas. “É como se o Julen fosse filho de todos nós. Se o seu filho estivesse ali ia lá por ele, não é?”, resume García Vidal sobre o estado de espírito no local.

Julen pode mesmo sobreviver tantos dias no poço? E o plano de resgate pode funcionar?

As imagens fulcrais: a “zona zero” do resgate e a última fotografia de Julen, tirada perto do poço

Os jornais espanhóis desdobram-se entretanto para tentar dar um retrato fiel da situação no local, em Málaga. Depois de muito descrever o local e a operação, o El Español conseguiu entretanto ter acesso a uma fotografia do chamado “ponto zero”, o local onde a perfuração teve início.

De acordo com o jornal, o local situa-se 25 metros abaixo da zona onde se localiza o poço em que Julen caiu — e que tem uma profundidade de mais de 70 metros. A estratégia é a de furar para construir uma espécie de poço lateral e, ao atingir a profundidade onde se crê que Julen estará, fazer descer oito mineiros especialistas que abrirão um túnel horizontal para tentar chegar ao menino.

Julen foi visto pela última vez no domingo passado, por volta das 14h (hora local, 13h em Lisboa). Os pais e outros membros da família estavam com ele, a preparar uma paella, numa propriedade de pessoas próximas da família onde se andavam a realizar algumas obras, entre elas aquela onde estava o buraco por onde a criança caiu. A mãe afastou-se para atender uma chamada telefónica e o pai distraiu-se por momentos a cozinhar — foi o suficiente para que Julen se afastasse da vista dos dois e acabasse por cair no poço.

Esta é a reconstituição feita pela Guardia Civil, com base nos testemunhos dos pais e numa prova fotográfica: uma imagem de Julen, a comer umas batatas fritas, naquela mesma propriedade. Foi tirada por um familiar momentos antes do acidente e divulgada pelo jornal El Mundo, que teve acesso a ela.