Se acordou esta manhã e se arrependeu de não ter assistido ao eclipse lunar total desta madrugada, nada tema: ficámos acordados por si e resumimos os principais acontecimentos da noite em cinco pontos. A Super Lua Vermelha de Lobo acabou às 07h48, com a Lua a ficar completamente fora da sombra da Terra. O fenómeno durou cinco horas e 12 minutos.

Esta foi a última Lua Vermelha da década

O espetáculo astronómico desta madrugada resultou da conjunção de três fenómenos lunares: a chegada da Lua ao perigeu, que é o ponto mais próximo que vai assumir ao longo do percurso à volta da Terra; a passagem da Lua pela zona mais escura da sombra terrestre; e a entrada do nosso satélite natural na fase de Lua Cheia. Daqui resulta uma Super Lua, que além de ser 14% maior e 30% mais brilhante também foi Vermelha (ou de Sangue) e a primeira Lua Cheia do ano (ou de Lobo).

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Ora, a Super Lua Vermelha de Lobo chegou a altas horas da noite de domingo para segunda-feira e arrastou-se mais ou menos desde as 2h30 de segunda-feira até perto das 8h da manhã. Foi uma noite fria e longa, mas conquistou os mais curiosos e corajosos apaixonados pela astronomia, que tiveram de suportar temperaturas negativas e geada em alguns pontos do país. Mas valeu a pena: este foi o único eclipse lunar total do ano. Mais do que isso: foi também a única Lua Vermelha da década. Para ver outra como esta há que esperar até 26 de maio de 2021. E nem sequer será visível em Portugal.

O eclipse foi seguido em (quase) todo o mundo

Só meio mundo pode assistir ao eclipse desta noite, descrito como único porque é apenas o terceiro com estas características a acontecer nos últimos dois séculos. Portugal esteve na rota no fenómeno, assim como todo o continente americano. Houve partes do mundo que puderam assistir a partes do eclipse, mas não do primeiro ao último minuto como os portugueses. Para compensar, puderam ver as fotografias tiradas por quem passou toda a noite de olhos postos no céu.

As fotografias começaram a surgir cedo, logo após o nascimento da Lua. Essa foi a melhor fase para observar a Super Lua: o nosso satélite natural entrou em fase de Lua Cheia às 05h16 — pouco depois do pico do fenómeno e umas horas antes de fazer a segunda maior aproximação à Terra deste ano. A melhor altura para ver o resultado foi durante o ocaso, quando o céu foi dominado por uma Lua que nos pareceu 30% mais brilhante e 14% maior. Recorde aqui as fotografias.

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Claro que o espetáculo ainda estava longe de começar. O eclipse só deu o primeiro passo pouco antes das 02h40 e só terminou quando eram quase 07h50. No entanto, foi às 05h12 que pudemos ver o pico do fenómeno — o momento em que a Lua, já mergulhada na umbra terrestre, ficou plenamente vermelha. Chegaram-nos fotografias de todo o país, mas também do México, dos Estados Unidos e do Uruguai. Veja as primeiras imagens aqui em baixo.

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Houve outro eclipse esta noite

A Lua foi a figura principal desta madrugada, mas houve uma personagem secundária que também mereceu atenção dos astrónomos: Algol, que também passou por um eclipse que pode ser visto a partir da Terra. Aproveitando que estava toda a gente de olhos e, em alguns casos, binóculos e telescópios pregados no céu, os astrónomos aproveitaram para espreitar o brilho de Algol a diminuir durante o fenómeno.

Mas este não foi um eclipse qualquer porque Algol também não é uma estrela como a nossa. Também chamada de Beta Persei por ser a segunda estrela mais brilhante da constelação de Perseus, Algol é, na verdade, um sistema binário. Isto significa que é composto por duas estrelas que orbitam uma em volta da outra. Quando uma delas passa em frente à outra, o brilho diminui e isso pode ser detetado a partir da Terra.

Na verdade, essa transição é bastante comum e pode ser observada muitas vezes a partir do nosso planeta. Algol, também chamada por alguns de “Estrela do Demónio” é uma das mais bem conhecidas estrelas variáveis do céu noturno. Numa situação normal brilha com uma magnitude de +2.1. No entanto, a cada dois dias, 20 horas e 49 minutos, o brilho diminui para uma magnitude de +3.4 e permanece assim durante 10 horas. Isso acontece por uma das estrelas eclipsa a outra e tapa a luz que chegaria até nós. Desta vez, esse fenómeno aconteceu no mesmo dia do eclipse lunar de esta madrugada.

