Foi o vencedor da segunda semifinal da edição de este ano do Festival da Canção e o mais votado de um leque de finalistas apurados que inclui Surma, Mariana Bragada e o trio Frankie Chavez, Pedro Puppe e Madrepaz. NBC, rapper e cantor nascido em São Tomé e Príncipe que cresceu em Torres Vedras, concelho do distrito de Lisboa, contou ao Observador que não teve de pensar muito antes de aceitar o convite da RTP: “Pensei durante uns 15 minutos. A Joana [Tavares], a minha manager, ligou-me e disse-me: o Festival da Canção está a fazer-te um convite, queres aceitar? Eu disse: quero, claro. Sentei-me na sala e comecei a compor logo naquele dia“.

Com um percurso firmado inicialmente no rap — fundou com o irmão Black Mastah o grupo Filhos D1 Deus Menor, nos anos 1990 –, NBC, nascido Timóteo de Deus, tem evoluído na última década para uma mistura melodiosa mas interventiva de rap com soul. Foi essa a sonoridade que explorou no seu último álbum, Toda a Gente Pode Ser Tudo, e foi também isso que levou ao Festival da Canção, com o tema “Igual a Ti”.

A canção que mereceu mais pontos no somatório de votos de júri e público apela ao tratamento igual perante a diferença, “tem questões políticas” na sua génese e foi aceite sem qualquer resistência pela RTP, quis sublinhar o compositor, letrista e cantor: “Quando fomos à primeira reunião, foi-nos dito: estão aqui, isto é vosso, fazem o tema que quiserem. Para os músicos em Portugal, terem a hipótese de fazer o que querem sem estarem limitados por um contrato que impõe algo…”

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Sabia perfeitamente que a minha canção era perigosa porque falava de um tema que aborda questões políticas. Isso no Festival da Canção poderia ser um bocadinho sensível, mas ninguém me disse que não o podia fazer. A minha canção não foi cortada, não me cortaram as pernas”, apontou, visivelmente satisfeito.

Ser o mais votado desta segunda semifinal quer globalmente quer pelo público “deixa sempre aquele nervo”, diz NBC. “Mas é a tal coisa: não fiz nada que não faça nos meus concertos, fiz o que faço normalmente. A responsabilidade que a votação me dá é de manter o mesmo empenho, tanto no Festival da Canção como nos discos que se vão seguir e em tudo o mais. Isto sou eu: sou esta pessoa que esteve no Festival da Canção, não mudei nada”, referiu.

Sublinhando ainda a importância que o seu parceiro há vários anos Sir Scratch (presente nos estúdios da RTP) tem tido no seu percurso, NBC falou de uma “irmandade” com o rapper que faz com que desejem o sucesso um do outro, evoluam e possam estar juntos em Tel Aviv caso NBC “ganhe a final”. A importância de Sir Scratch, alertou, também se viu neste festival, com a reação que teve à interpretação de NBC: “Estava confiante, cantei bem, estava tudo ‘na batata’, mas chegar aqui e ele dizer ‘arrepiei-me’ fez-me ver que havia de facto uma possibilidade [de chegar à final]. É importante termos quem nos veja de fora, porque naquele momento em que atuamos é difícil vermo-nos. Às vezes fechamos os olhos e não conseguimos perceber se aquilo está a ter o impacto que queremos”.

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O cantor que já lançou discos a solo como Afro-Disíaco (2003) e Maturidade (2008) e que é autor de temas como “Espelho”, “Acorda”, “Dois”, “Homem” e “NBCioso” destacou ainda a importância do Festival da Canção como reflexo da música portuguesa e revelou satisfação por ter sido convidado enquanto compositor. “No rap, de onde venho, sempre elevámos a fasquia da língua portuguesa. Acho que este tema tem uma letra que nos alegra a todos enquanto portugueses”, apontou.

No próximo sábado, dia 2 de março, em Portimão, NBC voltará a cantar “Igual a Ti” e saberá se será ele o eleito para representar Portugal este ano no Festival Eurovisão da Canção.

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