Sim, as escolas privadas continuam a ocupar os 10 primeiros lugares dos rankings das escolas de terceiro ciclo, mas isto quando as escolas são ordenadas pela nota das provas nacionais do 9.º ano. Se o critério forem os percursos de sucesso — alunos que não só tiveram positiva nas provas finais, como também tinham passado do sétimo para o oitavo e do oitavo para o nono sem chumbarem — o ranking está melhor distribuído: cinco públicas e cinco privadas.
Com base nos rankings construídos pelo Observador, com a Nova School of Business and Economics (Nova SBE), apresentamos-lhe seis tabelas para conhecer os melhores e os piores resultados nas escolas públicas e privadas. Em todas as tabelas vai poder comparar o lugar dado pelo ranking das notas nas provas e o ranking dado pelos percursos de sucesso. Se quiser ter uma visão mais geral dos rankings ou encontrar uma escola específica, veja as listas completas aqui.
Ranking das provas de 9.º ano dominado pelo privado
Com uma média das provas finais do 3.º ciclo superior a 87%, a Academia de Música de Santa Cecília (Lisboa) ocupa o primeiro lugar do top geral das escolas. Logo atrás segue-se uma longa lista de escolas privadas. Para encontrar a primeira pública é preciso, como veremos, chegar à posição 18, onde a média das provas já fica abaixo dos 80%.
O que significa que o top 10 geral é, na prática, o top 10 das privadas e inclui quatro colégios do Porto. Da leitura dos dados salta ainda à vista que a média das notas dos exames nestas escolas foi sempre superior à média das notas internas atribuídas pelos professores, pela avaliação contínua.
Escolas de música entre as melhores públicas
Se pegarmos no ranking geral e isolarmos os primeiros 100 lugares, ainda de acordo com a média das provas finais do 9.º ano, o cenário está longe de ser positivo para o ensino público. Dessas 100 escolas, apenas 21 são públicas.
E se, apenas com essas, fizermos um top 10, encontramos duas particularidades: a lista inclui, por exemplo, três escolas artísticas e a Escola do Porto da Cruz, no Machico (Madeira), que já tinha sido uma surpresa nos rankings do ano passado, com um segundo lugar, e que voltou a manter-se no top 10.
As tabelas das escolas públicas (com exceção das escolas das ilhas) também têm dados de contexto, tais como se os alunos têm direito a apoio da ação social escolar ou quais as habilitações académicas das mães. Neste último indicador, considerado relevante para o percurso escolar dos adolescentes e jovens, os resultados deste ano confirmam a tendência: as escolas com melhores notas nos exames são aquelas cujos alunos têm mães com a escolaridade mais alta.
No caso do top 10 do ensino público, as mães frequentaram, em média, o ensino superior.
No fundo da tabela das privadas, as médias são melhores que as piores públicas
Apesar de as escolas privadas ocuparem os primeiros lugares da ordenação com base nas provas finais, nem todas estão tão bem cotadas: há mais de 50 escolas abaixo do meio da lista. As escolas privadas representam 168 das 1.140 analisadas para este indicador.
Há, porém, um dado importante: se é verdade que as privadas com piores resultados tiveram médias negativas nas provas do 9.º ano (à volta dos 45/50%), é preciso dizer, ainda assim, que estão acima das médias (muito) negativas das escolas públicas do fundo da tabela (que não ultrapassaram os 35% nas provas).
Nas tabelas, além da média das notas das provas finais, em percentagem, também é apresentada a média das provas nacionais numa escala de 1 a 5, e a comparação com a média da nota interna (dada pelos professores no final do período e sem considerar as notas das provas).
Escolas públicas com piores notas têm maior número de alunos carenciados
O contexto económico dos alunos é um dos fatores que influenciam o percurso escolar que vão ter e as notas nas provas. Alunos mais carenciados têm, por norma, piores notas do que os adolescentes favorecidos. Olhar para os últimos 10 lugares do ranking feito com os resultados dos exames do 9.º ano — exclusivamente ocupados por escolas públicas — é confirmar essa tendência.
A maioria dessas escolas tem mais de 65% de alunos apoiados pela Ação Social Escolar. Uma delas, a Escola Básica Bairro do Padre Cruz, em Lisboa, chega quase aos 80%.
Também aqui se confirma a influência do nível de escolaridade da mãe. Ao contrário das 10 com os melhores resultados, em que as mães tinham, em média, formação superior, no fundo da tabela das escolas públicas as mães completaram, em média, apenas o 8.º ano.
[Os valores indicados nas tabelas para cada escola dizem respeito à média de anos de formação das mães, ou seja: 6 corresponde a 6.º ano, 12 a 12.º ano e todos os valores acima de 12 correspondem à frequência universitária.]
Públicas com melhor desempenho no ranking do sucesso
Os percursos diretos de sucesso (na tabela apresentados como “promoção do sucesso escolar”) são definidos como “a percentagem de alunos que não tiveram retenções nos 7.º e 8.º anos de escolaridade e, cumulativamente, obtiveram classificação positiva nas duas provas nacionais do 9.º ano, três anos após o ingresso no 3.º ciclo”, conforme o documento apresentado com base nos dados da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC) e Júri Nacional de Exames (JNE). Para este ranking foram comparadas 1.015 escolas.
Mas as tabelas apresentam também a progressão dos alunos, que mostra se determinada escola tem uma maior ou menor percentagem de estudantes a completar um percurso de sucesso do que a média das escolas com as quais os alunos se podem comparar. A vantagem deste indicador é que compara aquilo que é comparável, ou seja, alunos que têm o mesmo perfil à entrada no 7.º ano, como a nota do ciclo anterior ou o contexto sócio-económico.
Neste ranking, as escolas públicas têm um desempenho muito melhor do que no ranking que considera apenas as notas dos exames. O top 10 está, aliás, dividido exatamente ao meio.
Percursos com menos sucesso que no ano anterior
“Da análise dos dados apresentados, salienta-se a ligeira diminuição, em 2017/2018, da percentagem de percursos diretos de sucesso entre os alunos do 3.º ciclo do ensino básico”, lê-se no documento disponibilizado pelo Ministério da Educação. “Ao conjugar a avaliação interna com a avaliação externa, [o percurso direto de sucesso] é um indicador bastante robusto, que não premeia a retenção e, em simultâneo, mede o bom desempenho nas provas nacionais.” Quer isto dizer, que se uma escola chumbar alunos para só os melhores chegarem às provas no final do ciclo, pode conseguir melhor classificação no ranking das provas nacionais, mas não no do sucesso.
Nos últimos lugares da tabela do sucesso, há 7 escolas públicas. A que obteve o pior resultado, a Escola Básica Aviador Brito Paes, de Colos, Odemira, teve menos 30,42% dos alunos a completarem um percurso direto de sucesso do que a média das escolas com as quais se poderia comparar.
Português sobe, Matemática desce
Um dos dados que se destacam quando se compara o ano letivo 2016/17 e 2017/18 é que Português subiu a média e Matemática desceu. Já os percursos diretos de sucesso mostram que são mais frequentes nas raparigas do que nos rapazes e tanto maiores quanto menores as carências económicas, segundo os dados da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC) e Júri Nacional de Exames (JNE).
Os dados utilizados foram disponibilizados pelo Ministério da Educação, trabalhados pela Nova School of Business and Economics (Nova SBE) e interpretados pelo Observador.