O eclipse inspirou piadas nas redes sociais

Por mais atentos que os internautas estivessem ao que se passava lá fora — havia dois eclipses para apreciar e a oportunidade de ver Júpiter e Vénus a nascer — houve vários que não resistiram a fazer humor com o que se passava no céu. A madrugada trouxe muitos memes.

Houve quem brincasse com a avalanche de fotografias que se esperava após uma noite de espetáculo astronómico. E tinha razões para isso, como comprovam as fotogalerias feitas ao longo da noite pelo Observador com a colaboração de astrofotógrafos portugueses e estrangeiros.

https://www.facebook.com/185018085534141/photos/a.209091209793495/246624676040148/?type=3

Em Portugal esteve bom tempo. A meteorologia ajudou quem quis ver o último eclipse da década e afastou as nuvens em quase todo o país para que os mais curiosos pudessem apreciar o fenómeno. Mas não foi assim em todo o lado.

https://twitter.com/wvdes/status/1087126922461675521

A lógica de um eclipse lunar é observar como a sombra da Terra impede que o Sol ilumine a superfície da Lua como normalmente acontece durante uma Lua Cheia. Ora, acontece que essa lógica assenta num princípio: que esses astros são redondos, como de resto está cientificamente provado. Mas as provas científicas não têm convencido toda a gente e levou ao surgimento de grupos que acreditaram que a Terra é plana. Nesse caso, como seria então um eclipse como o desta noite? Como este internauta imagina.

https://twitter.com/98volts/status/1086974683101216769

Já houve tempos, quando o conhecimento científico não era tão evoluído como é atualmente, em que fenómenos como o desta noite era motivo de medo. Hoje sabemos que um eclipse é o que acontece a um astro quando é tapado pela sombra de outro corpo celeste. Mesmo assim, há quem acredite que esse fenómeno astronómico tem significados astrológicos. E a Internet não resistiu a fazer humor com isso.

As brincadeiras com as palavras também foram aproveitadas nos memes desta noite. Se o eclipse lunar também pode ser chamado de Lua Vermelha, por que não adaptar a nomenclatura aos objetos de escritório? Foi mais uma anedota repescada do Twitter.

https://twitter.com/murilsss/status/1087148958085009408

No Brasil, o eclipse lunar foi uma boa desculpa para fazer piadas políticas. Neste artigo humorístico, ironiza-se com a prisão de Lula da Silva, antigo presidente brasileiro, e diz-se que conseguiu acompanhar o fenómeno através da janela na cela onde está desde que foi detido. E a vista é algo como a desenhada no meme aqui em baixo.

https://twitter.com/revista_ezame/status/1087059073739251712

É um meme antigo, mas muito típico das noites de Super Lua. Este internauta diz que colou uma fatia de mortadela na janela para fingir que estava a ver um eclipse. Assim podia escapar da longa noite que o eclipse exigiu dos aficionados por astronomia.

https://www.facebook.com/185018085534141/photos/a.185066832195933/246766762692606/?type=3&theater

A Lua vai farejar a Terra ao fim do dia

O espetáculo astronómico do ano terminou às 7h48, meros minutos antes de o Sol surgir e trazer o dia de regresso ao país. Mas, desta vez, o eclipse lunar total chegou com uma espécie de afterparty: mais logo, quando forem 19h59 de segunda-feira, a Lua vai chegar ao perigeu. E vai fazer a segunda maior aproximação à Terra de 2019.

Tal como a Terra gira em torno do Sol, a Lua também anda sempre em redor do nosso planeta. Mas a trajetória que o nosso satélite natural percorre em torno da Terra não é um círculo perfeito: por vezes aproxima-se mais de nós e outras vezes afasta-se do planeta. Quando a Lua está mais próxima de nós, então está no perigeu; mas quando está mais longe está no apogeu. É o primeiro caso aquele que vai acontecer no final do dia. No entanto, apesar de esta ser a última Lua Vermelha da década, não será a última Super Lua até aos anos 20. Nem sequer será a única de 2019. Haverá mais duas, uma a 19 de fevereiro e outra a 21 de março. Em fevereiro, a Lua estará a 356.846 qulómetros da Terra e em março a 360.772 quilómetros. Esta segunda-feira, ficará a 357.715 quilómetros de nós.