Dia 22 de janeiro de 2008, 18 de junho de 2008, 10 de outubro de 2008, 21 de julho de 2009 e 12 de outubro de 2010. Foram estes cinco encontros que Ricardo Salgado marcou com José Sócrates, na altura primeiro-ministro, e anotou nas suas agendas pessoais, sendo a de 2008 mais tarde utilizada no âmbito do processo Monte Branco e as de 2019 a 2013 apreendidas no processo BES, revela a revista Visão (versão impressa). O Ministério Público (MP) suspeita ainda que o ex-banqueiro terá rasgado páginas dessas agendas, apagado dados e utilizado códigos em alguns encontros.

Os três primeiros encontros, revela o Correio da Manhã, estão sob suspeita no caso EDP, onde o MP investiga os benefícios de mais de 1,2 mil milhões de euros alegadamente concedidos à principal fornecedora de eletricidade no mercado por parte do ex-ministro da economia do Governo de José Sócrates, Manuel Pinho. O ex-líder do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (GES) terá realizado estas transferências, sendo suspeito de crimes de corrupção ativa e participação económica em negócio.

Caso EDP. Pinho recebeu meio milhão do GES quando era ministro. Ricardo Salgado vai ser arguido

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

José Sócrates garantiu que não era amigo de Ricardo Salgado e que apenas mantinha relações institucionais com o antigo “Dono Disto Tudo” (DDT) na qualidade de presidente do BES, mesmo depois de uma escuta no âmbito da Operação Marquês revelar que os dois poderiam ser mais próximos. Em resposta à Visão, o antigo primeiro-ministro confirma os cinco encontros com Salgado, mas garante que “todas estas audiências ocorreram a seu pedido”. 

Tanto quanto recordo, eram visitas institucionais em que se falava do desempenho do banco, dos seus resultados, das suas expectativas e que, invariavelmente, terminavam numa troca de impressões sobre a economia portuguesa”, disse ainda José Sócrates à Visão.

As agendas de Ricardo Salgado revelam ainda encontros com figuras com outros empresários e políticos, como é o caso do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente, de Mário Lino, ex-ministro das Obras Públicas, de Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças, e de Pedro Passos Coelho, ex-primeiro ministro. Já o nome de Manuel Pinho é o mais mencionado nas agendas: 40 vezes entre 2008 e 2013.

A Visão revela ainda que a nota mais enigmática presente na agenda de Salgado foi escrita a 1 de março de 2010 e envolve o nome do ex-ministro Manuel Pinho e do presidente da EDP, António Mexia: “750xxx/671277xx António Mexia EDP (Pinho)”. O MP acredita que haveria interesses comuns entre os três arguidos do processo do EDP.

A resposta de José Sócrates

Entretanto, num comunicado enviado para a comunicação social, o ex-primeiro-ministro já veio retificar algumas informações veiculadas pelo artigo da newsmagazine portuguesa. “Em síntese: não, nunca tive encontros frequentes com o Dr. Ricardo Salgado”, afirma Sócrates antes de esclarecer ainda que as visitas que teve (foram cinco no total, isso é confirmado pelo próprio ex-governante) era institucionais em que “se falava do desempenho do banco, dos seus resultados, das suas expectativas e que, invariavelmente, terminava numa troca de impressões gerais sobre a economia portuguesa.” Leia na integra todo o comentário de José Sócrates.

“Resposta as perguntas da Visão

Tenho a minha frente o mapa de audiências da residência oficial do Primeiro Ministro, o
que me permite responder com precisão a sua primeira pergunta: em 2008 recebi em
audiência o Dr. Ricardo Salgado três vezes – a 23 de janeiro, a 18 de junho e a 10 de
Outubro. Quanto a 2009 recebi-o duas vezes – a 21 de julho e a 12 de Outubro. Em
síntese: não, nunca tive encontros frequentes com o Dr. Ricardo Salgado.

No que respeita à segunda pergunta, todas estas audiências ocorreram a seu pedido.
Tanto quanto recordo, eram visitas institucionais em que se falava do desempenho do
banco, dos seus resultados, das suas expectativas e que, invariavelmente, terminava
numa troca de impressões gerais sobre a economia portuguesa. Eis tudo.

No entanto, e se me permite, gostaria ainda de acrescentar o seguinte: enquanto fui
Primeiro Ministro nunca fui ao gabinete do Dr. Ricardo Salgado, nunca fui a sua casa e
até ser eleito Primeiro- Ministro praticamente não o conhecia( enfim , recordo uma
audiência realizada a seu pedido enquanto fui Ministro do Ambiente). Desde que saí do
governo em 2011 nunca mais me encontrei ou falei ao telefone com ele, até que no verão
de 2014, três anos depois de sair do governo, ele me ligou – numa chamada feita por
engano. A ideia de uma pretensa proximidade pessoal entre mim e o Dr. Ricardo Salgado
é não apenas uma obra de pura ficção, mas uma inacreditável trapaça jurídica criada
para justificar o processo Marquês. Ah, e finalmente – não, nunca assisti a um jogo de
futebol no camarote do BES: conheci o Dr. Manuel Pinho a saída do estádio.

José Sócrates, em 19 de fevereiro de 2019″